João Assunção
Ribeiro* – Jornal i, opinião
O falhanço do
governo custou sofrimento e desespero. Custou divisão de famílias. Condenou à
pobreza muitos portugueses. Comprometeu a coesão social
Pedro Passos Coelho
tem de pedir desculpa aos portugueses. Afinal mais tempo não significa mais
dinheiro. Afinal há alternativa. Afinal 2013 não é o início da recuperação
económica. Afinal os resultados não estão em linha com o previsto. Aguarda-se o
corrupio de autojustificação de todos os que, para além do governo, tentaram
descredibilizar aqueles que, com paciência e sentido apurado do melhor
interesse nacional, defendiam e tentavam explicar o que estava em causa quando
se pedia mais tempo para cumprir as nossas obrigações internacionais. Uma coisa
é certa: o governo, ao reconhecer que falhou, transformou o Orçamento de 2013
em letra morta. “Credibilidade” é palavra que o governo não pode mais usar. Os
socialistas disseram, desde a primeira hora, que o cenário macroeconómico do
Orçamento era absolutamente irrealista e nada tinha de credível – disse mesmo
que era um Orçamento inexequível.
Os factos são
indesmentíveis: o governo falhou todas as previsões; o governo falhou os
objectivos que se propôs com o seu front loading fanático e irrealista; o
governo falhou a consolidação das contas públicas. O tempo que demoraram a
reconhecer o seu falhanço custou centenas de milhares de de- sempregados e de
falências. O governo, ao rever para o dobro a recessão deste ano, confirma que
estamos em plena espiral recessiva, como bem sinalizaram a oposição, os
parceiros sociais e o Presidente da República.
O falhanço do
governo custou sofrimento e desespero. Custou divisão de famílias. Condenou à
pobreza muitos portugueses. Comprometeu a coesão social.
O governo pôs o
país numa situação ainda mais difícil do que aquela em que estávamos por puro
fanatismo ideológico. O governo fracturou repetidamente o consenso social e
político. O governo compromete, todos os dias, as condições de governabilidade
da República Portuguesa.
O país precisa de
um completo realinhamento da sua estratégia de política económica e de
consolidação orçamental. O país precisa de inverter o seu rumo e deve defender
o quanto antes, perante a troika e perante os parceiros europeus, a
renegociação das condições de ajustamento com metas e prazos credíveis,
adequados à realidade económica e social do país e ao desempenho da economia
europeia e mundial; a renegociação do alargamento dos prazos de pagamento de parte
da dívida pública; a postecipação do pagamento de juros dos empréstimos
concedidos ao abrigo do programa de assistência financeira.
O que fica claro
para todos é que o governo falhou e, desorientado, tenta corrigir o tiro,
tardiamente, aproximando-se do consenso nacional em torno da necessidade de uma
trajectória de consolidação do défice orçamental com adopção de medidas
estruturais, conciliando rigor orçamental com crescimento económico.
Mas persistem
dúvidas sobre o que realmente se está a passar. Estaremos perante uma enorme
trapalhada e desorientação do governo? Ou estaremos perante uma profunda
manipulação antidemocrática, em que o que se assume em público difere do que se
diz em privado, e sobretudo perante parceiros europeus e credores? Estamos perante
incompetência ou perante pura instrumentalização dos portugueses num
experimentalismo social e político impróprio de uma democracia madura?
Pedro Passos Coelho
não pode ficar a meio da ponte. Nem pode ficar calado. Tem de prestar contas
pelo seu falhanço. Em qualquer caso, tem que pedir desculpa aos portugueses.
Afinal de contas, não seria a primeira vez.
*Político (PS)
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