quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

PEÇA DESCULPA!




João Assunção Ribeiro* – Jornal i, opinião

O falhanço do governo custou sofrimento e desespero. Custou divisão de famílias. Condenou à pobreza muitos portugueses. Comprometeu a coesão social

Pedro Passos Coelho tem de pedir desculpa aos portugueses. Afinal mais tempo não significa mais dinheiro. Afinal há alternativa. Afinal 2013 não é o início da recuperação económica. Afinal os resultados não estão em linha com o previsto. Aguarda-se o corrupio de autojustificação de todos os que, para além do governo, tentaram descredibilizar aqueles que, com paciência e sentido apurado do melhor interesse nacional, defendiam e tentavam explicar o que estava em causa quando se pedia mais tempo para cumprir as nossas obrigações internacionais. Uma coisa é certa: o governo, ao reconhecer que falhou, transformou o Orçamento de 2013 em letra morta. “Credibilidade” é palavra que o governo não pode mais usar. Os socialistas disseram, desde a primeira hora, que o cenário macroeconómico do Orçamento era absolutamente irrealista e nada tinha de credível – disse mesmo que era um Orçamento inexequível.

Os factos são indesmentíveis: o governo falhou todas as previsões; o governo falhou os objectivos que se propôs com o seu front loading fanático e irrealista; o governo falhou a consolidação das contas públicas. O tempo que demoraram a reconhecer o seu falhanço custou centenas de milhares de de- sempregados e de falências. O governo, ao rever para o dobro a recessão deste ano, confirma que estamos em plena espiral recessiva, como bem sinalizaram a oposição, os parceiros sociais e o Presidente da República.

O falhanço do governo custou sofrimento e desespero. Custou divisão de famílias. Condenou à pobreza muitos portugueses. Comprometeu a coesão social.

O governo pôs o país numa situação ainda mais difícil do que aquela em que estávamos por puro fanatismo ideológico. O governo fracturou repetidamente o consenso social e político. O governo compromete, todos os dias, as condições de governabilidade da República Portuguesa.

O país precisa de um completo realinhamento da sua estratégia de política económica e de consolidação orçamental. O país precisa de inverter o seu rumo e deve defender o quanto antes, perante a troika e perante os parceiros europeus, a renegociação das condições de ajustamento com metas e prazos credíveis, adequados à realidade económica e social do país e ao desempenho da economia europeia e mundial; a renegociação do alargamento dos prazos de pagamento de parte da dívida pública; a postecipação do pagamento de juros dos empréstimos concedidos ao abrigo do programa de assistência financeira.

O que fica claro para todos é que o governo falhou e, desorientado, tenta corrigir o tiro, tardiamente, aproximando-se do consenso nacional em torno da necessidade de uma trajectória de consolidação do défice orçamental com adopção de medidas estruturais, conciliando rigor orçamental com crescimento económico.

Mas persistem dúvidas sobre o que realmente se está a passar. Estaremos perante uma enorme trapalhada e desorientação do governo? Ou estaremos perante uma profunda manipulação antidemocrática, em que o que se assume em público difere do que se diz em privado, e sobretudo perante parceiros europeus e credores? Estamos perante incompetência ou perante pura instrumentalização dos portugueses num experimentalismo social e político impróprio de uma democracia madura?

Pedro Passos Coelho não pode ficar a meio da ponte. Nem pode ficar calado. Tem de prestar contas pelo seu falhanço. Em qualquer caso, tem que pedir desculpa aos portugueses. Afinal de contas, não seria a primeira vez.

*Político (PS)

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