Tiago Mesquita –
Expresso, opinião
"Eu não tive
nada a ver com os crimes, com a fraude do BPN e não aceito que me ponham nessa
situação", disse Franquelim Alves. "Desempenhei as minhas funções na
SLN com responsabilidade". "Estou perfeitamente à vontade para assumir
o que fiz".
Ora bem, senhor
Franquelim, proponho-lhe um exercício básico, nada complexo. Para coisas
complexas já chega a teia SLN/BPN.
Imaginemos que um
familiar seu, um primo direito, o Hernâni, por exemplo, decide depositar no BPN
todo o dinheiro que amealhou ao longo de uma vida de trabalho. Um depósito a
prazo puro com juro atractivo, bem acima dos valores praticados por outros
bancos, sem qualquer risco associado. Imagine que, meses mais tarde, o Hernâni
vem a saber que afinal o banco a quem confiou todo o dinheiro que possuía o
enganou, investindo, via SLN ( empresa da qual o primo Franquelim é
administrador) todo esse montante em activos de risco. O Banco Insular, também
da SLN do primo Franquelim, recebeu o dinheiro do desgraçado do primo intrujado
e este por lá ficou, desapareceu.
O BPN é
nacionalizado, limpo e vendido por meia dúzia de tostões. O seu primo perde
tudo. Os portugueses, entre eles o Hernâni, agora teso como um carapau, vão
pagar 7 mil milhões de euros graças à brincadeira. A SLN muda de nome e
continua com o lixo tóxico do BPN. O Estado, que prometeu pela boca do ministro
das finanças da altura ressarcir os danos causados aos clientes, nunca o chega
a fazê-lo. O Hernâni, desesperado, vai ter consigo e reclama. O senhor responde
com um "não sabia de nada, pá, eu era "apenas" um dos
administradores da holding detentora daquelas porcaria toda".
Diga-me agora,
senhor Franquelim, com que cara é que o seu primo iria olhar para si? E quando
o senhor lhe contasse, depois de tudo isto, que tinha sido convidado para ir
para o governo?
Explique-me, se faz
favor, com que cara é que os portugueses devem olhar para si?
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