quarta-feira, 6 de fevereiro de 2013

Portugal: GASPAR, O FIM DA CRISE E O PRINCÍPIO DO RIDÍCULO




Henrique Monteiro – Expresso, opinião

Lembro-me de um dia, em Setembro de 2008 salvo erro, ver Manuel Pinho anunciar o fim da crise para o ano seguinte - 2009, ano eleitoral. Depois disso, o fim da crise foi anunciado mais vezes do que o fim do mundo, sendo que em 2006, em Outubro, o mesmo ministro já tinha referido as dificuldades económicas como coisas do passado.

Há quase ano e meio, em Setembro de 2011, Vítor Gaspar veio dizer que 2012 seria o ano do princípio do fim da crise. É mais arrevesado, o princípio do fim de uma maratona pode ser o primeiro passo... Já há poucos dias, em Frankfurt, o mesmo Gaspar disse que era prematuro dizer que a crise acabou, embora considerasse apropriado falar da saída do programa da troika. Por último, ontem, numa organização da AIP, disse que o fim da crise está à vista (o que é ainda mais arrevesado, no sentido em que Marte está à vista e não sabemos lá chegar).

Enfim, de tudo isto se retira o enorme cuidado que os ministros colocam nas suas palavras, a sua afinada precisão e a profunda credibilidade que elas têm.A crise em que estamos metidos, cada um de nós à sua maneira, muitos de forma desesperada, miserável, caótica, não chegará ao fim tão cedo e menos ainda por decreto ministerial.

Nós, portugueses, e nós europeus, pagamos algumas loucuras que cometemos, mas sofremos, sobretudo, o enorme re-equilíbrio de um mundo que só girava no nosso sentido. Por isso, a reestruturação em curso não é algo que passe facilmente, ou sequer que dependa das habilidades de Gaspar.

A ideia de que os líderes nos devem dar boas notícias, tratando-nos como mentecaptos ou crianças, é patética. Podem dizer-nos a verdade, porque ridículo e infantil é dizerem-nos "agora é que é", quando sabemos que nem eles fazem a menor ideia. 

Já todos percebemos que falar do fim da crise, da luz ao fundo do túnel, do princípio do fim de todas essas coisas tem sido profundamente ridículo. E que tal se dissessem o que pensam? Em vez de fazer o trivial da nossa política - da esquerda à direita - que é viver de pequenos soundbites, de pequenos casos, de Franquelins, de "gaffes" de Ulrichs sem que nada do que é importante se discuta. 

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