Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Lembro-me de um
dia, em Setembro de 2008 salvo erro, ver Manuel Pinho anunciar o fim da
crise para o ano seguinte - 2009, ano eleitoral. Depois disso, o fim da
crise foi anunciado mais vezes do que o fim do mundo, sendo que em 2006, em
Outubro, o mesmo ministro já tinha referido as dificuldades económicas como
coisas do passado.
Há quase ano e
meio, em Setembro de 2011, Vítor Gaspar veio dizer que 2012 seria o ano do
princípio do fim da crise. É mais arrevesado, o princípio do fim de uma
maratona pode ser o primeiro passo... Já há poucos dias, em Frankfurt, o
mesmo Gaspar disse que era prematuro dizer que a crise acabou, embora
considerasse apropriado falar da saída do programa da troika. Por último,
ontem, numa organização da AIP, disse que o fim da crise está à vista (o
que é ainda mais arrevesado, no sentido em que Marte está à vista e não
sabemos lá chegar).
Enfim, de tudo isto
se retira o enorme cuidado que os ministros colocam nas suas palavras, a
sua afinada precisão e a profunda credibilidade que elas têm.A crise em que
estamos metidos, cada um de nós à sua maneira, muitos de forma
desesperada, miserável, caótica, não chegará ao fim tão cedo e menos ainda por
decreto ministerial.
Nós, portugueses, e
nós europeus, pagamos algumas loucuras que cometemos, mas sofremos,
sobretudo, o enorme re-equilíbrio de um mundo que só girava no nosso sentido.
Por isso, a reestruturação em curso não é algo que passe facilmente, ou
sequer que dependa das habilidades de Gaspar.
A ideia de que os
líderes nos devem dar boas notícias, tratando-nos como mentecaptos ou crianças,
é patética. Podem dizer-nos a verdade, porque ridículo e infantil é
dizerem-nos "agora é que é", quando sabemos que nem eles fazem a
menor ideia.
Já todos percebemos
que falar do fim da crise, da luz ao fundo do túnel, do princípio do fim de
todas essas coisas tem sido profundamente ridículo. E que tal se dissessem o
que pensam? Em vez de fazer o trivial da nossa política - da esquerda à direita
- que é viver de pequenos soundbites, de pequenos casos, de
Franquelins, de "gaffes" de Ulrichs sem que nada do que é importante
se discuta.
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