terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Procura-se Papa. Católico, com residência em Roma e disponível para deslocações




Rosa Ramos – Jornal i

Até à Páscoa, a Igreja deverá ter um novo Papa. Conclave arranca 15 a 20 dias após a resignação

“A partir de 28 de Fevereiro, às 20h, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá ser convocado, por aqueles a quem compete, o conclave para a eleição do novo sumo pontífice”, declarou Bento XVI. Após a morte ou a saída de um Papa, os assuntos da Igreja ficam sob a responsabilidade do cardeal decano ou carmelengo. É Tarcisio Bertone quem ocupa, desde Abril de 2007, essas funções. E é ele portanto quem terá de convocar o conclave – que deve ser organizado até 15 a 20 dias após a resignação de Bento XVI. Por isso, a Igreja terá um Papa antes da maior festa católica, a Páscoa – que este ano se celebra a 31 de Março. “Temos de ter um novo Papa na Páscoa”, insistia ontem o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi.

A questão que se coloca agora é a óbvia: sobre quem irá recair a escolha dos 117 cardeais-eleitores (ver texto ao lado)? Apesar de não poder participar no conclave, Bento XVI terá indirectamente influência na escolha do seu sucessor. Por um lado, porque contribuiu para a nomeação dos actuais cardeais eleitores e, por outro, por ter alterado as regras de eleição. O número 1024 do Código da Lei Canónica determina que qualquer homem baptizado pode ser eleito mas, desde 1378, o Papa tem sido sempre escolhido de entre os membros do Colégio de Cardeais. João Paulo II mudou as regras do conclave de maneira a permitir uma eleição por maioria simples, mas Bento XVI voltou a alterá-las, pouco depois de ser eleito, recuperando o modelo tradicional que requer a maioria de dois terços.

UM ITALIANO OU UM NÃO EUROPEU? 

O conclave que elegeu Bento XVI em 2005 foi muito rápido – porque, segundo se diz, a escolha foi acertada com a devida antecedência. É que apesar das diferenças em relação ao seu antecessor, o cardeal Ratzinger era visto como uma espécie de sucessão natural de João Paulo II. Já quanto ao conclave que se avizinha não há certezas. Se por um lado o Vaticano está dividido e submerso numa teia de disputas pelo poder – que poderão vir ao de cima durante o conclave –, por outro lado essas mesmas teias poderão dar um empurrão à escolha de um novo Papa. Alguma imprensa italiana ironizava ontem que os cardeais eleitores terão a tarefa facilitada, já que não têm feito outra coisa, nos últimos cinco anos, além de pensar no nome de um possível sucessor para Bento XVI.

Existem, à partida, diferentes alas de entendimento sobre o que deve ser o rumo da Igreja. Há aqueles que, como o bispo de Leiria-Fátima, defendem que o novo Papa deve ser alguém “capaz de olhar mais para além da Europa”, recuperando para a Igreja europeia “a vitalidade que existe noutros continentes”. D. António Marto defendeu ontem que esta pode ser uma oportunidade para a Igreja ir buscar um líder não europeu. Um dos nomes mais falados é o de Peter Turkson, cardeal ganês de 63 anos (ver candidatos ao lado).

No entanto, desde a morte de João Paulo II que uma ala do Vaticano tem vindo a reivindicar a necessidade de devolver a cátedra de São Pedro a Roma, através da escolha de um italiano. Entre os cardeais romanos, o nome mais apontado parece ser o do cardeal de Milão, Angelo Scola. Também há quem defenda que o desejo de Bento XVI, através das nomeações de cardeais que levou a cabo durante o pontificado, será devolver a Igreja à Europa – hedonista e mergulhada numa profunda crise de valores espirituais. Ao nomear os últimos 22 cardeais, o Papa acentuou a componente europeia e italiana (52 e 28 cardeais, respectivamente) num eventual conclave.

A América Latina, onde estão quase metade dos católicos do mundo, tem apenas 22 cardeais – um quinto dos eleitores do novo Papa. Durante o seu pontificado, Bento XVI designou como cardeais praticamente todos os responsáveis de organismos da Cúria, sendo que o jornal “La croix” chamou a atenção para o facto de a maior parte dos chefes dos dicastérios nomeados serem muito próximos do actual número dois da Santa Sé, o cardeal Bertone – citado pelas piores razões nas centenas de documentos vazados no escândalo Vatileaks.

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