Rosa Ramos – Jornal
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Até à Páscoa, a
Igreja deverá ter um novo Papa. Conclave arranca 15 a 20 dias após a resignação
“A partir de 28 de
Fevereiro, às 20h, a sede de Roma, a sede de São Pedro, ficará vacante e deverá
ser convocado, por aqueles a quem compete, o conclave para a eleição do novo
sumo pontífice”, declarou Bento XVI. Após a morte ou a saída de um Papa, os
assuntos da Igreja ficam sob a responsabilidade do cardeal decano ou
carmelengo. É Tarcisio Bertone quem ocupa, desde Abril de 2007, essas funções.
E é ele portanto quem terá de convocar o conclave – que deve ser organizado até
15 a 20 dias após a resignação de Bento XVI. Por isso, a Igreja terá um Papa
antes da maior festa católica, a Páscoa – que este ano se celebra a 31 de
Março. “Temos de ter um novo Papa na Páscoa”, insistia ontem o porta-voz do
Vaticano, Federico Lombardi.
A questão que se
coloca agora é a óbvia: sobre quem irá recair a escolha dos 117
cardeais-eleitores (ver texto ao lado)? Apesar de não poder participar no
conclave, Bento XVI terá indirectamente influência na escolha do seu sucessor.
Por um lado, porque contribuiu para a nomeação dos actuais cardeais eleitores
e, por outro, por ter alterado as regras de eleição. O número 1024 do Código da
Lei Canónica determina que qualquer homem baptizado pode ser eleito mas, desde
1378, o Papa tem sido sempre escolhido de entre os membros do Colégio de
Cardeais. João Paulo II mudou as regras do conclave de maneira a permitir uma
eleição por maioria simples, mas Bento XVI voltou a alterá-las, pouco depois de
ser eleito, recuperando o modelo tradicional que requer a maioria de dois
terços.
UM ITALIANO OU UM
NÃO EUROPEU?
O conclave que elegeu Bento XVI em 2005 foi muito rápido –
porque, segundo se diz, a escolha foi acertada com a devida antecedência. É que
apesar das diferenças em relação ao seu antecessor, o cardeal Ratzinger era
visto como uma espécie de sucessão natural de João Paulo II. Já quanto ao
conclave que se avizinha não há certezas. Se por um lado o Vaticano está
dividido e submerso numa teia de disputas pelo poder – que poderão vir ao de
cima durante o conclave –, por outro lado essas mesmas teias poderão dar um empurrão
à escolha de um novo Papa. Alguma imprensa italiana ironizava ontem que os
cardeais eleitores terão a tarefa facilitada, já que não têm feito outra coisa,
nos últimos cinco anos, além de pensar no nome de um possível sucessor para
Bento XVI.
Existem, à partida,
diferentes alas de entendimento sobre o que deve ser o rumo da Igreja. Há
aqueles que, como o bispo de Leiria-Fátima, defendem que o novo Papa deve ser
alguém “capaz de olhar mais para além da Europa”, recuperando para a Igreja
europeia “a vitalidade que existe noutros continentes”. D. António Marto
defendeu ontem que esta pode ser uma oportunidade para a Igreja ir buscar um
líder não europeu. Um dos nomes mais falados é o de Peter Turkson, cardeal
ganês de 63 anos (ver candidatos ao lado).
No entanto, desde a
morte de João Paulo II que uma ala do Vaticano tem vindo a reivindicar a
necessidade de devolver a cátedra de São Pedro a Roma, através da escolha de um
italiano. Entre os cardeais romanos, o nome mais apontado parece ser o do
cardeal de Milão, Angelo Scola. Também há quem defenda que o desejo de Bento
XVI, através das nomeações de cardeais que levou a cabo durante o pontificado,
será devolver a Igreja à Europa – hedonista e mergulhada numa profunda crise de
valores espirituais. Ao nomear os últimos 22 cardeais, o Papa acentuou a
componente europeia e italiana (52 e 28 cardeais, respectivamente) num eventual
conclave.
A América Latina,
onde estão quase metade dos católicos do mundo, tem apenas 22 cardeais – um
quinto dos eleitores do novo Papa. Durante o seu pontificado, Bento XVI
designou como cardeais praticamente todos os responsáveis de organismos da
Cúria, sendo que o jornal “La croix” chamou a atenção para o facto de a maior
parte dos chefes dos dicastérios nomeados serem muito próximos do actual número
dois da Santa Sé, o cardeal Bertone – citado pelas piores razões nas centenas
de documentos vazados no escândalo Vatileaks.
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