Novamente candidato
ao governo na eleição deste domingo, ex-premiê caça votos disparando críticas
contra Alemanha. Berlim tenta não mostrar preocupação, mas eleição de
empresário pode afetar planos de Merkel.
Para a chanceler
federal alemã, Angela Merkel, o próximo encontro com um premiê italiano pode
ser um reencontro com um velho, embora impopular, conhecido: Silvio Berlusconi
foi, entre 1994 e 2011, quatro vezes primeiro-ministro. E analistas consideram
bem possível que ele consiga subir ao posto uma quinta vez.
E ironicamente,
justamente Merkel pode acabar contribuindo sem querer para uma vitória
eleitoral de Berlusconi. O político e empresário de 76 anos culpa a Alemanha
pela má situação econômica de seu país, porque Berlim apoiou de forma decisiva
as medidas de austeridade impostas pela União Europeia. É com esta posição que
Berlusconi vai à caça de votos.
Sorrisos forçados
A relação entre
Merkel e Berlusconi sempre foi curiosa. Ambos pertencem à mesma família de
partidos conservadores europeus. Mas sempre que se encontravam, a efusiva
cordialidade entre ambos parecia sempre meio deslocada. Como se dois parentes
distantes que, na verdade, preferem se evitar, tivessem que abrir no rosto um
sorriso forçado para a foto de família. "Os dois não têm relação alguma,
eles não conseguem conversar entre si, nem mesmo pessoalmente. E na política
isso desempenha um papel importante. E eles também não confiam um no
outro", define o cientista político Angelo Bonaffi, ex-diretor do
Instituto Cultural Italiano em Berlim.
Na campanha eleitoral,
o "cavaliere" ─ como
Berlusconi gosta de ser chamado, depois que ganhou uma ordem nacional de
cavalaria por "mérito do trabalho" ─, vem fazendo acusações contra a Alemanha, apontando Angela
Merkel quase como a única responsável pelo fato de a UE ter imposto à Itália um
pacote de austeridade tão duro. Aumentos de impostos, cortes no orçamento,
crise econômica, tudo é culpa de Merkel. Ele veicula os ataques populistas em
sua rede constituída por várias estações de televisão. Com isso, ele possui um
enorme poder manipulador, de acordo com Angelo Bolaffi. "Não há muitas
pessoas que tenham conhecimento e tempo suficientes para resistir a isso",
ressalta o especialista, em entrevista à DW.
Ex-premiê com poder
na mídia
Na avaliação do
cientista político, é como um ciclo que se fecha. Pois no início de sua
carreira política, Berlusconi também usou seu poder de mídia maciçamente para
poder chegar a um cargo político. Ele não acredita que o ex-primeiro-ministro
consiga chegar novamente ao poder, mas sublinha que, com os 20% de votos que
possivelmente receberá, ele já pode ter um papel importante na formação do novo
governo.
Bolaffi lamenta que
as relações entre Alemanha e Itália tenham sofrido desgaste no passado recente.
Ambos os países foram aliados no início do movimento europeu, mas, desde que
Berlusconi se tornou primeiro-ministro pela primeira vez, há quase vinte anos,
o relacionamento sofreu abalos. Ele rompeu com a tradição de visitar a Alemanha
como um dos primeiros países após a posse. De lá para cá, observa Bolaffi, o
relacionamento é "precário". Ele ouve com frequência em seu país que
Angela Merkel é a responsável pela má situação econômica da Itália, mas quase
não ouve nada sobre as medidas de austeridade se deverem à situação atual e serem
o caminho certo para sair da crise. Por isso, na opinião dele, não é de admirar
o atual clima desfavorável à Alemanha entre os italianos.
Calma tensa
A coalizão de
governo em Berlim não parece se interessar muito pelo fato de a campanha
eleitoral italiana estar sendo feita às custas da Alemanha. O ministro alemão
do Exterior, Guido Westerwelle, disse ao jornal Süddeutsche Zeitung que
não vai fazer comentários sobre os ataques contra o país nas campanhas
eleitorais italianas. "Obviamente não somos partidários na campanha
eleitoral italiana", comentou. "Mas esperamos que o curso pró-europeu
e as reformas necessárias continuem. Essa é, certamente, a atitude geral do
governo alemão", ponderou.
Na opinião do
cientista político Gerd Langguth, a chanceler e sua equipe não devem estar tão
relaxadas em relação a Roma, como querem fazer parecer. Ele acredita que o
resultado das urnas italianas pode lançar uma sombra sobre as eleições alemãs
de setembro. "A eleição de Berlusconi poderia ameaçar a reeleição de
Angela Merkel, porque poderia ser vista como um fracasso da chanceler em fazer
valer sua vontade."
Angelo Bolaffi está
convencido que, no final, vai prevalecer, novamente, o que já é comum na
política do país: uma batalha cabeça por cabeça entre dois ou três partidos,
seguida por complicadas negociações de coalizão. O movimento de protesto Cinco
Estrelas, do comediante Beppe Grillo, pode ter uma participação importante, já
que pode obter até 20% dos votos. Talvez seja formada uma grande coalizão entre
o PdL de Berlusconi e o partido de centro-esquerda PD, de Pier Luigi Bersani,
que começou a campanha eleitoral como favorito. "Tudo está em aberto, como
é comum na Itália", conclui Bolaffi.
Autor: Martin Koch
(md) - Revisão: Francis França
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