segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

VÍTIMAS DE ABUSOS COMETIDOS PELO CLERO SAÚDAM RESIGNAÇÃO DE BENTO XVI





O porta-voz de uma associação de vítimas de abusos cometidos por membros da Igreja Católica contra crianças na Irlanda saudou, esta segunda-feira, a resignação de Bento XVI, afirmando que o pontífice não fez "nada" para punir os responsáveis.

"Este papa teve uma grande oportunidade para enfrentar décadas de abusos na Igreja Católica. Prometeu muitas coisas, mas acabou por não fazer nada", disse à AFP John Kelly, do grupo Survivors of Child Abuse (Sobreviventes de Abuso Infantil), uma das associações que representam as crianças vítimas de violência física, sexual e moral.

A Irlanda, um país com forte tradição católica, foi palco de décadas de abusos cometidos contra crianças pelo clero católico e encoberto pela hierarquia.

Essas práticas e os abusos foram revelados nos últimos anos, com a publicação de uma série de relatórios de investigações oficiais.

"Nós pedimos ao papa sanções contra as ordens religiosas que cometeram estes atos violentos e contra líderes religiosos na Irlanda que permitiram que acontecessem mas, para nossa grande consternação, nada aconteceu", disse John Kelly.

Os sobreviventes do grupo de abuso infantil e outros representantes das vítimas têm repetidamente apelado ao Vaticano para processar sacerdotes culpados por esses abusos.

"A Igreja deve reconhecer o que aconteceu. Eles devem reconhecer que deixaram entre o diabo dentro (da igreja) e permitiriam que ali ficasse durante 50 anos", afirmou.

"A Igreja não pode avançar. As funções deste papa foram envenenadas por este escândalo e isso vai continuar, a menos que o Papa aborde a raiz do problema", acrescentou ainda.

A opinião é ecoada na análise do teólogo espanhol Juan José Tamayo, um dos mais reconhecidos do país, que em declarações publicadas pelo "El País" considera que Bento XVI não soube lidar com o problema da pedofilia.

"O maior problema foi a pedofilia. Uma questão que tem sido o maior escândalo na história do cristianismo e que explodiu nas suas mãos", disse Tamayo.

"No início, enquanto presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, impôs o silêncio e depois tomou meias medidas, sem aplicar as medidas incluídas na lei canónica para esses casos e sem colaborar com os tribunais civis", sublinha.

O papa Bento XVI, 85 anos, anunciou, durante um consistório no Vaticano, a sua resignação a partir dia 28 de fevereiro devido "à idade avançada".

Um novo papa será escolhido até à Páscoa, a 31 de março, disse o porta-voz do Vaticano, Federico Lombardi, anunciando que um conclave deve ser organizado entre 15 e 20 dias após a resignação do pontífice.

O último chefe da Igreja Católica a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).

Sem comentários:

Mais lidas da semana