O porta-voz de uma
associação de vítimas de abusos cometidos por membros da Igreja Católica contra
crianças na Irlanda saudou, esta segunda-feira, a resignação de Bento XVI,
afirmando que o pontífice não fez "nada" para punir os responsáveis.
"Este papa
teve uma grande oportunidade para enfrentar décadas de abusos na Igreja
Católica. Prometeu muitas coisas, mas acabou por não fazer nada", disse à
AFP John Kelly, do grupo Survivors of Child Abuse (Sobreviventes de Abuso
Infantil), uma das associações que representam as crianças vítimas de violência
física, sexual e moral.
A Irlanda, um país
com forte tradição católica, foi palco de décadas de abusos cometidos contra
crianças pelo clero católico e encoberto pela hierarquia.
Essas práticas e os
abusos foram revelados nos últimos anos, com a publicação de uma série de
relatórios de investigações oficiais.
"Nós pedimos
ao papa sanções contra as ordens religiosas que cometeram estes atos violentos
e contra líderes religiosos na Irlanda que permitiram que acontecessem mas,
para nossa grande consternação, nada aconteceu", disse John Kelly.
Os sobreviventes do
grupo de abuso infantil e outros representantes das vítimas têm repetidamente
apelado ao Vaticano para processar sacerdotes culpados por esses abusos.
"A Igreja deve
reconhecer o que aconteceu. Eles devem reconhecer que deixaram entre o diabo
dentro (da igreja) e permitiriam que ali ficasse durante 50 anos", afirmou.
"A Igreja não
pode avançar. As funções deste papa foram envenenadas por este escândalo e isso
vai continuar, a menos que o Papa aborde a raiz do problema", acrescentou
ainda.
A opinião é ecoada
na análise do teólogo espanhol Juan José Tamayo, um dos mais reconhecidos do
país, que em declarações publicadas pelo "El País" considera que
Bento XVI não soube lidar com o problema da pedofilia.
"O maior
problema foi a pedofilia. Uma questão que tem sido o maior escândalo na
história do cristianismo e que explodiu nas suas mãos", disse Tamayo.
"No início,
enquanto presidente da Congregação para a Doutrina da Fé, impôs o silêncio e
depois tomou meias medidas, sem aplicar as medidas incluídas na lei canónica
para esses casos e sem colaborar com os tribunais civis", sublinha.
O papa Bento XVI,
85 anos, anunciou, durante um consistório no Vaticano, a sua resignação a
partir dia 28 de fevereiro devido "à idade avançada".
Um novo papa será
escolhido até à Páscoa, a 31 de março, disse o porta-voz do Vaticano, Federico
Lombardi, anunciando que um conclave deve ser organizado entre 15 e 20 dias
após a resignação do pontífice.
O último chefe da
Igreja Católica a renunciar foi Gregório XII, no século XV (1406-1415).
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