Licínio Lima, com
agências – Diário de Notícias
O Papa Bento XVI,
de 85 anos, irá resignar no final deste mês, confirmou o porta-voz da Santa Sé,
citado pela AFP. A razão da resignação prender-se-á com motivos de saúde. Um
novo Papa vai ser escolhido até à Páscoa, a 31 de março, indicou o mesmo porta-voz.
"O Papa
anunciou que renuncia ao seu ministério, às 20.00 (19.00 em Lisboa), do dia 28
de fevereiro. Começará então o período de 'sede vacante'", precisou,
citado pela AFP, o padre Federico Lombardi, num anúncio praticamente sem
precedentes na história da Igreja Católica.
Segundo a Santa Sé,
citada pela AFP, o Papa "não tem forças" par continuar a dirigir a
Igreja Católica, devido à sua idade.
O anúncio da
resignação foi feito, em latim, pelo próprio Bento XVI, durante um consistório
ordinário, no qual se realizavam canonizações.
"Depois de ter
consultado a minha consciência perante Deus, em várias ocasiões, cheguei à
conclusão de que, devido à minha idade avançada, já não estou nas melhores
condições para exercer de forma adequada o ministério de Pedro", indicou o
Papa, segundo uma tradução em francês disponibilizada pela Vaticano e veiculada
pela AFP.
Joseph Ratzinger,
alemão, foi eleito em abril de 2005 para suceder a João Paulo II, e vai
completar 86 anos de idade dentro de 2 meses. Segundo alguns comentadores, a
sua resignação deve-se ao seu estado de saúde. É muito raro um Papa resignar ao
pontificado, o último caso foi o do Papa Gregório XII, em 1415.
Com o anúncio da
resignação o mundo foi apanhado de surpresa. Comentava-se o estado de saúde do
pontífice, mas nada indicava que tal viesse a acontecer. Um dos motivos,
segundo opiniões recolhidas pelo DN, pode ter a ver com o que Joseph Ratzinger
viveu nos últimos dias de pontificado do seu antecessor João Paulo II.
O estado de saúde
do papa Vojtyla degradava-se dia após o dia mas o Vaticano manteve-o na cadeira
de Pedro até ao fim. Algumas das imagens que surgiam na TV eram por vezes
consternantes. O debate fez-se então e muita gente, incluindo cardeais,
defenderem que o chefe da Igreja deveria renunciar quando ainda estivesse de
posse de todas as suas faculdades mentais e com alguma qualidade de vida. Nunca
ninguém pensou que o primeiro a fazê-lo, na era do pós-Vaticano II, fosse
precisamente Ratzinger, tido como um dos maiores conservadores da Igreja.
Com a eleição de um
novo papa, e continuando Ratzinger vivo, a Igreja passará a contar com dois
papas: um no ativo e outro resignatário. Desde o século XVI que tal não
acontecia. Um dos grandes medos da Igreja em ter dois papas é o perigo que isso
representa para a ocorrência de cismas. Um papa, mesmo não estando no ativo,
mantém o sacramento ( o múnus), podendo ordenar outros bispos e, se quiser,
formar uma igreja paralela à oficial. Foi o que aconteceu com o grande cisma do
Ocidente entre 1387 e 1417, em que a residência do papa foi transferida de Roma
para Avinhão. Este cisma provocou um grande trauma na Igreja e por isso ter-se
criado os pontificados perpétuos, até à morte do pontífice.
Apesar de ser
extremamente raro, a lei da Igreja prevê que um Papa possa resignar ao cargo.
O Código de Direito
Canónico é claro a este respeito, dizendo explicitamente no artigo 332, alínea
2, que "Se acontecer que o Romano Pontífice renuncie ao cargo, para a
validade requer-se que a renúncia seja feita livremente, e devidamente
manifestada, mas não que seja aceite por alguém."
A única condição
colocada é, portanto, a liberdade da decisão. Bento XVI cumpriu esta condição
explicitamente na sua comunicação aos cardeais ao dizer: "Por isso, bem
consciente da gravidade deste acto, com plena liberdade, declaro que renuncio
ao ministério de Bispo de Roma, Sucessor de São Pedro".
Confirmada a
renúncia, o processo de escolha de um novo Papa decorre de forma normal.
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