Bloco comercial
seria o maior do mundo, impulsionando transações, mercado de trabalho e
salários de ambos os lados. Mas, como costuma acontecer em projetos
monumentais, os empecilhos estão nos detalhes.
De ambos os lados
do Oceano Atlântico reina unanimidade: as barreiras comerciais entre os Estados
Unidos e a União Europeia (UE) precisam cair. O presidente norte-americano,
Barack Obama, e os do Conselho Europeu, Herman van Rompuy, e da Comissão
Europeia, José Manuel Durão Barroso, anunciaram nesta quarta-feira (13/02)
conversações sobre um acordo para reduzir as restrições alfandegárias e
comerciais.
As negociações já
poderão se iniciar oficialmente em meados deste ano. Os EUA e a UE representam
aproximadamente a metade do desempenho econômico e um terço do comércio
mundiais. Para a Alemanha, um tratado de livre comércio poderá trazer o
barateamento dos produtos negociados, assim como impulsos para o mercado de
trabalho e os salários.
Menos burocracia,
mais investimentos
"Em tempos de
condições básicas inseguras, devido às crises econômicas e financeiras, a
facilitação do comércio conjunto deveria ser um tema central para ambos os
lados, a fim de aquecer o crescimento", declarou à Deutsche Welle Anton
Börner, presidente da Confederação do Comércio Atacadista, Exterior e Serviços
(BGA, na sigla em alemão). De seu ponto de vista, um acordo de livre comércio
entre as duas regiões iria não só criar novos postos de trabalho e gerar
aumento de salários, mas também influenciar sensivelmente o bem-estar privado.
As taxas
alfandegárias entre a UE e os EUA já são modestas – segundo o BGA, entre 5% e
7%. No entanto, como, a cada ano, bens no valor superior a meio trilhão de
euros circulam de um lado para o outro do Atlântico, o empresariado poderá vir
a economizar bilhões.
Em 2010, somente as
empresas químicas europeias pagaram aos cofres dos Estados Unidos quase 700
milhões de euros pelas exportações para o país. Em contrapartida, os
norte-americanos também injetaram mais de 1 bilhão de euros na Europa. Com a
queda das barreiras, as associações econômicas esperam menos burocracia para as
médias empresas e mais dinheiro para investimentos, por exemplo na pesquisa e
desenvolvimento.
Concepções
conflitantes
A expectativa da
economia alemã é de impulsos bilionários. "O tratado de livre comércio
poderia elevar nossas exportações para os EUA em 3 bilhões a 5 bilhões de euros
por ano", estima Volker Treier, diretor do departamento de comércio
exterior da Confederação Alemã das Câmaras de Indústria e Comércio (DIHK). A
Câmara Americana de Comércio na Alemanha (AmCham) conta com um crescimento
adicional do PIB de 1,5%. Várias empresas alemãs esperam, além disso, ter o acesso
facilitado a contratos públicos nos Estados Unidos.
Entretanto o
presidente da BGA, Anton Börner, ressalva que ainda há numerosas pedras a serem
retiradas do caminho até se chegar a uma zona transatlântica de livre comércio.
Sobretudo no tocante ao comércio de produtos agropecuários, as concepções são
muito diversas entre si.
Enquanto a França
teme a concorrência no setor agrário, os EUA querem seguir interditando a
importação de carne bovina proveniente da UE, por ainda temer a encefalopatia
espongiforme bovina (BSE). "Por sua vez, a UE não quer dos Estados Unidos
nem alimentos transgênicos, nem galinhas tratadas com cloro", comenta
Börner.
Tampouco devem ser
subestimados os obstáculos burocráticos que esse projeto implica, sobretudo nos
EUA. "Enquanto na Europa numerosos setores já estão harmonizados através
da UE, ou a competência já se situa no nível da União Europeia, nos EUA as
jurisdições são, em parte, fragmentadas, e se encontram no nível dos
estados."
Perigo de dominação
Um acordo bilateral
entre Washington e Bruxelas geraria um gigantesco bloco comercial. Juntas,
ambas as regiões são responsáveis por quase a metade do desempenho comercial
global. Por isso, Börner vê o perigo "de que essa dominância comercial
seja mal empregada para paralisar de forma duradoura as negociações
multilaterais".
Contudo, o sentido
de um tratado dessa ordem não é se isolar em relação a terceiros.
"Conversações sobre uma zona transatlântica de livre comércio não podem
ser vistas como substituto para negociações multilaterais no nível da OMC
[Organização Mundial do Comércio]", sublinha Börner. As forças e a
dinâmica liberadas por uma zona livre transatlântica deveriam ser, antes,
utilizadas para revitalizar de forma decisiva as empacadas negociações na OMC.
O chefe da BGA
resume: "Uma integração mais forte dos mercados transatlânticos não só
geraria consideráveis vantagens para as regiões econômicas envolvidas. Tal
acordo iria também projetar um claro sinal contra qualquer tendência
protecionista".
Autoria: Klaus
Ulrich (av) - Revisão: Alexandre Schossler
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