sexta-feira, 29 de março de 2013

Barómetro i/Pitagórica. Portugueses perderam confiança na austeridade da troika




Pedro Rainho – Jornal i

Mais de dois terços dos inquiridos consideram insuficientes os resultados da renegociação com a troika das metas do défice e dos cortes na despesa que permitiram ao governo ganhar um ano

E à sétima visita dos responsáveis da troika a Portugal, metade dos portugueses atiram a toalha ao chão. O barómetro i/Pitagórica de Março revela que, ao fim de sete avaliações do programa de ajustamento, 52,9% dos inquiridos perderam a confiança no modelo de ajustamento concebido pela troika que tem sido aplicado nos últimos dois anos.

Os descontentes são sobretudo as mulheres entre os 18 e os 35 anos, da classe social média-baixa, que votaram no PS de José Sócrates nas legislativas de 2011, a evidenciar uma perda de crédito da ideia de que o Memorando é a solução para a recessão económica que o país atravessa.

Menos taxativos são 26,2% dos inquiridos, que vêem no fracasso das metas negociadas em Maio de 2011 um tiro na credibilidade das medidas da austeridade negociadas em primeira mão pelo PS e assinadas também pelo PSD e pelo CDS.

Do universo de 503 respostas obtidas no barómetro deste mês, apenas 14,3% dos participantes aceitam o facto de as previsões terem falhado. Em Novembro de 2012, o ministro das Finanças garantia que “o ajustamento português [continuava] a progredir” e que “o programa [estava] bem adaptado” à realidade do país.

MAU ALUNO/BOM ALUNO 

Gaspar anunciou a meio deste mês ter conseguido uma renegociação dos prazos para que o país reduzisse o seu défice para menos de 3% do PIB, ganhando o fôlego de um ano para alcançar esse objectivo. O ministro das Finanças conseguiu também alargar o período de aplicação dos cortes estruturais na economia. Agora o pacote de reduções de 5,6 mil milhões de euros - que já foi de 4 mil milhões - só terá de ser um capítulo encerrado no final de 2015, e já não no final do próximo ano. É um dado garantido que o esforço pode ser repartido por mais um ano, mas o governo ainda não revelou de que forma - e a que ritmo - pretende aplicar essa reforma estrutural à economia portuguesa.

Sentados na tribuna dos professores, incitados a fazer de avaliadores das novas metas propostas pelo governo e aceites pela troika na última ronda de negociações, quase 70% dos inquiridos dão ao executivo de Pedro Passos Coelho nota negativa - o primeiro-ministro e Vítor Gaspar são os maus alunos neste exame de rotina.

Do universo de participantes no barómetro, a maioria (49,1%) daqueles que atribuem nota negativa ao executivo acredita mesmo que os resultados alcançados por Portugal na última ronda de avaliações da aplicação do Memorando foram maus. Os restantes 20,6%, que completam o grupo, dão a nota mais baixa do nível de classificações - muito mau.

São os homens acima dos 55 anos, de classe social mais baixa e que votaram no PS e no BE em 2011 a determinar o resultado mais negativo para o governo.

CONSEQUÊNCIAS 

Há pouco mais de duas semanas, o i avançou que o governo estaria a fazer depender a divulgação desses dados da posição final que o Tribunal Constitucional viesse a tomar relativamente ao Orçamento do Estado para este ano. Recorde-se que o presidente da República, a 1 de Janeiro, e o PS, pouco depois, solicitaram aos juízes do Palácio Ratton a fiscalização da constitucionalidade de três normas do documento - a suspensão do subsídio de férias a trabalhadores e aposentados, a taxa extraordinária de solidariedade e a sobretaxa de 3,5% no IRS.

Há uma semana, o semanário “Sol” escreveu que a decisão dos juízes deveria estar fechada nas duas semanas seguintes. Segundo o jornal “Púbico”, um chumbo das normas do Orçamento pode levar a uma queda do governo. As cartas ficariam então nas mãos do Presidente da República.

FICHA TÉCNICA

Objectivo:
Estudo de opinião realizada pela pitagórica – investigação e estudos de mercado sa, para o jornal i, entre 19 e 24 de Março de 2013. Foram realizadas entrevistas telefónicas - ca ti por entrevistadores seleccionados e supervisionados, com o objectivo de conhecer a opinião sobre questões políticas e socais da actualidade nacional.

Universo:
O universo é constituído por indivíduos de ambos os sexos, com 18 ou mais anos de idade, recenseados em Portugal e com telefone fixo ou móvel.

Recolha de informação:
Foram validadas 503 entrevistas correspondendo a 76,44% das tentativas realizadas. Foi utilizada uma amostragem por quotas de sexo, idade e distrito: (homens- 234; mulheres – 269; 18-34 anos: 147; 35-54 anos: 186 e 55 ou mais anos:170; norte: 172; centro 120; lisboa: 130; Alentejo: 35; algarve: 20 e ilhas: 26). a geração dos números móveis a contactar foi aleatória e a dos números fixos seleccionada aleatoriamente por distrito nas listas telefónicas. Em ambos os casos o entrevistado foi seleccionado de acordo com as quotas estipuladas no caso da intenção de voto, são considerados 465 inquiridos após tratamento da abstenção. Na projecção de voto os indecisos (32,2%) foram distribuídos de forma proporcional.

Amostra e erro:
O erro máximo da amostra é de 4,5%, para um grau de probabilidade de 95,5%. Um exemplar deste estudo de opinião está depositado na entidade reguladora para a comunicação social.

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