segunda-feira, 18 de março de 2013

CORRUPÇÃO E CONLUIO EXERCEM REPRESSÃO SOBRE JORNALISTAS TIMORENSES




Beatriz Gamboa

Não precisamos de abordar casos específicos, basta tomar como ponto de partida que os juízes do tribunal de Díli se sentiram com poder bastante para condenar jornalistas (falando-se até em prisão, que acabou em multa) por alegado crime de difamação. A legislação pouco clara está a ajudar. A corrupção e o conluio não é exclusivo de nenhuma classe social mas na sua grande maioria está anexada aos poderes. Nesses poderes incluiu-se, obviamente, o poder judicial. Essa vertente aliada a fatores tendencialmente político-partidários é um dos agentes que leva a instituição da Justiça ao descrédito. E a Justiça timorense não é inocente nesta vertente. Em Timor-Leste, como por todo o mundo, acontece. Nuns casos mais, noutros menos.

A ex-ministra Lúcia Lobato foi condenada a uns quantos anos de prisão (5) por alegado comportamento ilegal em moldura criminal no exercício das suas funções. Está a cumprir a pena. Ela alega estar a ser vítima de um processo político. Será. Lúcia Lobato, dirigente do PSD, abusou de facto dos poderes do seu cargo, há muito anos que isso era notório, mas foi julgada por quase nada. E foi condenada exemplarmente, convenientemente. Importava esvaziar de credibilidade o partido onde era dirigente, o PSD. Sem caírem nas malhas da Justiça do mesmo modo que Lúcia (ela facilitou isso), também Mário Carrascalão – fundador e histórico do PSD – foi vilipendiado por Xanana Gusmão no primeiro governo que chefiou. Mário Carrascalão era seu vice-PM. Carrascalão atacava a corrupção daquele primeiro governo chefiado  por Xanana. Está à vista que tinha razão.

Também um outro dirigente do PSD foi envolvido em convenientes barafundas com a Justiça apesar de ser ministro dos Negócios Estrangeiros desse governo de Xanana Gusmão, Zacarias da Costa. Os juízes não tiveram modo de lhe lançar as garras, justa e naturalmente. Zacarias da Costa foi ainda completamente ridicularizado por Xanana Gusmão em público através da presença da televisão timorense, numa acção que mostrou evidências de ter sido programada e ordenada pelo PM Xanana Gusmão. Tudo isto aconteceu num Conselho de Ministros convenientemente transmitido para público assistir. O ataque aos líderes do PSD tem sido notório. O esvaziamento pretendido foi conseguido. Lúcia Lobato contribuiu imenso para que assim tivesse acontecido. A tal ponto que o PSD não conseguiu eleger deputados nas eleições do ano passado. O objetivo não é Lúcia Lobato, nem este nem aquela, porque corruptos é o que não falta, nem faltava, às ilhargas de Xanana Gusmão. O objetivo foi a aniquilação do PSD. Aniquilação conseguida. Não foi por acaso que a Lúcia Lobato enquanto ministra de aparente confiança de Xanana Gusmão lhe foi dada “corda” para se enforcar. O problema não estava na corrupção nem nos conluios, nem nos nepotismos. Se assim fosse muitos mais deveriam estar a contas com a Justiça e a serem efetivamente condenados sem sofismas.

Não existindo o PSD como força política representada nos órgãos democráticos, com deputados ao menos no Parlamento Nacional os votos sobrariam para o partido de Xanana Gusmão, o CNRT, e para o partido do seu delfim José Luís Guterres, depois de aquele - com controle remoto - ter tentado destruir a Fretilin (2006), de que era militante e um submarino cujo comando estava nas mãos de Xanana. Mas Guterres acabou por ser expulso da Fretilin e fundar um novo partido. Primeiro sem expressão e depois começando a crescer após a destruição do PSD. Nas eleições do ano passado conseguiu lugar no Parlamento Nacional. José Luís Guterres é o atual ministro dos Negócios Estrangeiros de Timor-Leste, a par de Xanana Gusmão como primeiro-ministro.

Perante este latente apodrecer dos órgãos de poder timorenses e de tribunais que de há muito se inscrevem na servidão a interesses político-partidários, Lúcia Lobato e os seus advogados de defesa não deviam esperar outra coisa por resultado de seu julgamento. Em vez disso esperaram uma condenação que a deixasse em liberdade. Provável ingenuidade que os conduziu ao estado incrédulo em que ainda se encontram. Lúcia Lobato está reclusa na prisão de Gleno. Protesta, com alguma razão, mas não pode esquecer-se que a própria PGR, Ana Pessoa, declarou que Lúcia, ex-ministra de Xanana, serve de exemplo… O que, podendo ser verdade num estado com um governo que não tivesse o controlo remoto do funcionamento da Justiça, seria acertado e convincente. Mas não em Timor-Leste, no estado que é.

É a política. Com esta política Xanana Gusmão está a desenhar e a contribuir para consolidar um estado transbordante de injustiças, de ilegalidades cometidas por aqueles que mais estão próximos dos poderes vigentes. Será esta podridão que se se mantiver e alastrar poderá ainda vir a “engolir” Xanana e as forças que querem e podem construir uma nação exemplar em vez de uma cópia do sistema putrefacto, criminoso e corrupto, que rege a Indonésia e outros estados similares. Ninguém no seu juízo perfeito poderá admitir que é o que Xanana Gusmão pretende mas é o que está a acontecer, sendo ele o principal obreiro da eventual sua própria destruição e da nação timorense democrática e justa com que sonhou nas montanhas enquanto guerrilheiro, e que prometeu aos timorenses, aos amigos e ao mundo que tanto o apoiou.

É exatamente por desvios consolidados em poderes ocultos que a repressão aos jornalistas e a quem possa beliscar a criminalidade instalada está a funcionar. Ser aliado dos interesses desenhados por Xanana Gusmão na atualidade não significa que mais tarde não sejam seus inimigos e o vençam. Por isso compete a Xanana Gusmão, como PM, e ao Parlamento Nacional, aos seus deputados, saber proteger a liberdade de informação com legislação inequívoca e exemplar que garanta aos jornalistas não serem vítimas de poderes que não foram escrutinados pelos eleitores e que como parasitas sobra-lhes vidas faustosas enquanto as populações na sua maioria mal sobrevivem na degradante e injustificada miséria. Um jornalista pode de facto cometer erros, como qualquer profissional, pode ser induzido em erro através de propiciadas “rasteiras” que aproveitam a inexperiência, mas dificilmente se encontrará um jornalista que tem a intenção de difamar este ou aquele por nada. Só para fazer manchete.

Condenando jornalistas pelo seu trabalho essas condenações também servem de exemplo? O que querem é condicionar a liberdade de imprensa, nada mais. Atemorizar. Também neste aspeto os poderes ocultos estão a vencer em Timor-Leste.

*Publicado em TIMORLOROSAE NAÇÃO – opinião e notícias do país e da região

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