CYPRUS
MAIL, NICÓSIA – Presseurop – imagem Bojesen
A UE e o FMI
acordaram um financiamento de €10 mil milhões para os bancos cipriotas, mas o
preço que exigem é um imposto sobre todos os depósitos. Esta condição deixou a
pequena nação mediterrânica completamente atordoada, com o “Cyprus Mail” a
acusar o novo Presidente e os outros Estados-membros de atraiçoarem a ilha.
Apesar de a agenda
da UE prever, há mais de um mês, um corte nos depósitos bancários e de esse
corte figurar nos memorandos da Comissão e ter sido publicamente discutido por
políticos europeus que, na sua maioria, se recusaram a excluí-lo, poucas
pessoas achavam que o Eurogrupo avançaria com esta medida. A opinião
generalizada é que se tratava de uma ameaça ociosa para forçar Chipre a
privatizar as OSG [Organizações Semi-Governamentais] e a aumentar o IRC.
E, afinal de
contas, o Presidente Nicos Anastasiades tinha declarado enfaticamente no seu
discurso de tomada de posse que “não seria tolerada absolutamente nenhuma
referência a um corte nos depósitos ou na dívida pública”, acrescentando que
“um assunto desses nem estava aberto a discussões”. As declarações do ministro
das Finanças, Michalis Sarris, foram igualmente tranquilizadoras, afirmando que
seria uma loucura a UE impor uma medida destas porque isso seria uma ameaça ao
sistema do euro.
A Alemanha e os
líderes do Eurogrupo optaram por esta loucura, calculando que Chipre é
demasiado pequeno e inconsequente para que um corte nos seus depósitos
bancários possa contagiar a zona euro [os depósitos até aos €100 mil serão
tributados com um imposto de 6,75% e os restantes, com 9,9%]. Claro que os
mercados poderão encarar esta medida de uma forma diferente, talvez não no
momento em que abrirem as suas portas, segunda-feira, mas umas semanas mais
tarde, visto começar a ser notório que nem os depósitos em bancos europeus
estão a salvo dos ataques do Eurogrupo.
Anastasiades foi
vítima de chantagem
É óbvio, pelas
declarações prestadas, que o Presidente Anastasiades foi vítima de chantagem
para aceitar aquilo a que eufemisticamente se chama “direito nivelador de
solidariedade”. Se não aceitasse, o Banco Central Europeu não prestaria uma
Assistência de Liquidez de Emergência aos bancos cipriotas após o prazo de 21
de março (o prazo tinha sido prorrogado por dois meses em janeiro) e os bancos
abririam falência no mesmo dia, com as pessoas a perderem partes ainda maiores dos
seus depósitos do que os 7 a 10% que lhes serão retirados agora.
Será que o
Presidente Anastasiades tinha alternativa? Não é fácil dizer, atendendo à
pressão para que se conseguir um acordo político até à passada sexta-feira.
Tudo indica que os nossos parceiros da UE tomaram uma decisão antes disso e foi
por isso que agendaram a reunião do Eurogrupo para discutir o financiamento
para uma sexta-feira à noite. Os bancos cipriotas estariam fechados durante
três dias [segunda-feira, 18 de março, é feriado], período durante o qual
seriam dados todos os passos para resgatar depósitos e os bancos poderiam abrir
terça-feira como se nada tivesse acontecido.
No sábado, 16 de
março, um deputado aventou a hipótese de ser melhor deixar falir os dois bancos
que pediram assistência de liquidez ao BCE do que aceitar o corte. Mas o
problema não ficaria circunscrito a estes dois bancos, visto haver uma
interdependência bancária, e uma corrida a um ou a dois bancos depressa se
espalharia a todos os outros. Este será o principal argumento do Presidente
Anastasiades para explicar o motivo que o levou a aceitar o resgate dos
depósitos. A alternativa seria o colapso dos bancos, a falência do Estado e a
saída do euro.
Nestas
circunstâncias, o Presidente cipriota optou pela solução menos má, embora nos
pareça que pouca gente o irá apreciar por isso. De facto, a UE ofereceu um
“pacote de resgate” concebido para destruir e não para resgatar o que resta da
economia cipriota.
Traduzido por Maria
João Goucha
Sem comentários:
Enviar um comentário