Para os tempos mais
próximos, temos mais um fogo financeiro na zona euro apagado. Desta vez,
centrado em Nicósia, capital desse Chipre que fica na outra ponta da Europa. De
novo, o desenho da operação, que parece concitar as cedências recíprocas
incontornáveis, só se conjugam na 25ª. hora, sob a ameaça da declaração de
falência a um único dia de distância. O ministro das Finanças da Alemanha foi
lesto a assumir, perante a opinião pública do seu pais - mas também, perante o
palco imenso, em tempo real, dos espectadores em todo o mundo -, a paternidade
da operação e a satisfação por se ter chegado finalmente à solução nos moldes
que a Alemanha desejava.
O que o capitão da
brigada de bombeiros germânico não esclareceu é a razão de, há uma semana,
todos se terem enganado tão clara e visivelmente, propondo uma taxa sobre todas
as poupanças. Essa decisão insensata, que incinerou a garantia da
intocabilidade dos depósitos até 100 mil euros, na zona euro, deixa um rasto de
desconfiança sobre todo o sistema financeiro, que opera com euros, acerca do
que o novo executivo ad hoc, à escala dos 17 membros da moeda única europeia,
chamado Eurogrupo, é capaz de fazer com o dinheiro de cada um.
Algo de muito
errado está incorporado neste edifício institucional, que permite tomar
decisões numa madrugada, alarmantes aos olhos da opinião pública, mal são
publicados, sem que mereçam o veto do bom senso por parte de um único
participante na maratona negocial.
Nestas
circunstâncias, e para além de vermos como evolui a situação económica e
financeira em Chipre e na Grécia - face aos gravosos programas de austeridade,
que as suas populações têm de aguentar -, cada vez faz menos sentido irmos, de
novo, para eleições para o Parlamento Europeu, dentro de um ano, como se nada
entretante se tivesse passado. Como se não fosse claro para milhões de
europeus, que esta UE e esta zona euro, tal como estão desenhadas, precisam de
ser reconstruídas de alto a baixo.
Golpes em África
Mais um golpe em
África, desta vez na República Centro Africana, país encravado, antiga colónia
francesa que um dia até produziu um ditador que chegou a proclamar-se
imperador. Falar de mais um golpe não é, porém, uma referência à época
pós-independências, em que o continente servia de tabuleiro de jogo para
Estados Unidos e União Soviética. Apesar da vaga democratizadora das últimas
duas décadas (já no pós-Guerra Fria) ter gerado casos de sucesso como Botswana,
Cabo Verde, Senegal ou Gana, as tomadas do poder de forma violenta continuam a
acontecer, como foi o caso em 2008 na Guiné-Conacri, em 2010 no Níger e em 2012
no Mali e na Guiné-Bissau.
Desde conflitos
tribais a militares descontentes com salários, passando por obscuros interesses
económicos, tudo serve para explicar esta má sina da África subsariana. Causa
ou consequência desta instabilidade política, o Índice de Desenvolvimento
Humano da ONU aponta o Níger como o pior país do mundo para viver, a República
Centro Africana, hoje no centro das atenções, é o oitavo a contar do fim e os
12 últimos da lista são subsarianos.
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