terça-feira, 26 de março de 2013

EM LUME BRANDO





Para os tempos mais próximos, temos mais um fogo financeiro na zona euro apagado. Desta vez, centrado em Nicósia, capital desse Chipre que fica na outra ponta da Europa. De novo, o desenho da operação, que parece concitar as cedências recíprocas incontornáveis, só se conjugam na 25ª. hora, sob a ameaça da declaração de falência a um único dia de distância. O ministro das Finanças da Alemanha foi lesto a assumir, perante a opinião pública do seu pais - mas também, perante o palco imenso, em tempo real, dos espectadores em todo o mundo -, a paternidade da operação e a satisfação por se ter chegado finalmente à solução nos moldes que a Alemanha desejava.

O que o capitão da brigada de bombeiros germânico não esclareceu é a razão de, há uma semana, todos se terem enganado tão clara e visivelmente, propondo uma taxa sobre todas as poupanças. Essa decisão insensata, que incinerou a garantia da intocabilidade dos depósitos até 100 mil euros, na zona euro, deixa um rasto de desconfiança sobre todo o sistema financeiro, que opera com euros, acerca do que o novo executivo ad hoc, à escala dos 17 membros da moeda única europeia, chamado Eurogrupo, é capaz de fazer com o dinheiro de cada um.

Algo de muito errado está incorporado neste edifício institucional, que permite tomar decisões numa madrugada, alarmantes aos olhos da opinião pública, mal são publicados, sem que mereçam o veto do bom senso por parte de um único participante na maratona negocial.

Nestas circunstâncias, e para além de vermos como evolui a situação económica e financeira em Chipre e na Grécia - face aos gravosos programas de austeridade, que as suas populações têm de aguentar -, cada vez faz menos sentido irmos, de novo, para eleições para o Parlamento Europeu, dentro de um ano, como se nada entretante se tivesse passado. Como se não fosse claro para milhões de europeus, que esta UE e esta zona euro, tal como estão desenhadas, precisam de ser reconstruídas de alto a baixo.

Golpes em África

Mais um golpe em África, desta vez na República Centro Africana, país encravado, antiga colónia francesa que um dia até produziu um ditador que chegou a proclamar-se imperador. Falar de mais um golpe não é, porém, uma referência à época pós-independências, em que o continente servia de tabuleiro de jogo para Estados Unidos e União Soviética. Apesar da vaga democratizadora das últimas duas décadas (já no pós-Guerra Fria) ter gerado casos de sucesso como Botswana, Cabo Verde, Senegal ou Gana, as tomadas do poder de forma violenta continuam a acontecer, como foi o caso em 2008 na Guiné-Conacri, em 2010 no Níger e em 2012 no Mali e na Guiné-Bissau.

Desde conflitos tribais a militares descontentes com salários, passando por obscuros interesses económicos, tudo serve para explicar esta má sina da África subsariana. Causa ou consequência desta instabilidade política, o Índice de Desenvolvimento Humano da ONU aponta o Níger como o pior país do mundo para viver, a República Centro Africana, hoje no centro das atenções, é o oitavo a contar do fim e os 12 últimos da lista são subsarianos.

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