Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, editorial
É escandaloso o
acordo a que se chegou para supostamente salvar Chipre da bancarrota e que
legitima o assalto às contas de quem tem mais de 100 mil euros no banco.
Rompeu-se um princípio que se julgava inviolável, mas não só. Até se diz que
pode ser só uma primeira vez.
Uma criatura que não fumou, não bebeu, não jantou fora, não foi de férias para
outra ilha como Cuba em regime de tudo incluído, não mudou de carro todos os
três anos e pôs o dinheiro no banco, amealhando por exemplo o que não fumou
durante 15 anos, foi espoliada.
É verdade que há
uma tese que diz que quem não fez nada disso também não pagou impostos sobre o
consumo e que os paga agora sobre as poupançazinhas com que contava para a
reforma ou para ajudar um filho doente. Também há quem pense que os fumadores
não deveriam ser tratados de doenças crónicas derivadas do tabaco e outros que
pensam que quem fuma paga tantos impostos que não pode ser minimamente
discriminado (há depois uma tese sensata que diz que o Serviço Nacional de
Saúde deve ser para todos indistintamente).
O problema com
Chipre é que para evitar essa discussão se arranjou a explicação, segundo a
qual o país não passa de uma gigantesca offshore onde russos malandros e
mafiosos depositam os seus dinheiros fruto de infames lavagens. O mais estranho
do raciocínio calvinista é que até parece que Chipre alguma vez foi outra coisa
que um entreposto de interesses ou de guerras. Dá vontade de rir. E dá vontade
também de perguntar o que são a Suíça ou o Liechtenstein (que não são da União),
o que é o Luxemburgo, o que era a Islândia, o que era a Irlanda, o que é que a
Holanda proporciona de tão bom para ter tantas sedes de mercearias finas e a
granel.
Desde que entrou
para a União, Chipre acentuou uma determinada vocação que já tinha e descobriu-se-lhe
uma veia mais acentuada de entreposto, desta vez de dinheiro. Agora que se pôs
lá a questão do confisco dos depósitos bancários acima de 100 mil euros, está
aberto um precedente que pode estender-se a toda a zona euro, como já admitem
alguns (ir)responsáveis da União. É bom que quem tem esse discurso tenha também
a noção de que cada país tem os seus depositantes que por isto ou por aquilo
confiam em sistemas bancários aos quais se sentem ligados. O que aconteceu em
Chipre é verdadeiramente um precedente e uma corrente de ar que pode constipar
e criar epidemias inesperadas até em Portugal.
Ventos positivos de
mudança no turismo português
A época da Páscoa
é, por definição, época de turismo. Este ano há indicadores de que a quadra não
vai ser má, antes pelo contrário. Além desta boa notícia pontual parece estar a
verificar-se outra no sector. Trata-se da chegada do novo secretário de Estado,
Adolfo Mesquita Nunes. Há neste momento indicações de empresários do sector do
turismo segundo as quais o novo titular está determinado a aliviar a verdadeira
canga estatal que existe sobre a actividade. Esse fardo vai de uma quantidade
inimaginável de taxas e burocracia à asfixia fiscal, com níveis de impostos que
destroem a capacidade de concorrer com outros mercados. Num momento em que
tanto se critica o governo, saúde-se a escolha de alguém com perfil para uma
área em que realmente algum liberalismo faz sentido.
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