terça-feira, 26 de março de 2013

Chipre: castigar os “malandros” dos russos e os “pindéricos” poupadinhos




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, editorial

É escandaloso o acordo a que se chegou para supostamente salvar Chipre da bancarrota e que legitima o assalto às contas de quem tem mais de 100 mil euros no banco. Rompeu-se um princípio que se julgava inviolável, mas não só. Até se diz que pode ser só uma primeira vez.

Uma criatura que não fumou, não bebeu, não jantou fora, não foi de férias para outra ilha como Cuba em regime de tudo incluído, não mudou de carro todos os três anos e pôs o dinheiro no banco, amealhando por exemplo o que não fumou durante 15 anos, foi espoliada.


É verdade que há uma tese que diz que quem não fez nada disso também não pagou impostos sobre o consumo e que os paga agora sobre as poupançazinhas com que contava para a reforma ou para ajudar um filho doente. Também há quem pense que os fumadores não deveriam ser tratados de doenças crónicas derivadas do tabaco e outros que pensam que quem fuma paga tantos impostos que não pode ser minimamente discriminado (há depois uma tese sensata que diz que o Serviço Nacional de Saúde deve ser para todos indistintamente).

O problema com Chipre é que para evitar essa discussão se arranjou a explicação, segundo a qual o país não passa de uma gigantesca offshore onde russos malandros e mafiosos depositam os seus dinheiros fruto de infames lavagens. O mais estranho do raciocínio calvinista é que até parece que Chipre alguma vez foi outra coisa que um entreposto de interesses ou de guerras. Dá vontade de rir. E dá vontade também de perguntar o que são a Suíça ou o Liechtenstein (que não são da União), o que é o Luxemburgo, o que era a Islândia, o que era a Irlanda, o que é que a Holanda proporciona de tão bom para ter tantas sedes de mercearias finas e a granel.

Desde que entrou para a União, Chipre acentuou uma determinada vocação que já tinha e descobriu-se-lhe uma veia mais acentuada de entreposto, desta vez de dinheiro. Agora que se pôs lá a questão do confisco dos depósitos bancários acima de 100 mil euros, está aberto um precedente que pode estender-se a toda a zona euro, como já admitem alguns (ir)responsáveis da União. É bom que quem tem esse discurso tenha também a noção de que cada país tem os seus depositantes que por isto ou por aquilo confiam em sistemas bancários aos quais se sentem ligados. O que aconteceu em Chipre é verdadeiramente um precedente e uma corrente de ar que pode constipar e criar epidemias inesperadas até em Portugal.

Ventos positivos de mudança no turismo português

A época da Páscoa é, por definição, época de turismo. Este ano há indicadores de que a quadra não vai ser má, antes pelo contrário. Além desta boa notícia pontual parece estar a verificar-se outra no sector. Trata-se da chegada do novo secretário de Estado, Adolfo Mesquita Nunes. Há neste momento indicações de empresários do sector do turismo segundo as quais o novo titular está determinado a aliviar a verdadeira canga estatal que existe sobre a actividade. Esse fardo vai de uma quantidade inimaginável de taxas e burocracia à asfixia fiscal, com níveis de impostos que destroem a capacidade de concorrer com outros mercados. Num momento em que tanto se critica o governo, saúde-se a escolha de alguém com perfil para uma área em que realmente algum liberalismo faz sentido.

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