terça-feira, 26 de março de 2013

Euro. Maioria rejeita saída, mas já há dúvidas em Ferro, Silva Peneda e Bagão




Margarida Bon de Sousa – Jornal i

Entre os defensores incondicionais da permanência de Portugal na moeda única, há cada vez mais vozes críticas sobre a forma como a Europa está a gerir a crise na zona euro. Mais ou menos veladamente, está aberto o debate sobre o euro

O mainstream político português é ainda, por esmagadora maioria, a favor da permanência de Portugal no euro. Mas declarações como as de ontem do presidente do Eurogrupo, que remeteu para os bancos a responsabilidade de se recapitalizarem, admitindo soluções idênticas às impostas aos depositantes do Chipre (ver pagina 18 e 19) leva a que cada mais personalidades defendam, pelo menos, um debate sobre a possibilidade de Portugal sair do euro.

As direcções do PSD, do CDS, do PS e do Bloco de Esquerda nem querem ouvir falar nesse cenário. O argumento principal comum a todos é que haveria uma brutal desvalorização dos salários e consequente empobrecimento (ainda maior) da população que continuaria a pagar as importações em euros e a consumir numa nova moeda muito fraca. A única excepção é o PCP (ver texto ao lado) que, mesmo assim, não admite a saída do euro sob a tutela deste governo.  

Cavaco Silva 

O Presidente da República, cada vez mais crítico do rumo que a zona euro está a trilhar, também considera que é preciso fazer tudo para salvar o euro, embora repensando toda a arquitectura da política europeia. No prefácio do livro com os seus mais recentes discursos, Cavaco Silva lembrou que “tendo bem presente que a crise do euro é sinónimo de crise da Europa, nas minhas intervenções não poupei críticas aos egoísmos nacionais revelados por alguns Estados, à deriva intergovernamentalista no funcionamento da União, em detrimento do método comunitário, e à emergência de directórios de países que se sobrepõem às instituições comunitárias e limitam a margem de manobra destas últimas”.

No entanto, o Presidente da República acrescenta que “o fracasso [do euro] não seria só prejudicial para Portugal ou para países em situação idêntica à nossa. O fracasso do euro poria em causa o mercado interno e a política europeia de coesão social, alimentaria proteccionismos de cariz nacionalista e enfraqueceria a posição da Europa na cena internacional”.      

Debate
  
Os mais recentes acontecimentos em Chipre, a recessão económica na zona euro e, em particular, a espiral recessiva em Portugal provocou o aparecimento de dúvidas dentro dos sectores mais inesperados. Silva Peneda (ex-ministro de governos PSD e actual presidente do Conselho Económico e Social), o economista e professor João Duque, o ex-ministro das Finanças Bagão Félix e o ex-secretário-geral do PS Ferro Rodrigues também já preconizaram publicamente a oportunidade uma discussão sobre a saída da moeda única, mesmo defendendo a permanência de Portugal na moeda única.

O ex-ministro de Durão Barroso, Bagão Félix, admite “discutir sem tabus” o futuro do euro, avançando que existem diversos cenários, inclusive a coabitação de dois euros, um mais forte e outro mais fraco. 
  
Silva Peneda, ex-ministro de Cavaco Silva, defende que o espírito que presidiu ao aprofundamento da UE e consequente criação de uma moeda única foi de coesão social e que a actual situação está a criar “um fosso cada vez maior entre países ricos e pobres que utilizam a mesma moeda”.  

Ferro Rodrigues disse recentemente no fórum sobre políticas públicas que se realizou no ISCTE que “não podemos estar no euro e sentirmos como se estivéssemos numa ratoeira. Se tiver de escolher entre o euro e a democracia, eu cá escolho a democracia”. O ex-secretário geral do PS receia que fiquemos “muitos anos em austeridade em nome do euro”, embora defenda que, mesmo assim “nos devemos manter no euro”. Ferro admite, no entanto, que a médio e longo prazo “muitos dos estados tenham de repensar a sua pertença à moeda única”.

O ex-ministro de Cavaco Silva, Mira Amaral, está no outro lado da barricada, continuando a defender incondicionalmente a permanência do país na moeda única. “Portugal não devia abandonar a moeda única”, disse ao i. “Elevado ou não, conseguimos praticamente não ter défice externo. Neste momento o problema é o desequilíbrio público. Se a dívida externa está em moeda forte, não faz sentido termos uma moeda fraca. Devíamos estar era a fazer o melhor que podemos para resolver o ajustamento ”, defendeu. 

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