Margarida Bon de
Sousa – Jornal i
Entre os defensores
incondicionais da permanência de Portugal na moeda única, há cada vez mais
vozes críticas sobre a forma como a Europa está a gerir a crise na zona euro.
Mais ou menos veladamente, está aberto o debate sobre o euro
O mainstream
político português é ainda, por esmagadora maioria, a favor da permanência de
Portugal no euro. Mas declarações como as de ontem do presidente do Eurogrupo,
que remeteu para os bancos a responsabilidade de se recapitalizarem, admitindo
soluções idênticas às impostas aos depositantes do Chipre (ver pagina 18 e 19)
leva a que cada mais personalidades defendam, pelo menos, um debate sobre a
possibilidade de Portugal sair do euro.
As direcções do
PSD, do CDS, do PS e do Bloco de Esquerda nem querem ouvir falar nesse cenário.
O argumento principal comum a todos é que haveria uma brutal desvalorização dos
salários e consequente empobrecimento (ainda maior) da população que continuaria
a pagar as importações em euros e a consumir numa nova moeda muito fraca. A
única excepção é o PCP (ver texto ao lado) que, mesmo assim, não admite a saída
do euro sob a tutela deste governo.
Cavaco Silva
O
Presidente da República, cada vez mais crítico do rumo que a zona euro está a
trilhar, também considera que é preciso fazer tudo para salvar o euro, embora
repensando toda a arquitectura da política europeia. No prefácio do livro com
os seus mais recentes discursos, Cavaco Silva lembrou que “tendo bem presente
que a crise do euro é sinónimo de crise da Europa, nas minhas intervenções não
poupei críticas aos egoísmos nacionais revelados por alguns Estados, à deriva
intergovernamentalista no funcionamento da União, em detrimento do método comunitário,
e à emergência de directórios de países que se sobrepõem às instituições
comunitárias e limitam a margem de manobra destas últimas”.
No entanto, o Presidente da República acrescenta que “o fracasso [do euro] não
seria só prejudicial para Portugal ou para países em situação idêntica à nossa.
O fracasso do euro poria em causa o mercado interno e a política europeia de
coesão social, alimentaria proteccionismos de cariz nacionalista e
enfraqueceria a posição da Europa na cena internacional”.
Debate
Os
mais recentes acontecimentos em Chipre, a recessão económica na zona euro e, em
particular, a espiral recessiva em Portugal provocou o aparecimento de dúvidas
dentro dos sectores mais inesperados. Silva Peneda (ex-ministro de governos PSD
e actual presidente do Conselho Económico e Social), o economista e professor
João Duque, o ex-ministro das Finanças Bagão Félix e o ex-secretário-geral do
PS Ferro Rodrigues também já preconizaram publicamente a oportunidade uma
discussão sobre a saída da moeda única, mesmo defendendo a permanência de
Portugal na moeda única.
O ex-ministro de
Durão Barroso, Bagão Félix, admite “discutir sem tabus” o futuro do euro,
avançando que existem diversos cenários, inclusive a coabitação de dois euros,
um mais forte e outro mais fraco.
Silva Peneda,
ex-ministro de Cavaco Silva, defende que o espírito que presidiu ao
aprofundamento da UE e consequente criação de uma moeda única foi de coesão
social e que a actual situação está a criar “um fosso cada vez maior entre
países ricos e pobres que utilizam a mesma moeda”.
Ferro Rodrigues
disse recentemente no fórum sobre políticas públicas que se realizou no ISCTE
que “não podemos estar no euro e sentirmos como se estivéssemos numa ratoeira.
Se tiver de escolher entre o euro e a democracia, eu cá escolho a democracia”.
O ex-secretário geral do PS receia que fiquemos “muitos anos em austeridade em
nome do euro”, embora defenda que, mesmo assim “nos devemos manter no euro”.
Ferro admite, no entanto, que a médio e longo prazo “muitos dos estados tenham
de repensar a sua pertença à moeda única”.
O ex-ministro de
Cavaco Silva, Mira Amaral, está no outro lado da barricada, continuando a
defender incondicionalmente a permanência do país na moeda única. “Portugal não
devia abandonar a moeda única”, disse ao i. “Elevado ou não, conseguimos
praticamente não ter défice externo. Neste momento o problema é o desequilíbrio
público. Se a dívida externa está em moeda forte, não faz sentido termos uma
moeda fraca. Devíamos estar era a fazer o melhor que podemos para resolver o
ajustamento ”, defendeu.
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