Jornal i - Lusa
O secretário-geral
comunista, Jerónimo de Sousa, e o economista João Ferreira do Amaral defenderam
hoje o abandono da moeda única europeia por parte de Portugal para evitar
"o diretório" e "domínio" alemães.
"Os últimos
acontecimentos em Chipre, com as medidas de confisco impostas ao povo cipriota,
revelam bem a natureza espoliadora deste projeto. Aos trabalhadores e ao povo
de Chipre, mais uma vez reafirmamos a nossa solidariedade e ao povo português a
garantia de que jamais aceitaremos tanto o confisco dos salários e dos
subsídios, como não aceitaremos o confisco dos depósitos das poupanças do
povo", disse Jerónimo de Sousa no debate "O Euro e a Dívida",
num hotel de Lisboa.
O líder do PCP
reforçaria que "quem vai arrecadar esse roubo são os mesmos do costume - o
capital financeiro, talvez mais os alemães", antes de ser conhecida a
notícia de que o parlamento cipriota rejeitou o plano de resgate dos credores
internacionais, prevendo um imposto sobre depósitos bancários superiores a 20
mil euros.
"Em termos de
saída, não há outra hipótese mais desejável que uma saída negociada. A nossa
debilidade neste momento é total. Bastaria pensar que o Banco Central Europeu
cortava o financiamento aos bancos. A nossa economia entrava em colapso",
alertou Ferreira do Amaral, precisando ser necessário um "poder político
forte" em Portugal para o fazer.
O também
historiador sublinhou as "margens de negociação importantes" em
relação ao "domínio da Alemanha, que deu um passo com esta crise do Chipre
nesse sentido", transmitindo a ideia aos investidores de que não devem
"por dinheiro nos bancos dos países periféricos", mas antes nos
germânicos, "que estão bem".
"Nós, país,
corremos hoje um risco enorme. Se a situação na zona Euro se vier a acalmar,
poderá significar a desvalorização do dólar e uma valorização do Euro para 1,5
ou 1,6 dólares. Se o Euro passar para esse nível, significa que a nossa
estrutura produtiva será praticamente varrida. É uma espada sobre a nossa
cabeça sobre a qual não temos qualquer capacidade de intervenção",
explicou ainda.
Jerónimo de Sousa
ressalvou que "afirmar, de forma estrita e seca, a saída do euro, a modos
de salvação milagrosa do país, sem o quadro de políticas que a deve enquadrar e
acompanhar, é uma abordagem redutora do problema".
"Ninguém tem
dúvidas de que, no Euro ou fora do Euro, quais os interesses de classe seriam
defendidos e protegidos por um poder político de direita, ao serviço do capital
financeiro dos monopólios, submetido ao diretório e à Alemanha", criticou,
reiterando a necessidade de "renegociar a dívida em todos os seus termos:
prazos, juros e montantes, recusando o garrote".
O antigo líder
parlamentar do PCP Octávio Teixeira, também economista, lembrou que "a
saída do euro implica ter um banco central próprio, com toda a sua capacidade
de atuação".
"A saída do
Euro e desvalorização da moeda [nacional], implica o aumento das exportações e
a redução das importações, substituídas por produção nacional", defendeu,
como alternativa ao atual "corte nos salários", acrescentando ainda
que "se o Euro acabar, o marco [alemão] valoriza-se 20 ou 30 por cento e a
economia alemã sofrerá muito com isso".
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