Jornal i - Lusa
O antigo Presidente
da República, Jorge Sampaio, considerou hoje que é necessário um reforço da
legitimidade do sistema político, frisando que cada vez menos os cidadãos
portugueses se revêm nos seus representantes políticos.
"A disfunção
entre a classe política e o povo é cada vez maior. Não temos sido capazes de
governar com sentido estratégico de forma a dar confiança aos
portugueses", afirmou o responsável, durante a conferência
"Reinventar o Futuro", promovida pela revista Visão, no âmbito das
comemorações do seu vigésimo aniversário, na Fundação Champalimaud, em Lisboa.
Jorge Sampaio
realçou que "a sociedade política tem sido incapaz de se reformar",
pelo que é preciso haver um "reforço da legitimidade do sistema
político" em Portugal.
E ilustrou:
"Quando estou sintonizado no Canal Parlamento, vejo a agressividade que
existe [entre os deputados de diferentes partidos]. Isto não pode ser
mobilizador para os cidadãos".
Criticando a falta
de cultura de compromisso político, Jorge Sampaio diz que a mesma se deve ao
"trauma com o bloco central de 1983-1985".
Questionado por
Francisco Pinto Balsemão, presidente do grupo Impresa, que moderava o debate,
se estava a defender um pacto de regime entre o PS e a coligação PSD e CDS,
atualmente no Governo, Sampaio sublinhou que "em Portugal, é muito mau
falar de pacto".
Porém, questionou:
"Na Educação, não pode haver algum acordo entre forças políticas? Na
Justiça? Na Saúde? Na Defesa? Será assim tão difícil? Temos que nos entender
sobre o imediato".
"Estou
absolutamente de acordo. Há 20 anos que falo de um pacto" de regime,
retorquiu Balsemão.
Sampaio justificou
esta posição com a atual situação do país que, no seu entender, "espelha a
crise aguda europeia" e reforça a necessidade de pensar o futuro acima dos
interesses partidários.
"O nó górdio à
nossa volta é tão grande, que, ou há alguns compromissos sérios que façam
frente à insensibilidade da 'troika', ou da tríade, como queiram chamar, ou
então estamos em grandes dificuldades", disse.
E reforçou:
"Temos que nos unir no sentido de dizer que isto assim não pode ser. Não
podem ser estes os desígnios da Europa".
Defendendo que a
União Europeia tardou em responder à crise financeira desencadeada com a
falência do banco norte-americano Lehman Brothers, o antigo governante frisou
que o contexto regional europeu torna ainda mais complexa a situação que se
vive em Portugal.
"Nós
precisamos de nos resgatar a nós próprios deste resgate", salientou,
dizendo que existe "a sensação" que a resposta europeia à crise está
à espera de "outros calendários", como as eleições na Alemanha.
"Está a
destruir-se uma comunidade [União Europeia] que demorou décadas a construir. A
atual divisão entre o norte e o sul, e entre o centro e o sul, é muito
negativa", assinalou.
"É preciso
encontrar no contexto atual uma estratégia de solidariedade. Quem me diria a
mim há uns anos que era possível estar agora a discutir a independência da
Catalunha, do País Basco ou da Escócia", concluiu Sampaio.
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