Henrique Monteiro –
Expresso, opinião
Há coisas que me
têm de explicar muito devagarinho, a ver se eu entendo. Parece que há uma lei
de 2007 (de Sócrates, o magnífico) que diz que um espião com mais de seis anos
de casa tem emprego assegurado o resto da vida. Faça o que fizer?
Perguntar-se-á - parece que sim.
Em função dessa
lei, o espião Jorge Silva Carvalho foi agora reintegrado na
presidência do Conselho de Ministros, com direito a assinatura de Passos Coelho
e Vítor Gaspar e com o salário base que auferia quando era diretor do SIS. Para
fazer o quê? Ah! Bom isso não sabemos, porque ainda ninguém sabe o que pode lá
fazer o espião (embora ideias não me faltem).
Pronto a notícia
está arrumada. A Lei é lei que se há de fazer? Etc. e tal.
Mas espera aí! Não
foi este Governo que anunciou que vão uma série de funcionários para a rua?
Mas espera aí: Não
é este o funcionário exemplar que está acusado de abuso de poder, violação de
segredo de Estado e acesso indevido a dados pessoais? O tal que espiou um
jornalista, deu informações privilegiadas a uma empresa e chegou a mandar
espiar a ex-mulher de um amigo?
Mas espera aí! Não
foi este mesmo Jorge Silva Carvalho que se demitiu das secretas em Novembro de
2010, nas vésperas de uma cimeira da NATO em Portugal, por discordar do
corte de verbas?
Mas espera aí! Não
foi este o espião que depois arranjou emprego no Conselho de Administração de
uma, então prospérrima empresa privada que ia comprar meio mundo (e ao
serviço da qual, suspeita-se, colocou os seus dotes de espião)?
Não deve ser. Deve
ser outro Jorge Silva Carvalho. Porque se fosse o mesmo - e estando o
Governo a meter funcionários na rua - começaria por este. Que já se demitiu! Que
quis mudar de vida. Que passou do Estado para a privada por vontade própria!
Que é arguido por ter prejudicado o próprio Estado.
Deve ser outro,
porque o Governo não é assim tão escrupuloso na lei, quando se trata de
pensionistas, reformados, assalariados, desempregados, pessoas - digamos -
normais.
Deve ser outro,
porque este era amigo do dr. Relvas e o dr. Passos Coelho, como se sabe,
não beneficia os amigos nem os amigos dos amigos, nem sequer os amigos dos
amigos dos amigos.
Mas nem vale a pena
fazer comentários. George Orwell, no seu magnífico livro 'O Triunfo dos Porcos'
(em inglês Animal's Farm) escreve a célebre frase: "Todos somos
iguais, mas alguns são mais iguais do que outros". Parece que os porcos
não triunfaram só na quinta imaginada por Orwell.
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