EL – APN - Lusa
Luanda, 02 abr
(Lusa) - Marcolino Moco, antigo primeiro-ministro e secretário-geral do MPLA,
partido no poder em Angola, considerou hoje em Luanda que o regime do
Presidente José Eduardo dos Santos "não é uma ditadura, mas tem efeitos
praticamente semelhantes".
"Há um grande
desfasamento entre a proclamação de um Estado democrático e aquilo que se vive
hoje, que provavelmente não é uma ditadura, daquelas que se viveu, por exemplo,
no Zaire de Mobutu, ou no Uganda de Idi Amin, mas muitos efeitos são
praticamente semelhantes", disse.
"Embora ainda
ligado ao MPLA, sei despir-me deste casaco. Angola vive uma hora grave",
acentuou.
Moco, que interveio
no primeiro dia de trabalhos do congresso extraordinário da terceira maior
força política angolana, a coligação CASA-CE, liderada por Abel Chivukuvuku,
antigo dirigente da UNITA, foi convidado pela organização a apresentar uma
comunicação sobre "O Estado, a Democracia e a Cidadania em Angola".
Sobre o exercício
da cidadania em Angola, Marcolino Moco referiu-se à frustrada manifestação do
passado sábado, impedida de se realizar pela polícia, que alegou falta de
autorização legal.
A manifestação de
sábado, que resultou na detenção durante algumas horas de 18 pessoas, visava
exigir às autoridades informações sobre o paradeiro de dois jovens
desaparecidos há cerca de um ano em Luanda, quando tentavam organizar uma
manifestação antigovernamental.
"Impedir as
pessoas de se pronunciar sobre o seu próprio país, impedir as pessoas de
realizarem atos previstos na própria Constituição, no desenvolvimento de uma
situação grave, de dois jovens desaparecidos, mas quando alguém fala nisso, vai
para a cadeia também ou apanha porrada" foram situações que criticou.
Marcolino Moco
classificou, por outro lado, como "imoral" e "escandaloso"
que as riquezas de Angola não sejam distribuídas com equidade.
"Temos a
situação gravíssima, que é a da espoliação das riquezas do país por parte de
uma família. É difícil falar-se nisso, porque há um certo medo, mas é uma
situação escandalosa, que eu na minha idade não posso esconder", afirmou.
O ex-secretário
geral do MPLA, que foi também o primeiro secretário executivo da Comunidade dos
Países de Língua Portuguesa (CPLP) denunciou ainda como "antiético" e
"inaceitável" que José Eduardo dos Santos tenha feito da sua filha
Isabel, "a mais rica de África".
"Esse país
vive debaixo de um golpe - se calhar não vou chamar de estado, porque senão
dizem que estou a exagerar. Há aqui um golpe qualquer, em que as grandes
questões não são debatidas", lamentou.
Outro convidado
pela CASA-CE para intervir na abertura dos trabalhos, foi o independente Carlos
Rosado de Carvalho, economista e jornalista, que apresentou o que considera
serem as diferentes características da economia angolana, antes da
independência, em 1975, até à atualidade.
Carlos Rosado
também comentou a recente designação de Isabel do Santos, filha mais velha do
Presidente angolano, como a mulher mais rica de África na lista elaborada pela
Forbes com as maiores fortunas.
"Não é
significativo, nem representa efetivamente a nova Angola. De facto, não tem
nada a ver com Angola, ou pelo menos não tem nada a ver com 99,9 por cento dos
cidadãos angolanos, que vivem uma vida muito difícil", comentou.
"Tenho
dificuldade em falar de coisas que não sei. Não é comum no mundo, se é que
acumulou essa riqueza toda, não é comum uma pessoa acumular tanta riqueza num
espaço de tempo tão curto", vincou.
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