sexta-feira, 19 de abril de 2013

Angola regista avanços nas leis sobre trabalho infantil, mas permanecem casos preocupantes




NME – JMR - Lusa

Luanda, 17 out (Lusa) - Angola está a dar passos significativos na legislação sobre combate ao trabalho infantil, mas relatos de crianças a trabalharem, sobretudo no setor da construção, ainda são preocupantes, afirmaram hoje em Luanda participantes num seminário.

O seminário sobre Trabalho Infantil em Angola, que decorre até quinta-feira, é organizado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), União Nacional de Trabalhadores de Angola - Confederação Sindical (UNTA-CS) e Associação Industrial de Angola (AIA).

Ao discursar na abertura do encontro, a subdiretora regional da OIT, Dayina Mahenga, manifestou satisfação por constatar no final de um estudo comparado sobre a aplicação das convenções e recomendações da OIT e a legislação angolana em matéria de trabalho infantil, que Angola tem conformado as suas leis às convenções que ratificou.

"Esta realidade impõe ao país maiores desafios no sentido de ser alcançado igual resultado em termos de aplicação e cumprimento efetivo da legislação nacional, pois assim haverá progressos significativos no combate ao trabalho infantil", disse Dayina Mahenga.

A secretária-geral da UNTA-CS, Maria Fernanda Francisco, representante dos trabalhadores, disse que o trabalho infantil em Angola é reflexo dos baixos rendimentos e também das insuficiências das políticas sociais no país.

"O trabalho infantil é uma das piores sequelas (da guerra) que assolou e continua a assolar o nosso país e é uma das consequências da pobreza e da miséria que ainda afeta a população angolana e, em particular, os trabalhadores", referiu a responsável da UNTA-CS.

Segundo Maria Fernanda Francisco, os estudos sobre o trabalho infantil em Angola realizados quer por estudiosos sobre o assunto, quer por departamentos do Governo angolano geralmente referem-se a uma diminuição deste fenómeno.

No entanto, aquela responsável sindical sublinha a necessidade de se reavaliarem os resultados, na medida em que todos apontam para a existência de trabalho infantil apenas nos setores informais, quando informações de associados da UNTA-CS indicam alguns casos "bastante preocupantes no setor formal".

O vice-presidente da AIA, Luciano Luís, a representar a classe empregadora, reconheceu a existência de casos de trabalho infantil no setor formal, mas que escapam ao controlo das autoridades angolanas, nomeadamente nas áreas da construção, na agricultura e no transporte de mercadorias nas zonas fronteiriças a norte, sul e leste do país.

Em declarações à Lusa, o chefe do departamento de proteção à criança do Instituto Nacional da Criança (INAC) angolano, Paulo Calesse, disse que o caso mais recente constatado pelas autoridades sobre trabalho infantil aconteceu em fevereiro, quando um camião foi detido a transportar da província da Huíla para o Namibe, 54 crianças, na sua maioria do sexo feminino, com idades entre os 13 e os 15 anos, para trabalhar em fazendas.

Paulo Calesse disse que neste momento a preocupação do INAC prende-se com as denúncias de crianças empregadas no setor da construção, na fabricação de blocos, na exploração de pedreiras.

"É uma preocupação e recentemente tivemos um encontro com os nossos colegas do Governo, da área da inspeção, para a identificação dessas empresas", disse Paulo Calesse, acrescentando que o INAC em 2012 recebeu cerca de 250 denúncias sobre o trabalho infantil.

Sem comentários:

Mais lidas da semana