Pedro Tadeu –
Diário de Notícias, opinião
António José Seguro
teve o seu congresso norte-coreano. Todos os congressos dos partidos são,
agora, momentos cerimoniais de aclamação e legitimação do líder, com
distribuição, negociada em bastidores, dos lugares secundários do poder
partidário. Para disfarçar, passa um desfile, nas pantalhas televisivas, com
uma multidão de dirigentes em simulacro de discussão e a manifestar, mão no
peito, apoio ao grande líder.
Andam os partidos,
não é só o PS, muito satisfeitos com este método, resultado da aplicação de
"diretas" para a eleição do secretário-geral. É uma melhoria
democrática, dizem. Não vejo em quê, nem onde mas, enfim, o caso não é comigo.
Portanto, calo-me com as comparações, certamente muito, muito injustas, para
mais vindas de um comuna que, segundo o clichê, só pode ser idiota, ou
estalinista ou ambos...
O que é comigo e
com todos os portugueses é António José Seguro pedir votos para ganhar as
eleições com maioria absoluta, sem descartar a possibilidade de vir a governar
em coligação.
Antonio José Seguro
quer ser primeiro-ministro. OK. Admito que ache útil pedir já votos para umas
eleições que, em princípio, ocorrerão daqui a dois anos. OK. Talvez preveja
eleições antecipadas e tenha decidido, à cautela, entrar em campanha. OK.
Sendo assim, há
algo que não está OK: a ausência de uma clarificação sobre que tipo de
coligação governamental está na mente de Seguro. E essa explicação não é
difícil: o PS, sim ou não, aceita governar coligado com o PSD? Com o CDS? Com o
PCP? Com o Bloco? Com todos? Só com a direita? Só com a esquerda? Em bloco
central? E, das oito hipóteses, qual prefere? Qual rejeita?
Um congresso
partidário não responder a coisa tão óbvia é, para ser caridoso, frustrante.
Seguro preocupou-se
em divulgar propostas de medidas económicas, não sei se boas mas certamente de
discussão pertinente. Mas estas ideias juntam-se às, literalmente, centenas de
outras, mais ou menos exequíveis, que os parceiros sociais anteriormente
fizeram, tal como os partidos (o próprio PS e, até, o CDS) e numerosos economistas.
Só o autismo deste Governo levou a que pouco ou nada fosse daí aproveitado. As
propostas económicas do congresso do PS têm, portanto, um mérito limitado no
que diz respeito a uma definição distintiva da sua política para o País.
"Diz-me com
quem andas, dir-te-ei quem és", proclama o provérbio. Se António José
Seguro quer esclarecer verdadeiramente os portugueses sobre o que pretende - se
mais do mesmo, com retoques, se mudança substancial - terá que dizer,
inequivocamente, com quem quer governar. É simples mas, parece, mete-lhe medo.
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