Pragmatismo Político
Autoridades
declararam a existência de “fortes indícios” de que os moradores em situação de
rua de Goiânia estejam sendo mortos por grupos de extermínio
Mais um morador de
rua foi morto em Goiânia (GO). Com a morte registrada na madrugada desta
segunda-feira (15), chega a 28 o número de assassinatos de pessoas que vivem
nas ruas da capital goiana em menos de oito meses. Segundo o chefe da Delegacia
de Investigações de Homicídios (DIH), delegado Murilo Polati, dois crimes
envolvendo moradores de rua foram registrados nas últimas horas na cidade.
Além do homem de
cerca de 40 anos, morto a facadas e pedradas e ainda não identificado, um rapaz
de 21 anos foi atingido por dois tiros. Os projéteis, supostamente de calibre
.22, acertaram o braço e as pernas da vítima. O rapaz está internado no
Hospital de Urgências de Goiânia (Hugo) e não corre risco de morrer. Segundo o
delegado, ele vivia na rua há cerca de dois meses.
De acordo com o
delegado, o assassinato do homem ainda não identificado está sendo apurado.
Nenhuma testemunha foi identificada até o momento e não há imagens que ajudem a
polícia a solucionar o crime. Mesmo assim, o delegado diz que, considerando a
forma como a vítima foi morta, a hipótese mais provável é de que o crime tenha
ocorrido depois de uma briga entre moradores de rua. Ele garante que todas as
possibilidades serão apuradas.
Ainda segundo
Polati, ao menos 18 das 29 mortes de moradores de rua estão relacionadas a
disputas motivadas por uso ou vendas de drogas, sobretudo do crack. O delegado
rebateu as denúncias de que as mortes estariam associadas à atuação de um grupo
de extermínio que contaria com a participação ou a conivência de policiais e de
autoridades do governo estadual.
Entre as
autoridades que declararam a existência de “fortes indícios” de que os
moradores em situação de rua de Goiânia estejam sendo mortos por grupos de
extermínio está o secretário nacional de Promoção e Defesa dos Direitos
Humanos, Gabriel Rocha. “Há uma política de extermínio em curso”, disse em
entrevista à Agência Brasil.
O presidente da
Comissão Nacional de Direitos Humanos da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB),
Wadih Damous, também sustenta a suspeita de que agentes públicos estejam
envolvidos com os crimes.
“Os relatos que
tivemos por parte da força-tarefa são preocupantes, de acordo com o que foi
dito pelos moradores de rua, pelas características dos assassinatos, há fortes
indícios de que há uma sistemática de extermínio, de execuções sumárias”, disse
Damous no início do mês, quando uma força-tarefa coordenada pela ministra da
Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República, Maria do Rosário,
visitou a capital goiana para colher o depoimento de pessoas que vivem nas
ruas, além de se reunir com representantes do Ministério Público e da Polícia
Civil de Goiás.
Com tantas mortes
há oito meses, não é absurdo supor que a polícia estadual esteja, no mínimo,
lavando as mãos; no máximo, envolvida.
Os moradores de rua
vêm sendo atacados a tiros, a facadas e espancados até a morte, um atrás do
outro, e nada acontece. Até ontem, quando alguns suspeitos foram presos, não
havia gritaria, nem manifestações.
Na ocasião, Damous
disse que os depoimentos contradiziam a versão de que as mortes eram
consequência de desentendimentos entre os próprios moradores de rua.
Leia também em Pragmatismo Político
Sem comentários:
Enviar um comentário