Tiago Mota Saraiva –
Jornal i, opinião
Contrariando a tese
de que devemos ser tolerantes com os silêncios e ausências do Presidente da
República pelo facto de as suas condições físicas e psíquicas o fazerem
titubear perante a realidade – são inúmeras as doenças que lhe são atribuídas
sem desmentidos ou confirmações oficiais, sendo que a verificarem-se até
obrigariam à sua resignação imediata – Cavaco Silva incomodou o mundo ao não
fazer qualquer referência a José Saramago, único Prémio Nobel português e
escritor maior, no seu discurso de inauguração da Feira do Livro de Bogotá.
Ignorando que a sua
obra literária não mereceria o convite para o evento cultural mais miserável e
que ali estava como representante de um país, Cavaco Silva não hesitou em fazer
um ajuste de contas pessoal com aquele que um dia o caracterizou como o
candidato presidencial que falava como se estivesse sempre a dar uma lição,
resumindo-o, superiormente, como “génio da banalidade”.
Regressado a
Portugal, Cavaco Silva refugiar-se-á no Palácio de Belém mergulhando no
silêncio protector dos ricos e poderosos, certamente contente consigo próprio e
descansado por pensar que de Saramago já não virá a merecida resposta. O que a
mesquinhez de Cavaco nunca o deixará ver é que a obra e a palavra de Saramago
têm uma dimensão incomensurável e intemporal que está para além da morte do seu
autor, que não será uma citação de Camões que nos fará esquecer que não sabia
quantos cantos tinham “Os Lusíadas” e que umas quantas fotografias com o
artista de Estado do momento não lhe transformarão o cognome com que Saramago
tão bem o resumiu.
Escreve ao sábado
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