sábado, 20 de abril de 2013

CAVACO SILVA, GÉNIO DA BANALIDADE




Tiago Mota Saraiva – Jornal i, opinião

Contrariando a tese de que devemos ser tolerantes com os silêncios e ausências do Presidente da República pelo facto de as suas condições físicas e psíquicas o fazerem titubear perante a realidade – são inúmeras as doenças que lhe são atribuídas sem desmentidos ou confirmações oficiais, sendo que a verificarem-se até obrigariam à sua resignação imediata – Cavaco Silva incomodou o mundo ao não fazer qualquer referência a José Saramago, único Prémio Nobel português e escritor maior, no seu discurso de inauguração da Feira do Livro de Bogotá.

Ignorando que a sua obra literária não mereceria o convite para o evento cultural mais miserável e que ali estava como representante de um país, Cavaco Silva não hesitou em fazer um ajuste de contas pessoal com aquele que um dia o caracterizou como o candidato presidencial que falava como se estivesse sempre a dar uma lição, resumindo-o, superiormente, como “génio da banalidade”.

Regressado a Portugal, Cavaco Silva refugiar-se-á no Palácio de Belém mergulhando no silêncio protector dos ricos e poderosos, certamente contente consigo próprio e descansado por pensar que de Saramago já não virá a merecida resposta. O que a mesquinhez de Cavaco nunca o deixará ver é que a obra e a palavra de Saramago têm uma dimensão incomensurável e intemporal que está para além da morte do seu autor, que não será uma citação de Camões que nos fará esquecer que não sabia quantos cantos tinham “Os Lusíadas” e que umas quantas fotografias com o artista de Estado do momento não lhe transformarão o cognome com que Saramago tão bem o resumiu.

Escreve ao sábado

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