Mário Augusto
Jakobskind* - Direto da Redação - ontem
A morte de Margaret
Thatcher de alguma forma provocou um fenômeno raro, não só na própria Grã
-Bretanha como também em várias partes do mundo. Desta vez a morta não virou
santa, muito pelo contrário. Foi hostilizada pelos que sofrerarm as agruras do
modelo neoliberal implantado pela dama de ferro.
A torcida do
Liverpool, pelo menos desde 1989 quando ocorreu um episódio repressivo
sangrento com mais de 90 mortos, cantava com palavras comemorativas a morte da
dama de ferro. Além disso, a política de Thatcher fez muito mal aos
trabalhadores da região. Antes mesmo de se tornar primeira ministra, ao ocupar
o Ministério da Educação, Margaret Thatcher cortou o leite das crianças nas
escolas.
Quando Augusto
Pinochet estava em prisão domiciliar em Londres aguardando pedido de extradição
para a Espanha feito pelo juiz Baltazar Garzón, madame Thatcher visitava o
ex-ditador e agradecia a ele por ter ajudado o Reino Unido durante a
guerra das Malvinas. Thatcher chegou até a afirmar que Pinochet restabeleceu a
democracia no Chile.
Como se não
bastasse, antes mesmo do reconhecimento de Pinochet, Madame Thatcher dizia que
Mandela era terrorista. E assim caminhava a dama de ferro.
Independente de
tudo isso, por aqui os defensores da política criminosa executada pela dama de
ferro chegaram a comentar como seria bom para o Brasil ter uma dama de ferro
para levar adiante as reformas necessárias para, segundo eles, modernizar o
país. Esta foi a opinião exposta pelo analista econômico das Organizações
Globo, Carlos Alberto Sardenberg.
Mas, no Congresso,
o Senador Roberto Requião, do PMDB do Paraná, discursou lembrando passagens
nefastas protagonizadas pela dama de ferro, deixando perplexos alguns senadores
acostumados com a cultura da santificação de personagens que morrem, sobretudo
os propagadores da ideologia da falecida dama de ferro.
Eleição venezuelana -
Um mês após a morte do Presidente Hugo Chávez, a direita venezuelana e seus
apoiadores pelo mundo afora comemoravam o acontecimento. Em alguns muros de
Caracas, por exemplo, os apoiadores do candidato Henrique Capriles pichavam a
seguinte frase: “viva o câncer”.
Nos primeiros dias
que se seguiram a morte de Chávez, a mídia conservadora ainda procurou esconder
o contentamento, mas aos poucos transferiu o ódio que nutria pelo Presidente ao
seu herdeiro político, Nicolas Maduro.
E nos dez dias da
campanha eleitoral venezuelana, a mesma mídia de mercado, apoiadora em gênero
número e grau de madame Thatcher, encheu a bola de Capriles. Não tiveram a
coragem de concluir que o candidato da direita pudesse ganhar de Maduro.
Mesmo com a eleição
de Maduro, a direita de todos os quadrantes continuará tentando produzir fatos
midiáticos com o objetivo de enfraquecer o presidente eleito e evitar a
continuidade da Revolução bolivariana.
Maduro é o sucessor
do comandante da Revolução Bolivariana, Hugo Chávez. E ninguém poderá dizer que
não há democracia na Venezuela. Capriles com o apoio do governo estadunidense
tenta contestar a eleição denunciando fraude, passando por cima das conclusões
de observadores estrangeiros, entre os quais os integrantes da Fundação Carter.
Maduro ganhou por
pouco mais de 200 mil votos de diferença, enquanto Capriles se elegeu
governador de Miranda com 30 mil votos de diferença. Mas isso a mídia de
mercado prefere não lembrar, porque enfraqueceria os argumentos do candidato
apoiado pelo Departamento de Estado norte-americano.
No vizinho Paraguai,
as atenções se voltam para o próximo domingo (21), quando cerca de três milhões
e 500 mil eleitores estarão escolhendo o próximo Presidente da República,
renovando a Câmara dos Deputados, integrada por 80 parlamentares, e 45
senadores.
Na disputa
presidencial, o candidato do Partido Colorado, Horacio Cartes despontava em
primeiro lugar nas pesquisas, seguido de perto pelo indicado pelo Partido
Liberal Autêntico, o ex-ministro do governo Fernando Lugo, um tal de Efrain
Alegre, apoiado pelo atual presidente de fato Federico Franco, que assumiu a
presidência depois de um golpe parlamentar. Mas novas pesquisas indicavam
alterações do quadro, o que torna difícil uma previsão.
Mario Ferreiro,
candidato de esquerda, aparecia em terceiro lugar, enquanto outro candidato de
esquerda, Anibal Carrillo Iramaín, da Frente Guazú, o partido de Lugo,
encontrava-se mais abaixo. O presidente deposto por golpe parlamentar, Fernando
Lugo, é candidato ao Senado.
Horacio Cartes é
acusado de ter vínculos com o narcotráfico e domina a venda de cigarros na
fronteira do Paraguai com o Brasil. Cartes nega a primeira acusação.
Para se ter uma
ideia do perfil de Cartes, ao ser indagado sobre o que faria se tivesse um
filho gay e defendesse a união afetiva, o candidato respondeu sem pestanejar:
“daria um tiro nas minhas próprias bolas”.
Em tempo: Depois de
observar 91 eleições em várias partes do mundo, Jimmy Carter concluiu que o
processo eleitoral na Venezuela é o melhor do mundo. O que terá a dizer
Capriles e o Deprtamento de Estado norte-americano?
*É correspondente no
Brasil do semanário uruguaio Brecha. Foi colaborador do Pasquim, repórter da
Folha de São Paulo e editor internacional da Tribuna da Imprensa. Integra o
Conselho Editorial do seminário Brasil de Fato. É autor, entre outros livros,
de América que não está na mídia, Dossiê Tim Lopes - Fantástico/IBOPE
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