Antonio Tozzi,
Miami – Direto da Redação
Miami (EUA) -
O Rio de Janeiro é seguro? O Brasil é seguro? O país que sediará a Copa do
Mundo no ano que vem e a cidade sede dos Jogos Olímpicos em 2016 são violentos?
Essas questões
ganharam relevância ainda maior depois de um casal de estrangeiros ter vivido
uma situação aterrorizante no Sábado de Aleluia, dentro de uma van clandestina
no Rio de Janeiro.
Recapitulando a
história: "Os dois jovens vítimas da violência vieram ao Rio participar de
um intercâmbio. Eles moravam na Zona Sul, e na noite de sábado decidiram ir
para a Lapa. Na avenida Nossa Senhora de Copacabana, na altura do Posto 5,
embarcaram na van, conduzida pelos criminosos. O casal viveu momentos de terror
durante cerca de seis horas. O jovem francês, de 23 anos, foi algemado e
espancado com a chave de roda do carro, enquanto, segundo investigadores, era
obrigado pelos criminosos a ver a namorada americana, de 21 anos, ser agredida
e estuprada repetidas vezes".
Logicamente, a
imprensa internacional repercutiu o caso com preocupação. Segundo uma matéria
publicada no Website do diário USA Today, o caso levanta "novas
suspeitas sobre a segurança no Rio", cidade que vai ser sede da Copa do
Mundo em 2014 e da Olimpíada de 2016.
Ainda de acordo com
a reportagem do diário, o ataque faz comparações do episódio com o caso do
estupro coletivo de uma jovem estudante em um ônibus de Nova Delhi, na Índia,
em dezembro. Também afirma que vans como a usada pelos criminosos são
frequentemente ligadas ao crime organizado no Rio.
O Website do The
Christian Science Monitor também levantou "preocupantes
questionamentos" sobre a segurança em uma cidade "adorável, mas
infestada pela violência" e que tenta "refazer sua imagem antes de
ser palco para o mundo no ano que vem". A emissora de TV CNN publicou em
seu Website reportagem que informava a prisão do terceiro suspeito do crime. A
emissora informou que o Consulado dos EUA no Rio estava em contato com a
vítima, dando toda a assistência necessária. A emissora também destacou que,
com o aumento dos casos de estupro registrados na cidade, a chefe da Polícia
Civil do Rio, Martha Rocha, desculpou-se por escrito para a vítima e demitiu
dois delegados responsáveis por investigar os casos de estupro no Rio de
Janeiro.
O jornal The
New York Times também acompanhou o caso, publicando uma longa reportagem
sobre o crime e enfatizando que, após a repercussão do estupro da turista,
outros casos semelhantes que haviam sido denunciados à polícia vieram à tona. O
jornal reportou que um dos suspeitos do crime também estaria envolvido com
assaltos. A publicação também lembra que a cidade do Rio de Janeiro tenta se
organizar e promover para a Copa do Mundo de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016,
e recorda outros casos ocorridos no Brasil, como o "estupro coletivo"
em Queimadas, na Paraíba.
O The Wall
Street Journal explorou o assunto no blog "India Realtime", que
fala sobre o país asiático. No blog, foram publicadas reportagens comparando o
crime registrado no Rio de Janeiro com a morte da estudante estuprada na Índia
em dezembro. Em artigo mais recente, um brasileiro que já morou na Índia
relatou em entrevista a reação da população brasileira aos dois casos. No
texto, ele lembrou que o caso indiano teve muita repercussão na mídia
brasileira, e ressaltou que o caso carioca ganhou muita atenção pelo fato de a
vítima ter sido uma turista estrangeira.
Alguns brasileiros
mais exaltados estão indignados com a reação da imprensa americana,
considerando um exagero algo que pode ter sido um fato isolado. É verdade,
estupros e crimes podem ocorrer em qualquer lugar, por mais seguro que seja.
No entanto, o que
não se pode admitir é a falta de atitude das autoridades em fiscalizar as vans
clandestinas que circulam pelo Rio de Janeiro sem serem multadas ou, melhor
ainda, impedidas de transitar pela cidade. Sem uma fiscalização efetiva, fica
difícil para a polícia e, sobretudo para os cidadãos, saber quem está atrás do
volante de um veículo. Pode ser um cidadão de bem lutando para ganhar o pão de
cada dia, pode ser um bandido, pode ser um estuprador.
O Brasil tem de
parar com a mania de ser o país do "jeitinho". Ora, se as leis
existem, precisam ser aplicadas. Agora, é necessário fazer um trabalho hercúleo
para reconstruir a imagem da cidade do Rio de Janeiro e, por conseguinte, do
Brasil como uma terra com gente hospitaleira que sabe receber bem os turistas.
Vale lembrar que
não só os estrangeiros devem ser protegidos. A própria população brasileira tem
de aprender a respeitar e confiar nos policiais. Algo que somente se consegue
com o pagamento de salários decentes àqueles que arriscam suas vidas para
proteger a sociedade e com uma melhor triagem daqueles que merecem integrar a
corporação, seja como policial fardado, seja como policial civil.
Agora, com a enorme
repercussão do caso, tudo indica que os culpados serão punidos com rigor. Isto
tem de ser feito para se dar uma lição a todos que transgridem as leis. Ou
seja, as punições precisam continuar sendo exemplares para diminuir a
criminalidade e colocar medo nos bandidos.
Porque senão as
consequências podem ser trágicas para o Brasil. A Índia, segundo registros,
teve queda de mais de 35% com as receitas de turismo após o episódio do estupro
da moça indiana.
Faz sentido. Quem
quer ir para um lugar e correr o risco de se tornar vítima?
*Foi repórter do
Jornal da Tarde e do Estado de São Paulo. Vive nos Estados Unidos desde 1996,
onde foi editor da CBS Telenotícias Brasil, do canal de esportes PSN, da
revista Latin Trade e do jornal AcheiUSA.
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