NM – TVI24
Depois da detenção
de Bubo Na Tchuto, a acusação norte-americana vira-se agora para António
Indjai, líder das Forças Armadas.
O Departamento de
Justiça norte-americano acusa o chefe do Estado Maior das Forças Armadas da
Guiné Bissau, António Indjai, de planear uma operação de tráfico de cocaína
para os Estados Unidos.
A informação foi avançada pela agência Reuters, nesta quinta-feira, citando
documentos legais. Na acusação, emanada de um tribunal de Nova Iorque, constam
mais três crimes, entre eles a venda de armas para os rebeldes colombianos das
FARC como parte integrante da operação.
Este é o mais recente desenvolvimento num prolongado braço de ferro entre as
autoridades norte-americanas de combate à droga e as estruturas militares da
Guiné-Bissau. No princípio do mês, o antigo chefe da Armada guineense, Bubo Na
Tchuto, foi capturado em águas internacionais perto de Cabo Verde por uma
brigada de combate ao tráfico de droga norte-americana. Era procurado por
alegado envolvimento no tráfico internacional de droga, sobretudo cocaína
oriunda da América do Sul.
A Reuters refere fontes anónimas da investigação para sustentar que a operação
visava, já então, a detenção de Indjai. No entanto, o chefe do exército terá
recusado embarcar à última hora, deixando Na Tchuto com a missão de concluir um
acordo onde a cocaína seria trocada por dinheiro e armas destinadass às FARC.
«Não mordeu o isco», referiu um dos agentes contactados pela agência. No
processo contra Na Tchuto, que continua detido em Nova Iorque , a
aguardar julgamento, a acusação sustenta que o antigo chefe da Armada foi
atraído a pela promessa de um milhão de dólares, a troco de uma tonelada de
cocaína.
Segundo as autoridades norte-americanas, a instabilidade política na Guine
Bissau, nos últimos dois anos, acentuou o papel daquele país como placa
giratória do tráfico de cocaína entre a América do Sul e a Europa. Mais de 50 toneladas
de cocaína passam anualmente pela costa ocidental africana rumo à Europa,
segundo dados das Nações Unidas. Para além da acusação a Indjai, também o atual
chefe da Força Aérea, Ibraima Papa Camara, integra a lista de barões da droga
definmida pela agência norte-americana de combate à droga, DEA.
Em abril do ano passado, António Indjai assumiu o controlo político do país
através de um golpe de Estado, a que se seguiu a nomeação de Manuel Serifo
Nhamadjo como Presidente de transição. A legitimidade dos novos responsáveis
políticos e militares não foi, entretanto, reconhecida pela comunidade
internacional, casos da União Europeia e da CPLP.
Ainda nesta quinta-feira, o representante da ONU na Guiné-Bissau, José
Ramos-Horta, considerou que o país está a «um passo» de se tornar um «Estado
falhado», caso a instabilidade não tenha uma solução nos próximos tempos.
Ramos-Horta descreveu a situação guineense como sendo de «extrema precariedade»
e acrescentou: «Se o Estado existe para dar segurança, tranquilidade, saúde,
educação, justiça às populações, então vemos que há extrema precariedade na
Guiné-Bissau, daí para um Estado falhado é um passo. O que é necessário agora é
sensibilizar o Conselho de Segurança a fazer muito mais para evitar o pior na
Guiné-Bissau», disse o antigo Nobel da paz, citado pela Lusa.
A mesma ideia é defendida pelo ex-primeiro ministro de Cabo Verde, Pedro Pires,
ex-presidente de Cabo Verde, que atualmente integra a comissão antidroga da
África Ocidental: «O facto de ter sido precisa uma operação norte-americana
para combater o tráfico de droga mostra a debilidade do estado. Não se consegue
combater o tráfico num estado onde a segurança e a justiça não funcionam», lamentou.
1 comentário:
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