Eduardo Oliveira
Silva – Jornal i, opinião
O governo anunciou
cortes de 800 milhões, mas faltam mais 3,2 mil milhões
A primeira
constatação a fazer depois do Conselho de Ministros que se prolongou por horas
a fio é que as coisas não correram de feição.
Se assim não fosse
não teria durado tanto tempo e não se teria assistido a uma conferência de
imprensa tão patética como a de ontem de manhã, para anunciar nada, além do que
já se tinha por óbvio.
Não vale a pena
olhar neste espaço para a questão económica e financeira e para os cortes
decididos e estimados, que são tratados noutras páginas.
Basta ficar no
plano político para perceber que nada vai bem. Do ponto de vista da
comunicação, a conversa com os jornalistas foi um desastre. Marques Guedes fez
com elegância as honras da casa, o ministro da Defesa aqueceu a plateia, o
secretário de Estado do Orçamento disse umas coisas que só mais tarde se
perceberam sobre os subsídios e Poiares Maduro falou macio ao PS, para mostrar
que as coisas não estão extremadas. Ficou claro que o papel deste último é o do
“simpaticão” prolixo ao jeito português suave.
Cada um cumpriu com
o seu papel na peça de teatro montada. Mas como explicar ao país que no
Conselho de Ministros não tenha estado Paulo Portas nem o ministro da Economia
se nada urgente acabou por ser comunicado?
Para anunciar o que
já se sabia, bem se podia esperar mais uma semana e não valia a pena ter
enchido o balão comunicacional de expectativas para depois não ter coragem de
vir dizer aos portugueses, cara a cara, olhos nos olhos, o que se vai fazer.
A debandada perante
a realidade é a coisa mais patética que há em política. Se o
governo tem um plano, que o anuncie. Se vai aplicar mais medidas de
austeridade, que as proclame. Se entende não ter condições, que o assuma. Se
quer o apoio do PS, que o peça e mude de política. Mas anunciar conferências de
imprensa para um dia à noite, reportá-las para o dia seguinte de manhã sem ter
nada para dizer e sem ter nenhum dos seus três primeiros titulares presentes é
preocupante e a prova acabada de que se esperava um resultado que não se
atingiu.
O que se ouviu foi
uma comunicação pela ausência. Tirando a questão do subsídio de férias, só se
conheceram números gerais. São 800 milhões para já e mais 50 milhões que se
acha possível nas PPP rodoviárias, que podem levar com um imposto em cima, como
o PS propunha. Muito bem. Mas qual é a lógica dos cortes, tirando ser nos
salários e nos subsídios de desemprego e doença, agora de forma ínvia porque o
Tribunal Constitucional deixou uma porta entreaberta que se força? Qual é a
política concreta? O governo não sabe. Vai navegar à bolina e cortar
aleatoriamente persistindo numa política transitória. Para quando o plano
estratégico que nos oriente para o futuro?
Em política como na
música há coisas que se tocam exactamente da mesma maneira e com os mesmos
instrumentos e acordes, mas mais alto. É exactamente o que se vai passar nos
próximos tempos.
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