sexta-feira, 19 de abril de 2013

Portugal: VEM AÍ A MESMA MÚSICA, COM MAIS FORÇA




Eduardo Oliveira Silva – Jornal i, opinião

O governo anunciou cortes de 800 milhões, mas faltam mais 3,2 mil milhões

A primeira constatação a fazer depois do Conselho de Ministros que se prolongou por horas a fio é que as coisas não correram de feição.

Se assim não fosse não teria durado tanto tempo e não se teria assistido a uma conferência de imprensa tão patética como a de ontem de manhã, para anunciar nada, além do que já se tinha por óbvio.

Não vale a pena olhar neste espaço para a questão económica e financeira e para os cortes decididos e estimados, que são tratados noutras páginas.

Basta ficar no plano político para perceber que nada vai bem. Do ponto de vista da comunicação, a conversa com os jornalistas foi um desastre. Marques Guedes fez com elegância as honras da casa, o ministro da Defesa aqueceu a plateia, o secretário de Estado do Orçamento disse umas coisas que só mais tarde se perceberam sobre os subsídios e Poiares Maduro falou macio ao PS, para mostrar que as coisas não estão extremadas. Ficou claro que o papel deste último é o do “simpaticão” prolixo ao jeito português suave.

Cada um cumpriu com o seu papel na peça de teatro montada. Mas como explicar ao país que no Conselho de Ministros não tenha estado Paulo Portas nem o ministro da Economia se nada urgente acabou por ser comunicado?

Para anunciar o que já se sabia, bem se podia esperar mais uma semana e não valia a pena ter enchido o balão comunicacional de expectativas para depois não ter coragem de vir dizer aos portugueses, cara a cara, olhos nos olhos, o que se vai fazer.

A debandada perante a realidade é a coisa mais patética que há em política. Se o governo tem um plano, que o anuncie. Se vai aplicar mais medidas de austeridade, que as proclame. Se entende não ter condições, que o assuma. Se quer o apoio do PS, que o peça e mude de política. Mas anunciar conferências de imprensa para um dia à noite, reportá-las para o dia seguinte de manhã sem ter nada para dizer e sem ter nenhum dos seus três primeiros titulares presentes é preocupante e a prova acabada de que se esperava um resultado que não se atingiu.

O que se ouviu foi uma comunicação pela ausência. Tirando a questão do subsídio de férias, só se conheceram números gerais. São 800 milhões para já e mais 50 milhões que se acha possível nas PPP rodoviárias, que podem levar com um imposto em cima, como o PS propunha. Muito bem. Mas qual é a lógica dos cortes, tirando ser nos salários e nos subsídios de desemprego e doença, agora de forma ínvia porque o Tribunal Constitucional deixou uma porta entreaberta que se força? Qual é a política concreta? O governo não sabe. Vai navegar à bolina e cortar aleatoriamente persistindo numa política transitória. Para quando o plano estratégico que nos oriente para o futuro?

Em política como na música há coisas que se tocam exactamente da mesma maneira e com os mesmos instrumentos e acordes, mas mais alto. É exactamente o que se vai passar nos próximos tempos.

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