Mário Soares – Diário
de Notícias, opinião
Ao fim de uma longa
doença, que a inutilizou psiquicamente, faleceu a senhora Thatcher. Os jornais
portugueses e muitos estrangeiros encheram-na de elogios políticos.
Tive o privilégio
de a conhecer bem, não só em Londres, por exemplo, quando fiz uma visita de
Estado a Inglaterra, como, depois, quando a senhora Thatcher veio a Portugal,
em Paris e mais tarde em Moscovo, onde nos encontramos numa visita para
assistir a um funeral de uma personalidade soviética, sob um frio insuportável,
mais de 40 graus negativos. Foi então que me mostrou, na embaixada inglesa, um
bunker, onde conversámos, sem perigo dos microfones soviéticos...
No entanto, sempre
distingui entre a simpatia pessoal com que sempre me tratou, como igualmente
sucedeu com François Mitterrand, e as responsabilidades políticas que foram as
suas, na linha das posições do seu correligionário Ronald Reagan, responsáveis
ambos, não nos esqueçamos, pelo desastre dos Estados do Ocidente, que passaram
a ser comandados pelos mercados usurários, tentando destruir os Estados
sociais, os sindicatos, no melhor estilo - tão desastroso - neoliberal.
Como disse, a
senhora Thatcher conversada era muito simpática e gostava dos socialistas
estrangeiros, como François Mitterrand, Helmut Schmidt, Felipe González e eu
próprio. Mas outra coisa foi o que tentou fazer no plano político em contacto
permanente com Reagan, conseguindo destruir o Partido Trabalhista e o Estado
social inglês. Arruinou os sindicatos ingleses - até então tão fortes - e fez
consideráveis estragos nas conquistas sociais, que se seguiram com tanto êxito,
após a vitória na Segunda Guerra Mundial e que tanto marcaram a Europa depois
da vitória com homens da craveira intelectual e ética de Attlee e Aneurin
Bevan, que criou o serviço de saúde, que fez a inveja (e foi depois seguido)
por tantos Estados europeus, com particular destaque para os nórdicos.
Essa sua política
de austeridade, baixando os impostos, atacando o poder dos sindicatos e
privatizando tudo o que pôde do poder do Estado, tornou-a particularmente
impopular. Salvou-a, ao que dizem os ingleses, a guerra das Malvinas, contra os
argentinos, que ganhou em 1982, apesar do desemprego crescente e das dificuldades
sociais que daí resultaram.
Note-se que a
senhora Thatcher sempre foi contrária a uma política europeia, que fosse além
do livre-câmbio e tivesse um sentido político, de solidariedade e igualdade
entre os Estados membros. E sempre foi contrária ao euro como moeda única.
Em suma,
politicamente, foi quem, com Reagan, lançou o neoliberalismo e o poder dos
mercados usurários em relação aos Estados, quando devia ser o contrário. Foi o
que conduziu à crise terrível em que a Europa se encontra hoje - crise política,
social, ética e ambiental - e da qual a América do Norte parece estar a sair,
graças à lucidez do Presidente Barack Obama. Crise em que a Europa se encontra
sem que os seus desastrados e pobres dirigentes sejam capazes de sair dela,
embora estejam próximos de um colapso de consequências terríveis - talvez de um
novo conflito europeu ou mesmo mundial.
Elogiar
politicamente Margareth Thatcher é um mau sinal para a Europa que, a
prosseguir, nos pode levar a um desastre de consequências imprevisíveis. Mas acredito
que virá aí, proximamente, um novo ciclo político que acabe com a austeridade
que nos tem causado tanto mal. E a verdade é que os Estados compreenderão que não
são as troikas que mandam. E que quando não há dinheiro não se paga, como os
países da América Latina nos ensinaram. O exemplo da Argentina é, nesse aspeto,
paradigmático.
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1 comentário:
CONSTATE-SE O ULTRA CINISMO DE MÁRIO SOARES:
CRITICA RONALD REAGEN E THATCHER POR CAUSA DE SUAS CINVICÇÕES E POLÍTICAS EM RELAÇÃO AOS ESTADOS UNIDOS E À EUROPA, MAS ESQUECE QUE ELE PRÓPRIO, MÁRIO SOARES, ERA UM DILECTO ALIADO DE SAVIMBI EM ÁFRICA, UM SAVIMBI QUE ERA UM DOS DILECTOS "FREEDOM FIGHTERS" DE REAGAN E DE THATCHER EM ÁFRICA!!!
SERÁ QUE É SÓ SENILIDADE?
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