Deutsche Welle
Mais de um mês
depois das eleições, país ainda não superou impasse político e continua sem
governo. Em meio à crise econômica, italianos cobram mais responsabilidade
política de seus representantes.
Para Antonio
Crispi, garçom de um bar da cidade italiana de Nápoles, os políticos do país só
querem saber de disputar o poder, enquanto deixam de lado os interesses do
povo. Nas últimas eleições, ele votou no Partido Democrático, de
centro-esquerda, vencedor do pleito e que por pouco não atingiu a maioria no
Senado. Agora, o PD precisa buscar parceiros para uma coalizão, a fim de formar
um governo.
"Berlusconi é
inaceitável. Agora, se ele der espaço no partido para uma cara nova...",
afirma Crispi, sem concluir a frase. Para boa parte da população, o governissimo –
uma grande coalizão entre partidos de direita e de esquerda – poderia ser uma
solução.
No entanto, o líder
esquerdista Pierluigi Bersani já tentou de várias maneiras atrair deputados do
Movimento Cinco Estrelas, sigla criada pelo comediante Beppe Grillo, para
formar um governo sob sua regência. Porém, isso até agora não obteve sucesso.
Crise econômica
aumenta crise política
"Grillo
deveria pensar racionalmente e desistir dessa postura de resistência",
reclama Cristina Zunecchi, uma eleitora do comediante. Ela se mostra irritada
com a promessa de campanha de Grillo, de que não faria coalização com nenhuma
outra sigla. Até o momento, ele mantém essa mesma posição.
"Nossa
economia está indo muito mal e esses políticos pensam em si mesmos e nos
joguinhos deles. Isso me irrita muito", frisou. Ela disse, ainda, que seu
filho mais velho concluiu a universidade com uma nota excelente, mas há dois
anos continua sem emprego.
Já o filho do meio
terminou o curso técnico e também está desempregado. E o caçula ainda está indo
para o colégio. "Meu marido tem trabalho, mas o salário é pequeno para as
despesas da casa."
Novas eleições
seriam a saída?
E não é apenas em
Nápoles que a população está impaciente. Também em Milão, capital econômica da
Itália, discutem-se saídas para o impasse da situação política no país.
A comerciante de
livros Giulietta Poma acredita que a realização de novas eleições seria a
melhor solução diante das condições atuais no país. "Assim, o Grillo
poderia obter mais votos e conquistar a maioria para governar. Então ele
poderia implementar as reformas que a Itália precisa", avalia.
Beppe Grillo, no
entanto, não fala em reformas, mas sim em revolução. Ele pretende conduzir
mudanças radicais no país – e sozinho, sem coalizão. "Isso não é uma
atitude particularmente democrática", afirma o professor universitário
Michele Ferrari, de 37 anos. Ele duvida que o Movimento Cinco Estrelas
realmente obtenha mais votos, no caso de uma nova eleição.
Na verdade, até
mesmo os apoiadores do jovem movimento estão divididos. Uma parte defende que
Grillo aceite uma coalizão. Outra parte, porém, afirma que o líder deve
manter-se fiel aos seus princípios.
O papel do
presidente
Já os esforços do
presidente italiano, Giorgio Napolitano, para acabar com a crise são encarados
pela população de diferentes maneiras. Por um lado, parte dos cidadãos acredita
ser positivo o fato de Napolitano ter convocado um conselho de especialistas com
deputados de vários partidos para discutir reformas urgentes.
Por outro, no
entanto, os nomes desses especialistas foram recebidos sob muitas críticas.
Entre eles não há mulheres nem figuras novas, mas sim nomes com mais de 30 anos
de ligação com a política italiana. Assim, opina Erica Pazzetto, de Milão, fica
difícil trazer novos ares para a política italiana.
A crise vem fazendo
com que o prefeito de Florença, Matteo Renzi, conquiste cada vez mais a
simpatia da população. Renzi, desafiador de Pierluigi Bersani dentro do
partido, quer que este arque com as consequências de sua fracassada tentativa
de compor um governo com o Movimento Cinco Estrelas. E, em caso de novas
eleições, Renzi pretende sair como cabeça de chapa do Partido Democrático.
"Mais de 90%
da população têm a sensação de que estamos perdendo tempo
desnecessariamente", afirma Renzi. Segundo pesquisas de opinião, ele teria
36% dos votos em um suposto novo pleito – índice que também seria insuficiente
para compor um novo governo. Fica então a pergunta sobre quem seria o parceiro
preferencial para uma coalizão.
Renzi descarta as
suspeitas de que o partido se voltaria para uma composição com Berlusconi.
"Eu defendo o novo. Berlusconi representa o antigo". A população, no
entanto, recebe frases fortes e de impacto com cautela. Afinal, os italianos já
perderam a confiança em seus representantes políticos.
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