segunda-feira, 8 de abril de 2013

INCERTEZA SOBRE FUTURO POLÍTICO NA ITÁLIA FRUSTRA POPULAÇÃO




Deutsche Welle

Mais de um mês depois das eleições, país ainda não superou impasse político e continua sem governo. Em meio à crise econômica, italianos cobram mais responsabilidade política de seus representantes.

Para Antonio Crispi, garçom de um bar da cidade italiana de Nápoles, os políticos do país só querem saber de disputar o poder, enquanto deixam de lado os interesses do povo. Nas últimas eleições, ele votou no Partido Democrático, de centro-esquerda, vencedor do pleito e que por pouco não atingiu a maioria no Senado. Agora, o PD precisa buscar parceiros para uma coalizão, a fim de formar um governo.

"Berlusconi é inaceitável. Agora, se ele der espaço no partido para uma cara nova...", afirma Crispi, sem concluir a frase. Para boa parte da população, o governissimo – uma grande coalizão entre partidos de direita e de esquerda – poderia ser uma solução.

No entanto, o líder esquerdista Pierluigi Bersani já tentou de várias maneiras atrair deputados do Movimento Cinco Estrelas, sigla criada pelo comediante Beppe Grillo, para formar um governo sob sua regência. Porém, isso até agora não obteve sucesso.

Crise econômica aumenta crise política

"Grillo deveria pensar racionalmente e desistir dessa postura de resistência", reclama Cristina Zunecchi, uma eleitora do comediante. Ela se mostra irritada com a promessa de campanha de Grillo, de que não faria coalização com nenhuma outra sigla. Até o momento, ele mantém essa mesma posição.

"Nossa economia está indo muito mal e esses políticos pensam em si mesmos e nos joguinhos deles. Isso me irrita muito", frisou. Ela disse, ainda, que seu filho mais velho concluiu a universidade com uma nota excelente, mas há dois anos continua sem emprego.

Já o filho do meio terminou o curso técnico e também está desempregado. E o caçula ainda está indo para o colégio. "Meu marido tem trabalho, mas o salário é pequeno para as despesas da casa."

Novas eleições seriam a saída?

E não é apenas em Nápoles que a população está impaciente. Também em Milão, capital econômica da Itália, discutem-se saídas para o impasse da situação política no país.

A comerciante de livros Giulietta Poma acredita que a realização de novas eleições seria a melhor solução diante das condições atuais no país. "Assim, o Grillo poderia obter mais votos e conquistar a maioria para governar. Então ele poderia implementar as reformas que a Itália precisa", avalia.

Beppe Grillo, no entanto, não fala em reformas, mas sim em revolução. Ele pretende conduzir mudanças radicais no país – e sozinho, sem coalizão. "Isso não é uma atitude particularmente democrática", afirma o professor universitário Michele Ferrari, de 37 anos. Ele duvida que o Movimento Cinco Estrelas realmente obtenha mais votos, no caso de uma nova eleição.

Na verdade, até mesmo os apoiadores do jovem movimento estão divididos. Uma parte defende que Grillo aceite uma coalizão. Outra parte, porém, afirma que o líder deve manter-se fiel aos seus princípios.

O papel do presidente

Já os esforços do presidente italiano, Giorgio Napolitano, para acabar com a crise são encarados pela população de diferentes maneiras. Por um lado, parte dos cidadãos acredita ser positivo o fato de Napolitano ter convocado um conselho de especialistas com deputados de vários partidos para discutir reformas urgentes.

Por outro, no entanto, os nomes desses especialistas foram recebidos sob muitas críticas. Entre eles não há mulheres nem figuras novas, mas sim nomes com mais de 30 anos de ligação com a política italiana. Assim, opina Erica Pazzetto, de Milão, fica difícil trazer novos ares para a política italiana.

A crise vem fazendo com que o prefeito de Florença, Matteo Renzi, conquiste cada vez mais a simpatia da população. Renzi, desafiador de Pierluigi Bersani dentro do partido, quer que este arque com as consequências de sua fracassada tentativa de compor um governo com o Movimento Cinco Estrelas. E, em caso de novas eleições, Renzi pretende sair como cabeça de chapa do Partido Democrático.

"Mais de 90% da população têm a sensação de que estamos perdendo tempo desnecessariamente", afirma Renzi. Segundo pesquisas de opinião, ele teria 36% dos votos em um suposto novo pleito – índice que também seria insuficiente para compor um novo governo. Fica então a pergunta sobre quem seria o parceiro preferencial para uma coalizão.

Renzi descarta as suspeitas de que o partido se voltaria para uma composição com Berlusconi. "Eu defendo o novo. Berlusconi representa o antigo". A população, no entanto, recebe frases fortes e de impacto com cautela. Afinal, os italianos já perderam a confiança em seus representantes políticos.

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