terça-feira, 9 de abril de 2013

Ministério brasileiro tornou secretos documentos de negócios com Cuba e Angola




CSR – MLL – Lusa – foto António Lacerda/EFE

O ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior brasileiro, Fernando Pimentel, tornou secretos os documentos relativos a financiamentos do Brasil aos Governos de Angola e Cuba, divulgou hoje a imprensa brasileira.

De acordo com a investigação do jornal Folha de São Paulo, “com a decisão (do Governo brasileiro), o conteúdo dos documentos só poderá ser conhecido a partir de 2027”.

O jornal referiu que os documentos poderiam revelar “os reais interesses do Governo brasileiro nesses negócios”, os critérios escolhidos para tais investimentos, assim como algum “parecer contrário” a estas transações que tenha sido “ignorado” pelas autoridades brasileiras.

O Ministério do Desenvolvimento, questionado pelo jornal, disse ter colocado os documentos sob sigilo porque envolvem informações “estratégicas”, documentos “apenas custodiados pelo Ministério” e dados “cobertos por sigilo comercial”, como dados dos Governos de outros países e de empresas.

Os atos para a declaração de secretismo foram assinados por Fernando Pimentel em junho de 2012, um mês após a entrada em vigor da Lei de Acesso à Informação, de acordo com dados obtidos pela Folha de São Paulo.

Antes da nova Lei de Acesso à Informação, já existia legislação que previa a classificação em diversos graus de sigilo, mas é a primeira vez que se aplica o termo “secreto” em casos semelhantes, segundo reconheceu o próprio Ministério.

O Banco Nacional de Desenvolvimento Económico e Social (BNDES) disponibilizou, em 2012, 875 milhões de dólares (670,7 milhões de euros) para operações de financiamento à exportação de bens e serviços de empresas brasileiras para Cuba e Angola.

O país africano superou a Argentina e passou a ser o maior destino de recursos de bens e serviços.

Só no ano passado, o BNDES financiou operações para 15 países, no valor total de 2,17 mil milhões de dólares (1,6 mil milhões de euros), mas apenas os casos de Cuba e Angola receberam os carimbos de “secreto” no Ministério do Desenvolvimento.

Segundo o jornal, isso ocorreu por que havia “memorandos de entendimento” entre Brasil, Cuba e Angola que não existia nas outras operações do género.

O secretismo abrange praticamente tudo o que se relaciona com as negociações entre Brasil, Cuba e Angola, como memorandos, pareceres, correspondências e notas técnicas.

O diário brasileiro indicou que há “pistas” sobre o destino do dinheiro, contudo, estão em informações públicas e em comentários da Presidente brasileira, Dilma Rousseff.

Em Havana, onde esteve em janeiro para um encontro com o Presidente Raúl Castro, Dilma Rousseff afirmou que o Brasil financiava boa parte da construção do Porto de Mariel, a 40 quilómetros da capital, obra executada pela construtora Odebrecht.

A Presidente declarou ainda que o Brasil trabalhava para amenizar os efeitos do embargo económico a Cuba.

“Impossível se considerar que é correto o bloqueio de alimentos para um povo. Então, nós participamos aqui, financiando, através de um crédito rotativo, 400 milhões de dólares (306,6 milhões de euros) de compra de alimentos no Brasil”, acrescentou Dilma Rousseff.

Na visita a Angola, em 2011, Dilma Rousseff afirmou que “os mais de 3 mil milhões de dólares (2,2 mil milhões de euros) disponibilizados pelo Brasil fazem de Angola o maior beneficiário de créditos no âmbito do Fundo de Garantias de Exportações” do BNDES.

O diário brasileiro revelou que o ex-Presidente Lula da Silva esteve em Angola, em 2011, onde participou de um evento patrocinado pela construtora Odebrecht.

O Ministério do Desenvolvimento indicou que os financiamentos têm o objetivo de dar competitividade às empresas brasileiras nas vendas ao exterior.

O jornal Folha de São Paulo não conseguiu falar com as assessorias das embaixadas de Cuba e de Angola.

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