Luís Reis Ribeiro –
Dinheiro Vivo
“Forte impacto da
redução da despesa sobre o consumo privado e consumo público”, espera o Banco
de Portugal que fez as contas
A recessão
acumulada da economia portuguesa desde que começou o programa de ajustamento
(em 2011) deverá superar facilmente os 7% no final de 2014 se o governo avançar
com dois terços do pacote dos cortes na despesa do Estado, avaliado em cerca de
4000 milhões de euros, assinalam cálculos do Banco de Portugal (BdP).
Uma redução dessa
magnitude (acumulada em quatro anos) será a mais dura desde 1949, altura em que
a economia afundou 9,8% na ressaca do pós II Guerra Mundial, de acordo com as
séries retrospetivas publicadas pelo INE.
O boletim económico
da primavera, ontem divulgado, mostra que o impacto do programa de redução do
peso do Estado, na parte que tem efeitos no próximo ano (o plano está repartido
por 2013, 2014 e 2015) será altamente recessivo: aplicar cortes equivalentes a
1,5% do PIB, como admite o banco na hipótese de base, roubará 0,8 pontos
percentuais ao já de si fraco crescimento de 2014: 1,1%, segundo o banco
central; 0,6%, segundo Governo e troika, na sétima avaliação.
Assim, uma redução
da despesa pública na ordem dos 2,5 mil milhões de euros (em termos brutos) em
2014 reduzirá imediatamente o ritmo da retoma para 0,3% no caso do ponto de
partida ser o do BdP. Partindo dos 0,6% do governo, Portugal corre o sério
risco de cair numa nova recessão (-0,2%).
Neste exercício
inédito do banco central, que se torna na primeira instituição a quantificar os
impactos de um corte transversal e permanente do Estado social, as hipóteses
assumem que será à custa dos salários e dos apoios sociais. As “despesas com
pessoal suportam cerca de 50% da redução” e as “prestações sociais (incluindo
pensões) suportam os restantes 50%”, lê-se no boletim.
O BdP conclui que
haverá “um forte impacto da redução da despesa sobre o consumo privado e
consumo público”.
Mas isto reflete
apenas parte da reforma do Estado, ficando a faltar 1,5 mil milhões de euros, o
que indicia existirão novas pressões recessivas além destas.
“No que diz
respeito às componentes da procura interna privada, o impacto mais
significativo das medidas incide sobre as despesas de consumo das famílias, num
contexto de redução mais acentuada do rendimento disponível que implica ainda
uma recuperação mais lenta do investimento privado, em particular no que
respeita à componente residencial. O impacto das medidas de redução da despesa
pública determina uma ligeira melhoria das condições de competitividade, com
impacto limitado no volume de exportações”, sintetiza.
Apesar de todo o
prejuízo económico e laboral que pode vir associado ao programa de cortes no
Estado - atualmente, um dos maiores receios de patrões e sindicatos com assento
na concertação social - o Banco de Portugal continua a defender a
“necessidade de manutenção do processo de consolidação orçamental”.
Para além deste
cenário “com pressupostos orçamentais alternativos”, o BdP refere que a outra
fonte de incerteza que tem feito descarrilar as previsões é a procura externa,
designadamente a da zona euro. Também aí fica o aviso: se a expansão das
exportações ficar um ponto percentual abaixo do previsto, o rombo na taxa do
PIB será de -0,2 pontos.
Cenário sombrio
Para este ano, o Banco espera uma recessão de 2,3%, igual à que diz o Governo,
e reforça o cenário negro e incerto que paira sobre a economia e, sobretudo, o
mercado de trabalho.
Comparativamente ao
boletim de inverno, de janeiro, o banco agravou a perspetiva de recessão.
Dantes era 1,9%. O próximo ano, que o governo espera ser de retoma, também vai
ser pior que o anteriormente estimado: 1,1% em vez de 1,3%.
Depois avisa que
“os riscos em torno da projeção são globalmente descendentes para a atividade
económica, sendo especialmente marcados em 2014” .
O supervisor reviu
em baixa a evolução de todos os agregados da procura exceto o consumo público
de 2014 e as exportações deste ano. O consumo das famílias vai tornar a cair
(-0,4%) em 2014, quando há três meses se apontava para uma ligeira retoma de
0,1%.
O investimento
perde força, crescendo apenas 1,9%. As empresas vão investir muito pouco e o
emprego continuará a cair. A destruição de postos de trabalho continuará este
ano (-3,3%) e no próximo estagna.
Em 2013, espera-se
um avanço de 2,2% nas exportações (contra 2% em janeiro). Mas tudo é muito
incerto no contexto externo, frisa várias vezes o boletim.
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