sábado, 6 de abril de 2013

Portugal: CRISE INSTALADA. MAIORIA AVISA QUE “NÃO HÁ MARGEM DE MANOBRA”




Liliana Valente - Jornal i

CDS diz que decisão traz “consequências muito negativas”. Esquerda quer queda do governo

Em menos de dois anos, o governo de Passos Coelho viu os dois orçamentos do Estado com normas chumbadas pelo Tribunal Constitucional (TC). A crise instalou-se em São Bento com o executivo a reunir hoje de urgência em Conselho de Ministros extraordinário para discutir sobre o buraco causado no Orçamento do Estado para 2013 com o chumbo de quatro normas pelo TC. Duas delas enviadas para serem analisadas pelo Presidente da República. A quente, os partidos da maioria dramatizaram e avisam que esta decisão vai ter “consequências negativas” para a execução orçamental e que o pior está para vir uma vez que “não há margem de manobra”.

Em causa estão quatro normas: duas delas enviadas pelo Presidente (e posteriormente pelo PS, e pelo PCP e pelo BE) referentes ao corte dos subsídios de férias a funcionários públicos (artigo 29º da Lei do Orçamento do Estado) e a suspensão de 90% do subsídio de férias a pensionistas (artigo77º), este último também a pedido do Provedor de Justiça. E duas enviadas pelo PCP e pelo BE: uma que diz respeito à contribuição sobre prestações de doença e desemprego (artigo 117º), esta aprovada por onze dos 13 juízes, e o artigo 31º que alarga aos contratos de docência e de investigação o impedimento de suspensão do subsídio.

No ano passado, assim que foi conhecido o acórdão, o primeiro-ministro reagiu de imediato. Ontem os partidos da maioria deram a cara pelo governo a quente e dramatizaram o rombo nas contas para este ano, que é maior do que o esperado. A vice-presidente do PSD, Teresa Leal Coelho, disse que os sociais-democratas estão “perplexos” e “preocupados” e que há até “um alheamento do contexto económico financeiro” e lançou o problema para o futuro próximo: “Não temos margem de manobra”.

A social-democrata criticou o acórdão dizendo que este aponta num sentido diferente do acórdão do ano passado uma vez que “não admite um corte imediato e eficaz no sector público”, o que parece assim lançar “condições” e “injunções” sobre receita e despesa, mas que a maioria não acredita “na via do aumento de impostos”.

O CDS foi o primeiro a avisar que, apesar das palavras do presidente do Tribunal Constitucional Joaquim Sousa Ribeiro, “é evidente que este acórdão tem consequências muito negativas na execução orçamental”, disse o líder parlamentar centrista Nuno Magalhães. O CDS não quis ir mais longe mas, numa declaração curta, quis acentuar a sua autonomia referindo por mais do que uma vez que “o partido fará a sua análise e falará de forma mais detalhada sobre este acórdão”. A discussão do Orçamento do Estado foi de má memória para a coligação com o ministro das Finanças, Vítor Gaspar, a insistir em medidas com as quais o CDS não concordava. Certo é que depois desta decisão, o ministro das Finanças fica fragilizado.

OPOSIÇÃO

Todos os partidos da oposição viram normas que pediram para serem fiscalizadas, chumbadas pelo TC. Na reacção António José Seguro disse que a decisão mostra “o grau de impreparação e inconsistência do governo” e que este “golpe” no governo “dá mais forças às posições do PS que vem defendendo a substituição do governo e a revisão do processo de ajustamento”. Quando questionado sobre se está disponível para negociar alternativas disse estar apenas “disponível para substituir o governo”, mas recusou dizer como substituiria o valor agora em falta dizendo apenas que o que propõe é a “renegociação das condições de ajustamento”.

Pelo BE, o deputado Luís Fazenda disse que “o governo está com falta de legitimidade e em rota de colisão com a Constituição” e que por isso o “Presidente da República tem razões reforçadas para vir a pôr em causa este governo”. Pelo PCP, António Filipe insistiu na demissão do executivo dizendo que “este governo está a mais e devia demitir-se”.

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