sexta-feira, 5 de abril de 2013

Portugal: A DEMISSÃO DO MORTO VIVO




Nicolau Santos – Expresso, opinião

Miguel Relvas pediu finalmente a demissão do Governo. Já não era sem tempo. Não era ele que estava em causa. Era a sua falta de credibilidade que contaminava já todo o Governo.

Há duas questões que estão por explicar. A primeira é o que levou o primeiro-ministro a segurar tanto tempo Miguel Relvas. E a segunda é porque é que o ministro Nuno Crato levou tanto tempo a tomar uma decisão sobre a licenciatura de Miguel Relvas, já que as conclusões da comissão que avaliou os cursos da Lusófona já estavam há muito em cima da sua secretária.

Em política, o que parece é. E o que parece é que ou o primeiro-ministro tem uma enorme dívida de gratidão para com Miguel Relvas ou então Miguel Relvas tem informações sobre o primeiro-ministro que mais ninguém sabe. Veremos, aliás, qual será o próximo posto de Relvas.

Quanto a Nuno Crato, é evidente que geriu politicamente o dossiê sobre a licenciatura de Relvas. Não é um pecado, é quando muito um pecadilho. Mas fosse outra licenciatura que estivesse em causa, e o ministro Crato não atuaria com tanta lentidão.

Tudo visto e revisto, o Governo ganha com a saída de Relvas. O CDS já não disfarçava o seu incómodo. E os ministros arriscavam-se a ouvir grandoladas cada vez que saíam à rua por causa do efeito Relvas.

Relvas era um morto-vivo no Governo e contaminava, com a sua falta de credibilidade, todo o Executivo. A sua saída pode permitir um novo fôlego ao Governo para enfrentar com sucesso as duras provas que tem pela frente.

Resta apenas saber se esta saída não levará a uma remodelação governamental bem mais profunda. E isto porque no Governo, embora não haja mais mortos-vivos, há seguramente alguns ministros feridos com grande gravidade.  

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