Carlos Abreu -
Expresso
Na era das redes
sociais e do "email", o líder do PS adotou a carta como meio de
comunicação. A última que escreveu, para explicar à "troika" a moção
de censura, fê-lo dia 25, mas só hoje a meteu no correio.
Desde de que foi eleito, em julho de 2011, o secretário-geral do Partido
Socialista já enviou seis cartas à troika, a primeira das quais a 20 de
fevereiro do ano passado, em que pediu baixa de impostos, e a última, escrita
no dia 25 e só hoje enviada, para explicar as razões da moção de censura ao
Governo.
A primeira missiva,
tal como noticiou o Expresso, tinha nove páginas, todas rubricadas pelo
secretário-geral do PS, e estava redigida em português e inglês. Foi entregue
em mão pelo próprio Seguro à delegação da troika, em Lisboa.
No documento, o
líder do PS "reitera a sua adesão à necessidade da disciplina, rigor orçamental
e consolidação das contas públicas do nosso país", assegura que vai
"continuar a adotar" este "posicionamento responsável", mas
sublinha: "Tal não significa, para o PS, adesão às medidas que o atual
Governo está a executar, nem identificação com a receita política e ideológica
que está a ser aplicada." Os socialistas aproveitam o documento para
insistir "na necessidade de Portugal obter mais um ano, no mínimo, para
efetuar a consolidação das suas contas públicas".
Cerca de três meses
depois, em maio de 2012, por ocasião da quarta revisão do programa de
assistência financeira, segue nova carta, desta feita para os líderes da
Comissão Europeia, Durão Barroso, Banco Central Europeu, Mário Draghi e Fundo
Monetário Internacional, Christine Lagarde.
Em 50 páginas,
Seguro propõe um "Plano Nacional de Emprego e Solidariedade, a ser
suportado por fundos comunitários", "menos pressão sobre a
banca" e a "redução de taxas para as empresas exportadoras ou que
apostem em investigação e desenvolvimento", noticiou o "Sol. Dois
meses depois ainda continuava sem resposta.
Dose dupla em
setembro
Em setembro do ano
passado, concluída a quinta avaliação, António José Seguro, voltou à carga e
por duas vezes escreveu à troika.
Na primeira carta,
entregue aos membros da missão conjunta do FMI, CE e BCE, no dia 5, escreveu:
"É urgente uma mudança de políticas", incluindo o ano extra que foi
concedido, "de modo a não arruinar a economia nacional e não provocar um
caos social".
Na segunda, enviada
a 21 de setembro, agora a Barroso, Draghi e Lagarde avalia a aplicação das
medidas e alerta, segundo o "Público", para os riscos inerentes ao
falhanço das metas definidas. "A situação de Portugal está longe das
previsões do memorando da troika e a política prosseguida pelo
Governo não está a produzir os resultados esperados", escreveu Seguro.
Os líderes da troika tiveram
de esperar cinco meses para voltar a encontrar na caixa do correio mais uma
carta do líder dos socialistas portugueses.
Na missiva enviada
novamente a Barroso, Draghi e Lagarde, e divulgada na íntegra pelos media portugueses,
Seguro começa assim: "Não é a primeira vez que lhe dirijo formalmente uma
carta sobre as consequências para os portugueses do Programa de Ajustamento
Económico e Financeiro de Portugal".
E prossegue:
"Anteriormente fi-lo para dar conta da posição do Partido Socialista nas
reuniões com os representantes da troika, reafirmando o nosso compromisso
com os objetivos de consolidação orçamental mas alertando para a necessidade do
Programa ser credível e ter em linha de conta com os impactos económicos e
sociais da austeridade. Recordo que na carta remetida em setembro de 2012
chamava a atenção para o fracasso da tese da austeridade expansionista e
referia uma situação de pré rutura social que aconselhava fortemente a uma
reavaliação do modo de ajustamento."
Desta feita, os
líderes da troika responderam e um assessor do primeiro-ministro para
as questões económicas, Rudolfo Rebêlo, até simulou no Facebook a resposta de
Christine Lagarde: "Meu caro Tozé Seguro, Agradeço sua missiva
rececionada, aqui, em Washington, dando conta da sua predisposição em
renegociar a reestruturação da dívida portuguesa, uma baixa na taxa dos juros e
mesmo uma moratória de juros."
Na segunda-feira,
dia 25 de março, Seguro disse à Lusa que tinha voltado a escrever à troika,
dando a entender que a carta já tinha seguido para Bruxelas (CE), Frankfurt
(BCE) e Washington (FMI). Afinal, só hoje é que a última missiva do secretário-geral
do Partido Socialista terá seguido para o correio.
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