quinta-feira, 4 de abril de 2013

Portugal: SEGURO ESCREVE À TROIKA DE DOIS EM DOIS MESES




Carlos Abreu - Expresso

Na era das redes sociais e do "email", o líder do PS adotou a carta como meio de comunicação. A última que escreveu, para explicar à "troika" a moção de censura, fê-lo dia 25, mas só hoje a meteu no correio.

Desde de que foi eleito, em julho de 2011, o secretário-geral do Partido Socialista já enviou seis cartas à troika, a primeira das quais a 20 de fevereiro do ano passado, em que pediu baixa de impostos, e a última, escrita no dia 25 e só hoje enviada, para explicar as razões da moção de censura ao Governo.

A primeira missiva, tal como noticiou o Expresso, tinha nove páginas, todas rubricadas pelo secretário-geral do PS, e estava redigida em português e inglês. Foi entregue em mão pelo próprio Seguro à delegação da troika, em Lisboa.

No documento, o líder do PS "reitera a sua adesão à necessidade da disciplina, rigor orçamental e consolidação das contas públicas do nosso país", assegura que vai "continuar a adotar" este "posicionamento responsável", mas sublinha: "Tal não significa, para o PS, adesão às medidas que o atual Governo está a executar, nem identificação com a receita política e ideológica que está a ser aplicada." Os socialistas aproveitam o documento para insistir "na necessidade de Portugal obter mais um ano, no mínimo, para efetuar a consolidação das suas contas públicas".

Cerca de três meses depois, em maio de 2012, por ocasião da quarta revisão do programa de assistência financeira, segue nova carta, desta feita para os líderes da Comissão Europeia, Durão Barroso, Banco Central Europeu, Mário Draghi e Fundo Monetário Internacional, Christine Lagarde.

Em 50 páginas, Seguro propõe um "Plano Nacional de Emprego e Solidariedade, a ser suportado por fundos comunitários", "menos pressão sobre a banca" e a "redução de taxas para as empresas exportadoras ou que apostem em investigação e desenvolvimento", noticiou o "Sol. Dois meses depois ainda continuava sem resposta.

Dose dupla em setembro

Em setembro do ano passado, concluída a quinta avaliação, António José Seguro, voltou à carga e por duas vezes escreveu à troika.

Na primeira carta, entregue aos membros da missão conjunta do FMI, CE e BCE, no dia 5, escreveu: "É urgente uma mudança de políticas", incluindo o ano extra que foi concedido, "de modo a não arruinar a economia nacional e não provocar um caos social".

Na segunda, enviada a 21 de setembro, agora a Barroso, Draghi e Lagarde avalia a aplicação das medidas e alerta, segundo o "Público", para os riscos inerentes ao falhanço das metas definidas. "A situação de Portugal está longe das previsões do memorando da troika e a política prosseguida pelo Governo não está a produzir os resultados esperados", escreveu Seguro.

Os líderes da troika tiveram de esperar cinco meses para voltar a encontrar na caixa do correio mais uma carta do líder dos socialistas portugueses.

Na missiva enviada novamente a Barroso, Draghi e Lagarde, e divulgada na íntegra pelos media portugueses, Seguro começa assim: "Não é a primeira vez que lhe dirijo formalmente uma carta sobre as consequências para os portugueses do Programa de Ajustamento Económico e Financeiro de Portugal".

E prossegue: "Anteriormente fi-lo para dar conta da posição do Partido Socialista nas reuniões com os representantes da troika, reafirmando o nosso compromisso com os objetivos de consolidação orçamental mas alertando para a necessidade do Programa ser credível e ter em linha de conta com os impactos económicos e sociais da austeridade. Recordo que na carta remetida em setembro de 2012 chamava a atenção para o fracasso da tese da austeridade expansionista e referia uma situação de pré rutura social que aconselhava fortemente a uma reavaliação do modo de ajustamento."

Desta feita, os líderes da troika responderam e um assessor do primeiro-ministro para as questões económicas, Rudolfo Rebêlo, até simulou no Facebook a resposta de Christine Lagarde: "Meu caro Tozé Seguro, Agradeço sua missiva rececionada, aqui, em Washington, dando conta da sua predisposição em renegociar a reestruturação da dívida portuguesa, uma baixa na taxa dos juros e mesmo uma moratória de juros."

Na segunda-feira, dia 25 de março, Seguro disse à Lusa que tinha voltado a escrever à troika, dando a entender que a carta já tinha seguido para Bruxelas (CE), Frankfurt (BCE) e Washington (FMI). Afinal, só hoje é que a última missiva do secretário-geral do Partido Socialista terá seguido para o correio.

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