Liliana Valente com
Rita Tavares – Jornal i
PS assume que quer
novo governo. CDS deixa PSD a defender sozinho o governo
A moção de censura
do PS foi ontem rejeitada pela maioria PSD/CDS, que dramatizou a ruptura com os
socialistas falando em “instabilidade política” e num segundo resgate caso o
governo caísse. Mas na defesa do executivo, os tons e o empenho foram a dois níveis:
o PSD assumiu quase sozinho o ataque ao PS, consumando a ruptura, com o CDS em
silêncio nas perguntas a António José Seguro. Paulo Portas assumiu as
diferenças de tom ao ser o único a falar na necessidade de “diálogo” e de
“consenso”.
À partida para o
debate da moção de censura já era certo o seu destino, iria ser chumbada pela
maioria, mas mesmo assim, Passos Coelho e o PSD optaram por uma estratégia de
questionar o PS sobre as consequências para o país de um cenário de
“instabilidade política” caso a moção de censura fosse aprovada. Instabilidade
interna e consequências para a credibilidade externa e confiança dos credores e
dos mercados numa altura crucial para o país, foi esta a narrativa seguida pelo
primeiro-ministro que seria seguida pelos deputados do PSD e no final por Paulo
Portas. “Por que razão decide o PS criar, então, um clima de instabilidade
política e de divergência face ao exterior que é prejudicial ao bom resultado
que precisamos de obter para Portugal?,” questionou Passos.
António José Seguro
tinha sido claro nas palavras na intervenção de abertura: o objectivo do PS era
o de derrubar o governo por via de eleições para poder despontar “a primavera
política”, porque “permitir que este governo permaneça em funções por mais dois
anos seria um pesadelo brutal”. Ou seja, sintetizou, “livrar os portugueses
deste governo tornou-se num imperativo nacional”. Ontem, com todas as letras, o
líder socialista assumiu a intenção: “O PS assume com clareza a
responsabilidade política de querer liderar o novo governo de Portugal”.
Mas o governo
adia-lhe o plano e recusa sair quando ainda não fez dois anos. Esse “timing”
dos socialistas foi aliás um dos pontos mais criticados quer por Passos Coelho
quer por Paulo Portas que ficou responsável pela defesa do governo no final do
debate. O ministro dos Negócios Estrangeiros apontou cinco “fragilidades” à
moção de censura dos socialistas em tom de pergunta e de “lamento” - entre elas
o momento, tendo em conta que o executivo está a negociar o alargamento das maturidades
- e pediu ao PS para não levar longe demais o tom de “crispação” e a “ruptura
política”: “Vale a pena não levar longe de mais esta ideia da ruptura
definitiva quando Portugal ainda está sob protectorado. Precisamos mais de
consenso do que divisão, precisamos mais de soluções do que de moções”, disse.
Além do momento
que, segundo Portas só pode ter sido escolhido “por lapso e ingenuidade”, o
líder do CDS apontou como segunda fragilidade as consequências: “Está
consciente que a queda do governo levaria a um segundo resgate?”, questionou.
Como terceira fragilidade, Paulo Portas lembrou que o PS enviou uma carta à
troika, mas que internamente não tem alternativas (ver pág 4-5) e que, como o
país ainda está sob assitência, as instâncias internacionais podiam pedir ao
PS, como antes pediram ao PSD e ao CDS, uma “carta de conforto” e que por isso
se coloca a pergunta: “Para que serviriam as eleições?”. O líder do CDS não
terminou sem antes dizer que o PS está equivocado na leitura europeia que faz,
dizendo que “é muito simplista pensar que basta derrubar o governo, propor o
líder do PS como primeiro-ministro e como que por magia a Europa dá a Portugal
mais do que já conseguimos”. E por fim, o ministro recuperou a ideia que tinha
deixado num debate no início de Março de que é necessário o “diálogo”, mais que
não seja durante o “protectorado”.
O ministro foi,
aliás, o único a falar nessa necessidade até porque para o restante governo e
para o PSD a ruptura com os socialistas foi ontem consumada. Não o escondeu
Passos Coelho que, no discurso de abertura, qualificou de “espantosa”,
“perversa” e “injustificada” a moção de censura, que, disse, mostra a
preferência dos socialistas “pelo calendário partidário”, tal como não o
escondeu Luís Montenegro. O líder parlamentar do PSD fez um discurso mais
agressivo ao dizer que “o PS baixou de divisão. Auto-despromoveu-se” colando-o
ao BE e PCP. A intervenção de Montenegro mostrou ainda a estratégia de colar a
actual direcção do PS ao governo de José Sócrates, numa altura em que o
ex-primeiro-ministro vai iniciar os seus comentários. “Censuro, logo contenho o
complexo do passado que voltou”, ironizou. Uma crítica que teve resposta do
ex-líder parlamentar do PS Francisco Assis que defendeu o passado dizendo que
“orgulha” os socialistas.
COLIGAÇÃO
Às
acusações de instabilidade política provocada pela moção, Seguro respondeu com
a situação da coligação: “Olhe para o seu lado esquerdo - para o dr. Paulo Portas
- e de certeza que encontra instabilidade política. Desde Setembro que vive
instabilidade entre os dois partidos.” Passos Coelho recusou a instabilidade
dizendo que a maioria “está mais unida que o PS, que é um só partido”. Certo é
que até à intervenção de Portas, o CDS deixou o PSD sozinho no ataque ao PS e
apenas intervieram dois deputados, Nuno Magalhães e João Almeida, que
questionaram membros do governo. O silêncio do CDS não passou despercebido aos
socialistas com Carlos Zorrinho, líder parlamentar do PS, a dizer que o CDS “é
uma espécie de partido bailarino, ora dentro ora fora”.
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