Pacheco Pereira - Abrupto
O MATERIAL TEM
SEMPRE RAZÃO (3)
O tom revanchista
que o governo e os seus defensores assumem depois da decisão do Tribunal
Constitucional , - do género "ai não quiseram isto, pois vão levar com
muito mais", - mostra o carácter punitivo que está presente na política da
coligação desde o início. A cada revés, e todas as semans há um grave revés,
vêm novas ameaças e castigos, em vez de admissão de erros e inversão de
caminhos. Como este tom punitivo é dos que melhor "comunica" com toda
a gente, mesmo sem precisar de agências nem assessores, o governo está mais uma
vez a semear ventos e a colher tempestades.
O MATERIAL TEM
SEMPRE RAZÃO (4)
O número de artigos
e notas em blogues que começam com “a decisão do Tribunal Constitucional fez e
aconteceu….” representam um sucesso do pensamento único governamental. Na
verdade, deviam começar com “a política do governo fez e aconteceu…” Isto,
porque a decisão do Tribunal Constitucional é que é a normalidade e a lei, e a
política do governo é que é a anormalidade e a ilegalidade. A decisão do
Tribunal Constitucional representa uma consequência da política do governo, das
escolhas do governo, da incapacidade do governo de encontrar políticas de
contenção orçamental que não passem pela violação da lei e pelo afrontamento da
Constituição.
Mais: o caminho
seguido pelo governo para o objectivo de cumprimento do memorando da troika é
que põe em causa esse cumprimento, porque não teve em conta qualquer
preocupação em salvar um quantum da economia nacional, desprezou os
efeitos sociais do “ir para além da troika”, não deu importância a qualquer
entendimento social e político, vital em momentos de crise. Foi um caminho de
pura engenharia social, económica e política, prosseguido com arrogância por
uma mistura de técnicos alcandorados à infalibilidade com políticos de aviário,
órfãos de cultura e pensamento, permeáveis a que os interesses instalados
definissem os limites da sua política. Quiseram servir os poderosos com um
imenso complexo de inferioridade social, e mostraram sempre (mostrou-o de novo
o primeiro-ministro ontem), um revanchismo agressivo com os mais fracos.
Pensaram sempre em
atacar salários, pensões, reformas, rendimentos individuais e das famílias,
serviços públicos para os mais necessitados e nunca em rendas estatais,
contratos leoninos, interesses da banca, abusos e cartéis das grandes empresas.
Pode-se dizer que fizeram uma escolha entre duas opções, mas a verdade é que
nunca houve opção: vieram para fazer o que fizeram, vieram para fazer o que
estão a fazer.
O MATERIAL TEM
SEMPRE RAZÃO (5)
Há várias
coisas que nunca se devem esquecer: esta gente é vingativa e não se importa de
estragar tudo à sua volta para parecer que tem razão. Já nem sequer é por
convicção, é por vaidade e imagem.
Outra coisa, ainda
mais complicada, que também não deve ser esquecida: o governo considera
bem-vindas as ameaças da troika. São a chantagem que precisam, pedem e
combinam. Não são uma voz alheia, nem dos "credores", nem da troika,
nem de ninguém, são o auto falante agressivo que o governo necessita para tornar
a sua política inquestionável e servir de ameaça a todas as críticas.
E por último, e não
é de menos, esta gente é perigosa e, na agonia, muito mais perigosa ainda.
(A propósito do
despacho do ministro Vítor Gaspar de 8 de Abril que pára o funcionamento do
estado português, atribuindo essa decisão ao Tribunal Constitucional. O governo
entrou numa guerra institucional dentro do estado, em colaboração com a troika,
para abrir caminho a políticas de duvidosa legalidade e legitimidade baseadas
no relatório que fez em conjunto com o FMI. Não conheço nenhum motivo mais
forte e justificado para a dissolução da Assembleia da República por parte do
Presidente do que este acto revanchista contra os portugueses.)
Sem comentários:
Enviar um comentário