Deutsche Welle
No passado, quem
fosse encontrado em locais públicos da província angolana a ler ou vender
jornais privados, que não estavam sobre o controlo do regime, era preso e
acusado de conspiração contra a segurança do Estado.
A província do
Huambo, situada no centro-sul de Angola continua a ser considerada uma das
piores infractoras da liberdade de expressão e de imprensa. Por exemplo, há
cerca de três anos, não podiam ser lidos nem vendidos, nas ruas ou em qualquer
local público da cidade do Huambo, jornais privados, por veicularem
informações consideradas incómodas ao poder político.
Um indivíduo que fosse encontrado a ler um jornal privado, era imediatamente
recolhido à prisão por agentes da Polícia Nacional ou pelos operativos dos
serviços secretos, sob alegação de tentarem conspirar contra a segurança do
Estado. Devido ao clima de intimidação e desconfiança que se vivia naquela
província, os dirigentes do MPLA e do seu governo - e não só - optavam por ler
os referidos jornais na calada da noite.
Ainda há medo de
comprar e vender jornais
Um habitante do
bairro Bela Vista, Domingos Gomes, conta que, em 2006, foi interpelado por
indivíduos à paisana que lhe rasgaram um jornal que lia na rua. "Um dia
estava a ler o 'Folha 8' e alguns indivíduos, vestidos à civil,
interpelaram-me, rasgaram-me o jornal e chamaram-me à atenção para que não o
voltasse a ler. Da próxima vez iria preso", recorda.
Januário Castilho,
um dos poucos jornaleiros da cidade do Huambo, conta que, apesar de nunca ter
sofrido nenhuma agressão física, facto é que, em algumas áreas, ainda é
impossível vender jornais privados. "Os nossos clientes, quando passamos
nestes sítios, especialmente em locais do governo, ainda têm receio de
comprar", afirma, explicando que, outros, "têm medo, dizem que não
podemos colocar um jornal que não tenha a cara do Presidente da
República".
"Pessoas temem
represálias", diz jornalista
Actualmente, apesar da província do Huambo ser considerada uma zona perigosa
para o exercício da actividade jornalística, as autoridades tendem a demostrar
uma certa abertura. O correspondente da Rádio Despertar, Alberto Malaquias,
afirma isso mesmo, mas adianta que o quadro "passou de restrições
institucionais para restrições psicológicas".
"As próprias
pessoas temem represálias. Não consta que alguém tivesse sido apanhado e levado
para a prisão por ter lido um jornal privado mas, depois do tempo em que este
direito foi restringido, as pessoas agora sentem-se psicologicamente manietadas
quando exercem este direito de estarem informadas".
"Há alguns anos atrás, era impensável haver jornais na rua, porque a
própria segurança do Estado não o permitia, confiscava-os. Houve pessoas que
foram parar às cadeias por causa da venda de jornais", conta o jornalista
da Rádio Despertar. Alberto Malaquias considera que a mudança de comportamento
das autoridades tem muito a ver com as dinâmicas e o amadurecimento das
sociedades. "Toda essa dinâmica desemboca nessa necessidade de informação",
conclui.
Angola é o pior
colocado no Índice da Liberdade de Imprensa
De acordo com o Índice de Liberdade de Imprensa,divulgado esta sexta-feira
(3.05)
pela organização
Repórteres Sem Fronteiras (RSF), Angola é o país lusófono com a pior
classificação, surgindo na posição 130, apesar de ter subido duas posições em
relação à tabela do ano passado.
Brasil,
Guiné-Bissau e Cabo Verde são países lusófonos que sofreram uma grande queda. O
Brasil passou da 58ª posição em 2010 para o lugar 99 em 2011/2012, ocupando
agora a 108ª posição. A Guiné-Bissau caiu drasticamente no Índice da Repórteres
Sem Fronteiras, perdendo 17 posições, ocupando o 92º lugar. Mesmo tendo descido
16 posições no índice e ocupando a 25ª posição, Cabo Verde, juntamente com o
Gana (30º), são os países africanos melhor colocados na tabela da RSF.
Moçambique ocupa a
posição 73 e Timor-Leste também sofreu uma queda, perdendo quatro posições, ocupando
o lugar 90. Já Portugal subiu cinco lugares na lista anual dos países com maior
liberdade de imprensa, passando para a 28ª posição.
Sem comentários:
Enviar um comentário