AYAC – APN - Lusa
Chimoio, 22 mai
(Lusa) - Duas mulheres moçambicanas queixam-se de terem sido
"forçadas" a retirar os seus apelidos dos documentos de
identificação, alegadamente por coincidirem com o do líder da oposição da
Resistência Nacional de Moçambique (Renamo).
As irmãs, de 22 e
27 anos, de idade disseram à Lusa que foram "obrigadas a apagar" com
uma lâmina das suas certidões o apelido Marceta, que herdaram do bisavó
paterno, quando procuravam renovar seus Bilhetes de Identidade (BI) nos
serviços de identificação de Chimoio, no centro de Moçambique.
"Primeiro, foi
comigo, quando fui obrigada a comprar a lâmina e a raspar o meu apelido. Há
duas semanas, a mesma coisa aconteceu com a minha irmã, supostamente por o nome
ser igual ao do líder da oposição", disse à Lusa uma das mulheres, falando
na condição de anonimato.
Afonso Macacho
Marceta Dhlakama é o histórico líder da Renamo, dirigindo o principal partido
da oposição em Moçambique desde 1979.
A irmã mais velha,
disse, já havia sido "coagida" a riscar o seu apelido em 2006, mas o
processo acabou queimado, num incidente ocorrido no arquivo local dos Serviços
de Identificação Civil.
Contudo, em
novembro de 2009 voltou a ser confrontada com o mesmo problema, e, três meses
depois, diz, foi-lhe entregue o BI com apenas dois nomes, sem o apelido
Marceta. Em maio deste ano, a mais nova "sofreu a mesma pressão".
"Isso é
chocante. É jogar a minha autoestima para o ar, porque desde criança éramos
tratados com este nome, que até me identifica com outros familiares, para hoje
ser cortado nos documentos", deplorou, assegurando não ter nenhuma ligação
familiar com o líder da Renamo.
Em declarações hoje
à Lusa, Natália Raul, chefe provincial dos Serviços de Identificação Civil de
Manica, assegurou não ser possível "um erro desses", devido à
complexidade dos procedimentos para a aquisição de um BI.
"Quando chega
um pedido, passa pela triagem, depois, a compra e preenchimento do formulário e
segue para o cadastro, onde será emitido o relatório que é assinado (pelo
requerente) e termina na validação. Não vejo como teremos mandado forjar as
certidões", disse Natália Raul, que garante nunca ter recebido uma
reclamação do género.
Através dos nomes
das "vítimas" no arquivo digital da instituição não foi possível
apurar os dados sobre a "omissão e emissão" dos documentos, e não foi
permitido o acesso ao arquivo manual, para comparar os dados dos documentos no
arquivo.
"Não ocorreu e
nunca poderia ter ocorrido um caso desses", insistiu Natália Raul,
defendendo não haver na instituição "discriminação, racial, politica ou
religiosa".
"Cabe-nos
apenas atribuir documentos de identidade dentro dos requisitos estabelecidos
pela lei", concluiu.
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