Angola vive uma
insegurança política muito grave, diz o analista Nelson Pestana face às
repressões contra manifestantes e ao recrudescimento da violência partidária. O
líder da UNITA critica o uso excessivo de força.
A vigília da
passada segunda-feira (27.05) na capital angolana, Luanda, foi violentamente
reprimida pela polícia, que dispersou com o uso da força os manifestantes,
ferindo gravemente um deles. “Uma simples vigília no dia 27 foi brutalmente
reprimida e desmantelada com meios que levavam a crer que se estava a viver um
estado de sítio”, salienta o analista angolano Nelson Pestana.
A ação foi
convocada pelo movimento revolucionário para assinalar o primeiro ano do
desaparecimento de Alves Kamulingue e Isaías Cassule. Os dois ex-militares
desapareceram sem deixar rasto quando tentavam organizar uma manifestação de
outros ex-combatentes, para exigir o pagamento de subsídios em atraso.
Suspeita-se que as autoridades policiais estejam envolvidas no caso, embora estas
negem.
“Sinceramente
pergunto: porque é que se impede uma vigília? As pessoas vieram, caladinhas,
estavam aí quietinhos, não fizeram nada a ninguém. Porque é que se impede?”,
questionou Isaías Samakuva, o líder do maior partido da oposição angolana, a
União Nacional para a Independência Total de Angola (UNITA).
Abel Chivukuvuku,
líder da coligação Convergência Ampla de Salvação de Angola (CASA-CE), terceira
maior força política do país, também classificou como "inaceitável" a
violência policial na vigília de segunda-feira. “A CASA-CE deplora o caráter
autoritário do regime, que mais uma vez reagiu a direitos fundamentais dos
cidadãos, direitos de manifestação, com violência excessiva”, disse em
conferência de imprensa.
Num comunicado
enviado à agência de notícias portuguesa Lusa, o Comando Provincial da Polícia
Nacional em Luanda justificou que a sua atuação foi uma resposta às agressões
dos manifestantes, acrescentando que os manifestantes também não tinham
autorização para a vigília.
Crescem casos de
violência
Outro caso de
violência aconteceu na última semana no Huambo, depois de confrontos entre
militantes do Movimento pela Libertação de Angola (MPLA), partido no poder, e
da UNITA. Um membro da oposição foi morto e os bens do partido vandalizados.
Face ao
recrudescimento de casos de violência partidária e intimidações, Nelson Pestana
não tem dúvidas de que o país vive uma situação de insegurança política muito
grave e acredita que isso continuará. No entanto, “a população já não está
disposta a aceitar o clima de medo”, observa o analista, que acredita que cada
vez mais os angolanos vão reivindicar os seus direitos e quebrar o signo do
medo. “Vêm para a rua e nesse sentido são reprimidos pelas autoridades de
Huambo, particularmente pelo fanatismo do partido no poder. A polícia, por seu
lado, diz não ter suspeitas”, diz.
A contestação
acontece também nas capitais provinciais onde há uma apetência pelos direitos
de cidadania. De acordo com Pestana, os cidadãos têm dificuldades em afirmar os
seus direitos, porque o poder até hoje tem muita dificuldade em conviver com o
direito de manifestação.
Até onde podem ir
intimidações?
“A demonstração de
força feita pelo regime indicia de que está pronto a tudo se houver
manifestações que ponham em causa o poder autoritário do Presidente José
Eduardo dos Santos”, afirma Nelson Pestana.
O analista
considera que esse é “um sinal de que a ditadura está para ficar”. Por isso,
“não pode ser posta em causa através de reivindicações mesmo que ela tenha, do
ponto de vista do poder, uma aparência inocente de ser uma mera de vigília”,
argumenta.
A Alta Comissária
das Nações Unidas para os Direitos Humanos, Navi Pillay, esteve recentemente em
Angola e considerou que o país está no bom caminho no que se refere ao respeito
pelos direitos humanos. “Acho que essa declaração estava feita mesmo antes de ela
vir para Angola”, defende Nelson Pestana. “É verdade que ela deixou alguns
recados intra-muros, temos conhecimento disso, e se calhar não quis afrontar o
poder. E para continuar o diálogo fez a tal declaração. Mas de qualquer maneira
o poder não está no bom caminho, está no seu caminho”, conclui.
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