NME – VM - Lusa
Luanda, 29 mai
(Lusa) - Os relatos de uso de mão-de-obra infantil em Angola na construção
civil estão associados a empresas chinesas, cujos contratos baseados em
salários "verdadeiramente de miséria" são potenciados pela
inexistência de obrigações sociais e fiscais, denunciou fonte oficial.
A queixa é do
presidente da Associação Industrial de Angola (AIA), José Severino, e consta do
relatório final elaborado pelo gabinete de intercâmbio internacional do
Ministério da Administração Pública, Trabalho e Segurança Social de Angola e
pela Organização Internacional do Trabalho (OIT), relativo ao Seminário
Nacional sobre o Trabalho Infantil, realizado em abril.
O documento enviado
hoje à agência Lusa refere que é "claramente visível" em Angola o
envolvimento ilegal de mão-de-obra infantil na atividade extrativa de inertes,
na agricultura em pequena escala e na construção civil.
Segundo José
Severino, que apresentou no encontro o tema "O Papel dos Empregadores no
Combate ao Trabalho Infantil em Angola", é no ramo da construção civil em
que "infelizmente" está "massivamente incorporada", em
obras chinesas, a mão-de-obra infantil.
"Pois têm sido
pontos atrativos para mão-de-obra barata e de menores encargos fiscais,
contratando para o efeito crianças desprotegidas para a produção de blocos e
abobadilhas e outros materiais de construção", refere o documento.
Acrescenta ainda
que, "tais parâmetros de contratação chinesa baseados em salários
verdadeiramente de miséria e trabalhadores sem conhecerem os direitos que a lei
confere ou ainda sem capacidade de contestação ou o entusiasmo da criança por
realizar algum valor, são potenciados ainda mais pela inexistência de
obrigações sociais e fiscais".
Contudo, José
Severino reconheceu que em Angola ainda é baixo o índice de mão-de-obra
infantil, comparativamente a outros países.
Este baixo nível é
justificado, segundo o responsável, pela ainda incipiente atividade empresarial
nas vertentes agrícolas, com o fim da monocultura do café, a inexistência de
explorações agrícolas latifundiárias, com colheitas sazonais intensivas e
carentes de mão-de-obra em períodos curtos, como no algodão ou na fruticultura.
José Severino fez
referência também a um caso peculiar em Angola, onde algumas ocorrências de
trabalho infantil ilícito estão ligadas a crianças que se assumem
empreendedoras e contratam outras para trabalharem para si.
O responsável
associativo disse também que em Angola há poucos casos de denúncias públicas de
trabalho infantil, bem como dos casos tidos como graves ou abrangentes.
"Por se tratar
de trabalho ilícito ou mesmo criminoso, em casos mais deprimentes, os
operadores económicos nessa transgressão, perante os órgãos do Estado, não
apresentam ou escamoteiam dados desta componente da sua produtividade",
lê-se no relatório.
Por outro lado,
sublinha o documento que o "estágio de desenvolvimento da sociedade coíbe
decisões judiciais também contra empregadores, em geral suportados por lobbies.
Daí o imperativo da denúncia pública, muito em destaque quando envolvidas
empresas de renome, a coabitar ou não com entes oficiais".
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