Lázaro Mabunda – O País
(mz), opinião
Na verdade, estas
mortes eram evitáveis, mas não foram e não serão porque a arrogância do Governo
e de quem o lidera sobrepõem-se ao interesse nacional.
As ameaças da
Renamo e do seu presidente Afonso Dhlakama, sempre ignoradas,
materializaram-se, na semana passada. O resultado não podia ser mais do que
sete mortos e dezenas de feridos num espaço de três dias. O conflito que saldou
em mortos e feridos não preocupa, até aqui, o nosso Governo, muito menos o
Presidente da República, que o vê como um simples “jogo de tiros”. Por que
Guebuza e o seu governo vêem isto como uma brincadeira? Simplesmente porque
nenhum dos seus filhos nem dos filhos dos seus camaradas, com quem partilha o
poder, ficam directamente afectados com a situação.
O Governo deve
perceber que esta situação poderá degenerar em oportunismos por parte de
indivíduos mal-intencionados, o que irá colocar o país numa situação de
instabilidades crónica. Poderá criar condições para o surgimento de movimentos
sem rostos nem líderes, focos de oportunistas fustigados pelas más políticas
sociais e económicas do Governo, que resultam em pobreza, desemprego e
desigualdades sociais, em todo o país. Será mais difícil controlar grupos
dispersos de guerrilheiros cujos mandantes desconhecem-se. Quer dizer, o que
pode acontecer é o surgimento de grupos esporádicos de assaltantes à mão armada
em nome da Renamo, em todo o país. Até a própria polícia poderá fazer-o em
aproveitamento deste tipo de oportunidades, assaltando ou alugando armamento
aos assaltantes, tal como o faz hoje. Temos neste país grupos de pessoas que se
sentem injustiçados pelo Governo, nomeadamente madjermans, antigos agentes dos
Serviços de Informação e Segurança do Estado, desmobilizados que semanalmente
se manifestam e são violentamente reprimidos e molhados pelos jactos de água
das poderosas forças policiais. São 120 mil desmobilizados. Na verdade, estas
mortes eram evitáveis, mas não foram e não serão porque a arrogância do Governo
e de quem o lidera sobrepõem-se ao interesse nacional. Guebuza não pode pensar
que o seu antecessor, Joaquim Chissano, que se sentava e aturava, em alguns
momentos, os mimos de Afonso Dhlakama o fizesse porque era, conforme o
apelidou, “Deixar-andar”. Se Chissano o fez foi porque tinha a noção de que os
seus interesses particulares não podiam estar acima dos interesses de uma
nação. Chissano lucidamente sabia que uma nação não podia estar refém dos seus
apetites. É esta visão que falta ao nosso visionário e milagroso Presidente
Guebuza. O Presidente Guebuza tem de perceber que as causas da
frustração dos homens da Renamo, ao ponto de fazer refém o seu líder, Afonso
Dhlakama, são as mesmas que frustram a maioria dos moçambicanos: a exclusão
social, política, os aumentos do custo de vida num contexto em que a elite política
está cada vez mais a enriquecer e, acima de tudo, a marginalização dos membros
da oposição.
Guebuza diz que “o
povo não pode viver assustado”. Ora, este povo já vive assustado desde que
descobriu que a sua intenção nunca foi de colocar este país ao mesmo ritmo com
que se combatia a pobreza, antes de 2005, mas de empobrecer mais a população e
enriquecer mais a elite partidária. Mais, desde que descobriu que os nossos
governantes não “têm medo de enriquecer”, porque a “pobreza não é uma dádiva
divina”.
Os filhos dos
pobres não podem continuar a ser mortos por interesses apetitosos de uma elite
nefasta ao próprio povo que o elegeu.
Cada vez mais
convenço-me de que, de facto, é real a especulação de que Armando Guebuza quer
manter-se no poder, por mais anos, à custa de uma alegada crise
político-social. Os especuladores argumentam que Guebuza e Dhlakama irão
encenar uma crise política que vai resultar na suspensão da Constituição da
República e na criação de um governo de unidade nacional, liderado pelo actual
Chefe do Estado, até que as condições justifiquem a realização de eleições. A
descoberta dos recursos minerais e a ganância pelos mesmos podem conduzir-nos a
este cenário.
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