Pedro Tadeu – Diário de Notícias, opinião
Estava a pensar na
reunião do Conselho de Estado que ontem ocupou o Presidente da República.
Aceitando de barato a agenda tornada pública, mais ou menos validada por dois
membros da simpática sinecura que se dedicam à atividade bem mais lucrativa e
prestigiante do comentário político em canal televisivo de sinal aberto, ter-se-á
discutido o Portugal do pós-troika, o destino a dar ao pouco que sobrará da
chacina financeira em curso.
Para visionar esse
futuro, a um ano e picos de distância, se tudo correr como previsto - o que
seria extraordinário, pois nos últimos dois anos nada do que a troika e o
Governo programaram veio a acontecer, a não ser a espoliação generalizada dos
bens dos cidadãos - temos sentado numa das 19 cadeiras reservadas a cérebros da
Nação, aceites em Belém, um brilhante neurologista.
Estou a referir-me
a João Lobo Antunes, especialista em hipotálamo e hipófise. Esta glândula, não
sei se o leitor sabe, é uma das responsáveis pelo crescimento e secreção do
leite através das mamas.
Talvez seja essa a
última esperança de Cavaco Silva, talvez espere que dali venha uma ideia
qualquer para o País voltar a fornecer-se numa teta generosa, como fez cinco
séculos nas colónias e 25 anos na União Europeia.
A não ser esse
eventual milagroso contributo, muito duvidoso, não vejo nas competências dos
restantes conselheiros algo que possa motivar ao Presidente, em particular, e
ao cidadão, em geral, uma remota possibilidade de vislumbrar um futuro
qualquer, quanto mais um futuro melhor.
Talvez se um
astrólogo ocupasse uma daquelas cadeiras - no meio dos juristas, gestores,
militares, economistas, poetas, médicos e políticos que lá estão - essa
discussão sobre o futuro pudesse fazer algum sentido. Assim, trata-se de um
exercício teórico estimável mas certamente pueril.
(Aparte: não há um
único engenheiro no Conselho de Estado! Certamente não deve fazer falta ao
futuro ter ali alguém que saiba construir coisas que se vejam.)
Porque estou tão
cético? Bom, amanhã , dia 22 de maio de 2013, temos a certeza que ainda há
Governo? Temos a certeza que ainda há euro? E União Europeia? E já nem lhe
pergunto sobre o seu futuro pessoal, caro leitor ou leitora...
Dar palpites sobre
o pós-junho de 2014 é, hoje, face à realidade concreta, um ato grotesco, é
alimentar a ilusão de que estamos a resolver os problemas quando,
manifestamente, os agravamos. Essa ilusão, essa finta à realidade que o
Presidente e os conselheiros ontem, se mais nada se passou, exercitaram, não
serve o País, nem hoje nem no hipotético futuro.
Sem comentários:
Enviar um comentário