António Marinho
Pinto – Jornal de Notícias, opinião
A Assembleia da
República aprovou na passada sexta-feira uma lei que permite a chamada
co-adopção para casais do mesmo sexo e rejeitou dois projectos de lei - um que
eliminava a impossibilidade de adopção para esses mesmos casais e outro que
alargava as famílias com capacidade de adopção. O plenário da AR em que
ocorreram essas votações será lembrado com um dos raros momentos em que a
hipocrisia, o oportunismo e o cinismo se condensaram numa maioria parlamentar
de circunstância para aprovar uma lei injusta, iníqua, fraudulenta e
antidemocrática.
É injusta e iníqua
porque viola a essência da ideia de direito ao atribuir a alguns cidadãos
«direitos» que não estão na disponibilidade do legislador. Mas, pior do que
isso, para atribuir esses pseudo direitos a uns retira direitos fundamentais a
outros. Aqueles a quem atribui «direitos» são cidadãos com muita influência e
poder, que têm capacidade para, directamente ou por interpostas pessoas,
influenciar os centros de decisão política e aqueloutros a quem são retirados
direitos são crianças que não têm voz (nem votos). Elas têm apenas o silêncio
das suas tragédias pessoais.
Nenhum Parlamento
democrático devia poder retirar o direito de qualquer criança a formar a sua
identidade num quadro familiar (biológico ou adoptivo) em que estejam presentes
- bem presentes - as referências masculinas e femininas necessárias ao
desenvolvimento harmonioso da sua personalidade. Este é um direito fundamental
de qualquer criança que nenhuma lei justa poderá retirar. Assim como as leis
não atribuem direitos fundamentais - apenas os reconhecem - também os não podem
retirar.
É um exercício
primário de hipocrisia pretender que o projecto de lei aprovado quer
salvaguardar os direitos das crianças a quem tragédias diversas privaram dos
pais que as geraram. Não, esse diploma visa apenas salvaguardar pseudo direitos
(quase diria caprichos) de alguns adultos - e só isso. Ninguém tem o direito de
adoptar crianças. Estas é que têm do direito a serem adoptadas, mas apenas por
quem lhes possa proporcionar os referentes masculino e feminino correspondentes
ao homem e à mulher que as geraram.
Mas que importa
tudo isso quando as pessoas afectadas são crianças sem ninguém que defenda os
seus direitos ou sequer fale por elas? Que importância tem isso quando se trata
de crianças que nasceram na pobreza, na exclusão social ou então foram
atingidas por tragédias que destruíram as suas famílias naturais? Que importa
os direitos fundamentais (naturais) dessas crianças perante os direitos
artificiais de pessoas poderosas que ocupam lugares importantes no estado e na
sociedade? E, já agora, que respostas poderão os membros de um casal de homens
dar a uma miúda de dois, três ou mais anos, por eles adoptada, quando ela
começar a fazer aquelas perguntas a que só uma mulher sabe responder?
Infelizmente, como se vê, as cadeias partem sempre pelo elo mais fraco.
Mas o projecto de
lei aprovado não é só iníquo - ele promove também a fraude à lei, pois convida
a introduzir, como que envergonhadamente, pela porta das traseiras aquilo que
outra lei impede de entrar pela porta da frente. Diz-se em fraude à lei
qualquer conduta que vise atingir um fim legalmente não permitido, mas usando
caminhos diferentes dos que a lei previu e proibiu. Porém, o que nunca se tinha
visto é que seja a própria lei a incentivar à fraude. A partir de agora
qualquer casal homossexual poderá adoptar crianças desde que comece pela
adopção monoparental.
Finalmente esta lei
é antidemocrática porque a esmagadora maioria do povo português não concorda
com ela. O projecto de lei (cor)responde aos interesses hipócritas e
oportunistas da maioria circunstancial de iluminados que o aprovaram em
desrespeito pelos direitos naturais das crianças. A sua aprovação constitui
mais uma machadada na credibilidade do parlamento e dos deputados já que
desrespeita a vontade maioritária daqueles que este Parlamento diz representar
politicamente. A partir de agora, a tripla Coelho/Gaspar/Portas pode continuar
a fazer os seus desmandos com mais tranquilidade porque a esquerda perdeu toda
a legitimidade política para os acusar de desrespeitar a vontade popular.
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