Paulo Baldaia –
Diário de Notícias, opinião
O pós-troika (falta
um ano), num país a sério, é levado a sério e, por isso, o Conselho de Estado
convocado por Cavaco Silva é muito importante, mas o que este toca-a-reunir
parece mostrar é que o compromisso de Passos e Portas só tem validade até Junho
do próximo ano. E isto causa preocupação em Belém. Na verdade, o rigor das
contas e a austeridade são obrigatoriamente para manter, mas a estabilidade
política ameaça desaparecer a qualquer instante.
Nesse país a sério,
as pessoas não aceitam que um milhão não tenha trabalho e menos ainda aceitam
que quase meio milhão de desempregados não receba qualquer tipo de subsídio.
Por isso, era importante que os políticos de uma forma geral estivessem
totalmente focados nesse problema que se agravou com a intervenção datroika.
O pós-troika não
está nas mãos do Divino, mas o dia de amanhã, dia em que Cavaco reúne os seus
conselheiros, pode ser determinante. Basta para isso que os membros do Governo
fiquem a perceber que não podem gastar o seu poder de comunicação a dirimir
estados de alma dentro da coligação, porque o que importa é mobilizar a
sociedade para fazer um caminho que nos tire da crise. E que os senhores da
Oposição, que querem conquistar o poder prometendo tudo a toda a gente, deixem
de contribuir para o desgaste desse mesmo poder.
Num país a sério,
os credores impõem condições para emprestar mais dinheiro mas não ultrapassam
os limites, dizendo-nos a que horas temos de trabalhar, a que horas podemos
descansar e a que horas devemos comer. Nesse país, que não é o nosso, toda a
gente sabe que a melhor maneira de resolver os problemas pessoais é contribuir
para a solução do problema colectivo. E, nesse país, que não parece ser o
nosso, os partidos do arco da governabilidade estão juntos a pôr os pés à
parede, explicando aos senhores da troika que nós não capitulamos.
Lutamos até ao fim.
No pós-troika de
um país a sério é a verdade que conta. E a verdade, que assume diferentes
tonalidades dependendo do ângulo de onde a procuramos, deve obrigar-nos a
debater as causas do mal de que padecemos e a procurar as terapias que podemos
aplicar, garantindo que não tendo morrido da doença não morremos da cura.
A verdade é que não
geramos receitas suficientes para pagar todos os direitos adquiridos e, por
isso, temos de decidir o que queremos pagar. A verdade é que a distribuição de
riqueza continua a gerar flagrantes injustiças e, por isso, temos de elevar o
debate para construir uma sociedade mais justa e solidária.
Para mal de todos
os nossos pecados, agora e no pós-troika, os políticos vão continuar a
dizer-nos aquilo que queremos ouvir, porque sabem que lidamos muito mal com a
verdade.
Por decisão
pessoal, o autor do texto não escreve segundo o novo Acordo Ortográfico
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