Mário Soares – Diário
de Notícias, opinião
1- A Zona Euro
parece estar a mudar mesmo em relação à União Europeia. O eixo franco-alemão
está a voltar a impor-se. A Alemanha começa a perceber que as políticas de
austeridade que impôs aos Estados, considerados periféricos e preguiçosos (a
Grécia, a Irlanda e Portugal), que nunca o foram - tomara a Alemanha ter um
palmarés histórico como o desses Estados, e aqueles que estão também a ser
tocados gravemente pela crise, como a Espanha, a Itália, Chipre, a Holanda, e
ao que parece também a Suécia e a França -, têm-se revelado uma desgraça para a
própria Alemanha. Porquê? Porque deixaram de comprar as suas exportações, como
era inevitável. A Alemanha começa a estar em decadência e a chanceler Merkel
precisava encontrar um bode expiatório para explicar isso. Escolheu um, que
tanto a seguiu, mas que muda conforme os ventos que sopram: o nosso compatriota
Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. Em política a quem muda muito
de opiniões, segundo os ventos, mais tarde ou mais cedo acontece-lhe isto.
Então com esta Senhora Merkel, ex-comunista militante da ex-Alemanha de Leste,
que é, implacável, consoante os seus interesses político pessoais. Pobre Durão
Barroso, que muda com os ventos que sopram - é verdade - mas desta vez não
merecia ser tão mal tratado...
O importante é que
a chanceler Merkel está à procura de, pelo menos, atenuar a austeridade e lutar
por um governo da Zona Euro, como François Hollande lhe propôs. Quer melhor
economia e pretende mais emprego, para o tornar possível. E pensa que - cito -
"a Zona Euro não tem escolha e tem de se comparar aos melhores do
mundo" (vide Le Monde, de 1 de junho de 2013).
Além disso, também
enviou uns nazis - que voltavam a fazer estragos - para a cadeia. Já não era
sem tempo, porque deviam estar lá há muito.
Por outro lado,
começou a fazer uma distinção entre a Zona Euro, a importante, e os restantes
Estados da União Europeia. A Zona Euro vai passar a ser a joia da coroa, dando
agora, a chanceler, muito pouca importância aos outros Estados membros da União
Europeia, a começar pelo Reino Unido, que sempre viu a Europa apenas como um
espaço de livre câmbio, o que a Zona Euro nunca, evidentemente, quis ser.
Em 30 de maio
último, veja-se como tudo está a mudar, a Comissão Europeia decidiu levar o
Reino Unido ao Tribunal de Justiça Europeu pelas suas regras de má segurança
social. Imagine-se o que isso representa. A Europa da Zona Euro está a mudar
rapidamente. O nosso ministro das Finanças, Vítor Gaspar, tão fanático como é,
em termos de ideologia neoliberal, que se acautele. E note-se que não estou a
dizer porque tenha vontade que assim aconteça, mas tão só, pelo contrário, para
que não suceda, como patriota que sou...
A Zona Euro está,
pela força das coisas, a mudar aceleradamente. E Portugal, como é óbvio, não
pode deixar de acompanhar esta evolução.
2 - Portugal também
não
No dia 30 de maio,
à noite, na Aula Magna da Universidade de Lisboa, participei, com o magnífico
reitor, professor doutor Sampaio da Nóvoa, e uma série de promotores como os
representantes dos partidos da Esquerda Parlamentar: o PS, o PCP, o Bloco de
Esquerda e um membro ilustre do PSD, Pacheco Pereira, na linha política que foi
a do seu fundador, Sá Carneiro (que sempre considerou - e bem - o PSD como um partido
de Esquerda que só não entrou na Internacional Socialista porque o PS já lá
estava), os dirigentes das duas Centrais Sindicais, CGTP e UGT, num encontro
simbólico intitulado "Libertar Portugal da Austeridade".
Apesar de haver
greve de transportes, o encontro encheu completamente a Aula Magna, com mais de
dois mil e trezentos presentes - isto é, com uma assistência entusiástica, com
muitas personalidades conhecidas, militares ilustres, para além do presidente
da Associação 25 de Abril, Vasco Lourenço, eclesiásticos, como Frei Bento
Domingues, líderes de partidos sem representação parlamentar, economistas,
sociólogos, professores, advogados, médicos e sobretudo muito Povo e o que
resta da classe média...
O mais interessante
é que não houve um grito que não fosse para sublinhar com imenso entusiasmo
tudo o que se disse em favor da liberdade, da democracia e do Estado social.
Que o atual Governo procura destruir, vendendo aos poucos as nossas empresas, o
nosso património e sobretudo ignorando as portuguesas e os portugueses e
empobrecendo o País.
Não admira assim
que a esmagadora maioria dos portugueses odeiem o Governo, reclamem a sua
demissão, vaiem os ministros quando se atrevem a sair à rua e gritem contra o
Senhor Presidente da República quando diz que este Governo é legítimo. Haverá
em democracia governos legítimos contra a vontade popular? Só em democracias
que estão a deixar de o ser, como, infelizmente, está a acontecer com a nossa.
Note-se que o
Governo tem o plano de ignorar a Constituição da República e pela segunda vez
apresentou com arreganho ao Tribunal Constitucional dois orçamentos
anticonstitucionais.
Há dias, o Senhor
Primeiro-Ministro demitiu dois administradores sem consultar ninguém. Porque se
não demite ele próprio e os seus ministros, quando há dias foi à sua própria
terra, Vila Real, onde foi vaiado? É demais! Demita-se enquanto há tempo.
Sabe-se que terá, por enquanto, a proteção presidencial, mas seria melhor, para
todos, que o fizesse, antes que se tornem perigosos os tempos em mudança e não
venha a ser a própria troika a fazê-lo. Seria a máxima humilhação! Como se diz
nas passagens de nível dos caminhos-de-ferro (que o ministro da Economia, a
propósito do TGV, quer de novo que vá até Madrid): "pare, escute e
olhe" e eu acrescento: reflita, antes que seja tarde.
3 - A política e os
Partidos
Por múltiplas
razões, que um dia terão de ser analisadas a sério, a política, os políticos e
os partidos, independentemente das diferenças, entre eles, não merecem do Povo
boa reputação. Em grande parte porque os políticos se misturaram com os
negócios e em alguns casos utilizaram a política para subir na vida e os
partidos, sobretudo os do arco do poder, para lá chegar, fizeram o mesmo.
O patriotismo e o
verdadeiro amor à Pátria, desapareceram entre boa parte dos militantes dos
partidos, sobretudo entre os do chamado arco do poder com, felizmente, bastante
exceções. Mas não são as exceções que contam para o Povo. São os casos óbvios
da mistura entre políticos e negociantes, que são conhecidos, alguns até
chegaram a ser arguidos mas não obstante ficaram impunes, porque a nossa
Justiça se tornou não só lenta, como em alguns casos - bem conhecidos - fez
vista grossa...
Conclusão: é
necessário que os partidos mudem, se transformem, modernizem e que os seus
dirigentes e militantes não caiam na tentação de ganhar dinheiro, por via dos
negócios fáceis e ilícitos. Por seu lado, a Justiça tem de ser rápida -
sobretudo nos processos em que os negócios se confundem com as políticas - e os
magistrados e membros do Ministério Público percam a tentação de se exibir nos
órgãos de comunicação social, porque então aí perdem, ao contrário do que
alguns julgam, o prestígio e o respeito que lhes são devidos.
É claro que num
regime pluripartidário, como o nosso, é difícil que os partidos sejam isentos
da banca e dos negócios. Mas no estado a que os partidos chegaram, sobretudo os
do arco do poder, repito, é necessário que o façam para reganhar o prestígio
perdido, pelo Povo e pela gente honrada, que há ainda - e muita - felizmente.
Para tanto é
preciso que os partidos - sobretudo os seus dirigentes sejam impolutos, como
ainda há muitos, felizmente. A política é uma atividade muito nobre e
importante que tem de ser prestigiada pelos cidadãos, para ser eficaz. Mas para
isso tem de ser reconhecida como tal e estar ao serviço do Povo. No entanto,
com o atual Governo, é impossível. Há que mudar rapidamente - não só em
Portugal, mas em toda a Zona Euro - como tenho a esperança que aconteça. Por
isso, me permito escrever estas linhas, com toda a isenção.
4- As catástrofes
naturais
Curiosamente têm
vindo a ocorrer quase por todos os continentes neste ano de 2013. Precisamente
quando se tem esquecido o problema da defesa do ambiente e, desde a sessão que
houve na Dinamarca, a comunicação social por toda a parte deixou de se ocupar
do problema, que está a tornar-se dramático nos diversos continentes, talvez
como nunca. Porquê? Porque a crise financeira e económica, que tem vindo a ser
também social, política e até ética ocupa todo o espaço da comunicação social
estrangeira e portuguesa?
E, no entanto, se
há problema que deve preocupar as pessoas conscientes de todos os continentes -
porque afeta todos os humanos, mulheres e homens - é a sobrevivência do nosso
planeta como um todo.
É preciso por isso
lutar de novo em todos os continentes pela problemática ambiental, na terra e
nos Oceanos, como nos ensinam, sem que sejam ouvidos os cientistas mais
respeitados.
Perante a urgência
deste magno problema, a crise financeira e económica - mas também política,
social e ética - não conta nada. O dinheiro para as pessoas que o não têm e
estão desesperadas, com fome, como há pela primeira vez na Europa desde o fim
da II Guerra Mundial. Não conta seguramente muito para os ricos - como acontece
com o nosso atual Governo, que tem sempre mostrado à saciedade que não são as
pessoas que contam mas tão só o dinheiro.
Mas o ambiente
devia contar - e muito - porque interessa a todos os humanos ricos e pobres.
Tem um Ministério do Ambiente junto aliás a alguns outros. Mas será que tem
feito alguma coisa que se veja ou oiça em defesa do ambiente? Que eu saiba
nada. Nem quanto aos oceanos, sendo nós uma zona marítima das maiores da
Europa, de que se fala muito, pelas suas riquezas submarinas, mas que se faça
algo de significativo, que eu saiba, nada. A não ser as universidades, como a
dos Açores e algumas outras no Continente, que se ocupam dos oceanos, mas às
quais o Governo não dá suficiente dinheiro, que tão necessário lhes é.
Assim vamos, como
se ensinava no tempo da Ditadura: "cantando e rindo." Sem fazer nada
em defesa do ambiente, tirando as exceções dos que continuam a trabalhar, em
consciência, sem qualquer ajuda do Governo...
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