Anabela Campos, Nova
Iorque - Expresso
"Há uma fadiga
da austeridade, que se começa a ver nas ruas, que pode tornar-se um
problema", afirmou o economista Nouriel Roubini, ontem na Bolsa de Nova
Iorque, no âmbito do Pan-European Days, um encontro onde estão presentes doze
empresas cotadas portuguesas e o secretário de Estado, Manuel Rodrigues.
"Portugal tem vindo a fazer as suas reformas estruturais, mas está a sofrer de fadiga da austeridade, e isso começa a ver-se nas ruas, e pode tornar-se um problema. O governo está a demonstrar vontade de prosseguir com as reformas mas, perante essa fadiga, temos de perceber o que vai ceder primeiro. Além disso, há que ver como evolui a Europa, ver se a Europa faz a sua parte, nomeadamente a Alemanha", afirmou ontem o economista que se tornou célebre por ter previsto a crise financeira de 2008.
Nouriel Roubini falava numa conferência em Wall Street no decorrer do Pan-European Days, um encontro onde estão presentes doze empresas cotadas portuguesas, o secretário de Estado, Manuel Rodrigues, e o IGCP, cujo objetivo é promover a economia portuguesa junto de investidores norte-americanos. Mostrar que Portugal já está numa inversão do ciclo e a caminho de crescimento é a principal mensagem que o secretário de Estado fez passar num evento de três dias, em Wall Street, onde estão presentes 60 empresas das quatro Bolsas da Euronext: Lisboa, Paris, Amesterdão e Bruxelas. Manuel Rodrigues tocou hoje o sino no arranque da sessão na Bolsa de Nova Iorque, acompanhado dos presidentes das bolsas europeias da Euronext.
O economista Nouriel Roubini, célebre por ter previsto a crise financeira de 2008, defendeu mais uma vez que a austeridade "tem sido terrível para a zona euro", apesar de reconhecer que a situação melhorou no último ano, especialmente depois de Mário Draghi, presidente do BCE, ter garantido que a Europa estava empenhada em fazer tudo para salvar o euro.
Roubini admite que
"a situação na Europa melhorou significativamente". "Há um ano
estávamos todos preocupados com o fim da zona euro, isso hoje já não
acontece", disse, enunciando vários motivos, entre os quais uma mudança de
discurso em Bruxelas e Berlim e o lançamento do Programa de Transações
Monetárias Diretas e do Mecanismo Europeu de Estabilização Financeira.
Roubini admite que "a austeridade é necessária", mas diz que o seu efeito recessivo tem de ser considerado e que os seus critérios de aplicação devem ser melhor definidos. "Muitas medidas de consolidação têm efeitos recessivos. As reformas estruturais, que são necessárias, também têm efeitos recessivos. Por isso, deve reduzir-se a austeridade fiscal quando se fazem reformas estruturais", explicou.
O economista chamou
a atenção para a possibilidade do excesso de liquidez, facilitada pelos bancos
centrais, poder vir a criar uma bolha nos mercados financeiros, por estar
permitir uma valorização acentuada dos ativos e desligada do desempenho da
economia real. "Este desequilíbrio não pode continuar para sempre. As
forças da gravidade económicas vão forçar uma correção (...) Ainda não existe uma
bolha financeira, mas se esta situação continuar, dentro de um, dois, três anos
há a possibilidade de um 'crash'", defendeu.
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