Folha 8 - edição
1146 de 15 junho 2013
José Eduardo dos
Santos diz, e bem, que se tudo não está bem no nosso país a culpa é da UNITA e
do colonialismo português. As chuvas alagam Luanda… a culpa é dos portugueses
que não criaram, antes da independência em 1975, um sistema de drenagem eficiente.
As infraestruturas foram destruídas porque a UNITA arrasou tudo o que podia.
Mas há, contudo,
coisas que o regime copiou do colonialismo português, dando-lhe até uma maior
eficiência. É o caso da recuperação, embora modernizada, da escravatura. E se
antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para
as roças do Norte, agora é o enxovalho de transportar pedras à cabeça para
ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”.
Há, no entanto,
coisas que é urgente copiar de Portugal e, sobretudo, pôr urgentemente em
prática. É certo que os portugueses não o fazem, mas isso não deve ser
impeditivo. Referimo-nos à tese de Eça de Queiroz para quem “os políticos e as
fraldas devem ser mudados frequentemente e pela mesma razão”.
E, já agora, bem
poderíamos adoptar as ideias de Guerra Junqueiro, deixando de ser – como os
portugueses - “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio,
fatalista e sonâmbulo, burro de carga, besta de nora, aguentando pauladas,
sacos de vergonhas, feixes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de
dentes, a energia dum coice, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir
as moscas”. Ou, ainda, deixarmos de ser um “povo em catalepsia ambulante, não
se lembrando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim,
que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciência
como que um lampejo misterioso da alma nacional, reflexo de astro em silêncio
escuro de lagoa morta”.
Isto porque o que
temos é “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não
discriminando já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter,
havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em pantomineiros
e sevandijas, capazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à
falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política sucedam,
entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosímeis”.
Acrescendo a tudo
isto “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de
quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação
unânime do País”.
Porque são cada vez
mais os angolanos que passam fome, ao regime já não basta dizer comam e calem,
mas apenas dizer calem-se.
Este MPLA é useiro
e vezeiro nas práticas de, à sombra de uma Constituição democrática, não
ouvir os interessados e só responder ao que lhe interessa. Os seus amigos são
bestiais, todos os outros são bestas.
Também é verdade,
diga-se em abono da mesma, que quando toca a ouvir todos aqueles que sabe estarem
de acordo, o governo não hesita e faz disso um emblema para a propaganda.
E têm razão. Para
quê ouvir os que são contra, os que têm opiniões diferentes? Sim para quê? Esse
é um luxo só utilizado nos Estados de Direito dos quais, cada vez mais, Angola
se afasta, se é que alguma vez esteve lá perto.
Se José Eduardo dos
Santos sabe que, sob a sua divina liderança, a sua equipa é dona da verdade,
não vê necessidade democrática de auscultar seja quem for. E faz muito bem. Só
assim Angola conseguirá aproximar-se cada vez mais dos mais evoluídos países como
a Coreia do Norte, por exemplo.
Se fosse possível
fazer uma entrevista mais íntima a José Eduardo dos Santos, certamente que ele
também diria: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus
cães e não aos pobres”.
Para além dos
milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para matar
a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães do presidente, uma minoria
privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e
mais, custe o que custar.
Quando alguém diz
isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o
sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível
definitivamente. Por cá há já muitas famílias de luto por haver gente que o
disse.
Mas, como dizia a
outro propósito Frei João Domingos, “não nos podemos calar mesmo que nos custe
a vida”. E é exactamente disso que o regime tem medo. Não arrepia caminho, mas
começa a tremer porque, até mesmo no seio do MPLA, há cada vez mais boa gente a
estar farta de tanta vilania.
Ao fim de trinta e
tal anos, o presidente foi eleito. Mentiu à grande e conseguiu comer de
cebolada os angolanos. Manda o bom senso que se pergunte: Como é possível aos
cidadãos acreditar num regime em que o presidente? Mas como o bom senso não enche
barriga…
Citando de novo, e
tantas vezes quantas forem preciso, Frei João Domingos, em Angola “muitos
governantes, gestores, administradores e similares têm grandes carros,
numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são aparentemente reluzentes
mas estão podres por dentro”.
Mas esses, apesar
de podres por dentro, continuam a viver à grande e à MPLA, enquanto o Povo se
prepara para morrer de fome ou de falta de assistência médica. O tempo em que
o mais importante, citando Agostinho Neto, era resolver os problemas do povo,
já lá vai. O actual MPLA preparou a vala-comum e o crónico presidente deu-lhe o
golpe de misericórdia.
Tal como muitos dos
políticos que integram o regime, Eduardo dos Santos continua a pensar, e o
que ele pensa é uma ordem, que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola.
1 comentário:
Progress is proof that hunger can be eliminated
FAO recognizes 38 countries for halving hunger, lauds regional and international support
16 June 2013, Rome - FAO Director-General José Graziano da Silva formally recognized 38 countries for reducing hunger by half well ahead of international targets for the year 2015.
During a high-level ceremony attended by several heads of state, 18 countries received diplomas for early achievement of targets set by both Millennium Development Goal 1 (MDG1) — to halve the proportion of hungry people by 2015 — plus the more stringent World Food Summit (WFS) goal of halving the absolute number of hungry people by 2015.
They are: Armenia, Azerbaijan, Cuba, Djibouti, Georgia, Ghana, Guyana, Kuwait, Kyrgyzstan, Nicaragua, Peru, Saint Vincent and the Grenadines, Samoa, Sao Tome and Principe, Thailand, Turkmenistan, Venezuela and Viet Nam.
Twenty countries received diplomas for meeting the MDG 1 target alone.
They are: Algeria, Angola, Bangladesh, Benin, Brazil, Cambodia, Cameroon, Chile, Dominican Republic, Fiji, Honduras, Indonesia, Jordan, Malawi, Maldives, Niger, Nigeria, Panama, Togo and Uruguay.
Recognition in both cases was based on hunger reductions achieved between 1990-92 and 2010-2012...
http://www.fao.org/news/story/en/item/178065/icode/
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