terça-feira, 18 de junho de 2013

Angola: OS CÃES DO PRESIDENTE E A MANJEDOURA DO PODER




Folha 8 - edição 1146 de 15 junho 2013

José Eduardo dos Santos diz, e bem, que se tudo não está bem no nos­so país a culpa é da UNITA e do colonialismo por­tuguês. As chuvas alagam Luanda… a culpa é dos por­tugueses que não criaram, antes da independência em 1975, um sistema de drenagem eficiente. As infraestruturas foram des­truídas porque a UNITA arrasou tudo o que podia.

Mas há, contudo, coisas que o regime copiou do colonialismo português, dando-lhe até uma maior eficiência. É o caso da re­cuperação, embora mo­dernizada, da escravatura. E se antes foi o tempo dos contratados e escravos ovimbundus ou bailundos irem para as roças do Nor­te, agora é o enxovalho de transportar pedras à cabe­ça para ter “peixe podre, fuba podre… e porrada se refilares”.

Há, no entanto, coisas que é urgente copiar de Portugal e, sobretudo, pôr urgentemente em prática. É certo que os portugue­ses não o fazem, mas isso não deve ser impeditivo. Referimo-nos à tese de Eça de Queiroz para quem “os políticos e as fraldas devem ser mudados fre­quentemente e pela mes­ma razão”.

E, já agora, bem podería­mos adoptar as ideias de Guerra Junqueiro, dei­xando de ser – como os portugueses - “um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo, bur­ro de carga, besta de nora, aguentando pauladas, sacos de vergonhas, fei­xes de misérias, sem uma rebelião, um mostrar de dentes, a energia dum coi­ce, pois que nem já com as orelhas é capaz de sacudir as moscas”. Ou, ainda, deixarmos de ser um “povo em catalep­sia ambulante, não se lem­brando nem donde vem, nem onde está, nem para onde vai; um povo, enfim, que eu adoro, porque sofre e é bom, e guarda ainda na noite da sua inconsciên­cia como que um lampejo misterioso da alma nacio­nal, reflexo de astro em silêncio escuro de lagoa morta”.

Isto porque o que temos é “uma burguesia, cívica e politicamente corrupta até à medula, não discriminan­do já o bem do mal, sem palavras, sem vergonha, sem carácter, havendo homens que, honrados na vida íntima, descambam na vida pública em panto­mineiros e sevandijas, ca­pazes de toda a veniaga e toda a infâmia, da mentira à falsificação, da violência ao roubo, donde provém que na política sucedam, entre a indiferença geral, escândalos monstruosos, absolutamente inverosí­meis”.

Acrescendo a tudo isto “um poder legislativo, esfregão de cozinha do executivo; este criado de quarto do moderador; e este, finalmente, tornado absoluto pela abdicação unânime do País”.

Porque são cada vez mais os angolanos que passam fome, ao regime já não bas­ta dizer comam e calem, mas apenas dizer calem­-se.

Este MPLA é useiro e ve­zeiro nas práticas de, à sombra de uma Consti­tuição democrática, não ouvir os interessados e só responder ao que lhe inte­ressa. Os seus amigos são bestiais, todos os outros são bestas.

Também é verdade, diga­-se em abono da mesma, que quando toca a ouvir todos aqueles que sabe es­tarem de acordo, o gover­no não hesita e faz disso um emblema para a propa­ganda.

E têm razão. Para quê ouvir os que são contra, os que têm opiniões diferentes? Sim para quê? Esse é um luxo só utilizado nos Esta­dos de Direito dos quais, cada vez mais, Angola se afasta, se é que alguma vez esteve lá perto.

Se José Eduardo dos San­tos sabe que, sob a sua divina liderança, a sua equipa é dona da verdade, não vê necessidade demo­crática de auscultar seja quem for. E faz muito bem. Só assim Angola consegui­rá aproximar-se cada vez mais dos mais evoluídos países como a Coreia do Norte, por exemplo.

Se fosse possível fazer uma entrevista mais ín­tima a José Eduardo dos Santos, certamente que ele também diria: “Durmo bem, como bem e o que restar no meu prato dou aos meus cães e não aos pobres”.

Para além dos milhões que legitimamente só se preocupam em encontrar alguma coisa para ma­tar a fome, nem que seja nos restos deixados pelos cães do presidente, uma minoria privilegiada só se preocupa em ter – com a preciosa ajuda do Governo - mais e mais, custe o que custar.

Quando alguém diz isto, e são cada vez menos a dizê-lo mas cada vez mais a pensá-lo, corre o sério risco de que os donos do poder o mandem calar, se possível definitivamente. Por cá há já muitas famílias de luto por haver gente que o disse.

Mas, como dizia a outro propósito Frei João Do­mingos, “não nos podemos calar mesmo que nos custe a vida”. E é exactamente disso que o regime tem medo. Não arrepia cami­nho, mas começa a tremer porque, até mesmo no seio do MPLA, há cada vez mais boa gente a estar farta de tanta vilania.

Ao fim de trinta e tal anos, o presidente foi eleito. Mentiu à grande e conse­guiu comer de cebolada os angolanos. Manda o bom senso que se pergunte: Como é possível aos cida­dãos acreditar num regime em que o presidente? Mas como o bom senso não en­che barriga…

Citando de novo, e tantas vezes quantas forem pre­ciso, Frei João Domingos, em Angola “muitos gover­nantes, gestores, adminis­tradores e similares têm grandes carros, numerosas amantes, muita riqueza roubada ao povo, são apa­rentemente reluzentes mas estão podres por dentro”.

Mas esses, apesar de po­dres por dentro, continu­am a viver à grande e à MPLA, enquanto o Povo se prepara para morrer de fome ou de falta de assis­tência médica. O tempo em que o mais importante, citando Agostinho Neto, era resolver os problemas do povo, já lá vai. O actual MPLA preparou a vala-co­mum e o crónico presidente deu-lhe o golpe de misericórdia.

Tal como muitos dos po­líticos que integram o re­gime, Eduardo dos Santos continua a pensar, e o que ele pensa é uma ordem, que Angola é o MPLA e o MPLA é Angola.

1 comentário:

Anónimo disse...



Progress is proof that hunger can be eliminated
FAO recognizes 38 countries for halving hunger, lauds regional and international support

16 June 2013, Rome - FAO Director-General José Graziano da Silva formally recognized 38 countries for reducing hunger by half well ahead of international targets for the year 2015.

During a high-level ceremony attended by several heads of state, 18 countries received diplomas for early achievement of targets set by both Millennium Development Goal 1 (MDG1) — to halve the proportion of hungry people by 2015 — plus the more stringent World Food Summit (WFS) goal of halving the absolute number of hungry people by 2015.

They are: Armenia, Azerbaijan, Cuba, Djibouti, Georgia, Ghana, Guyana, Kuwait, Kyrgyzstan, Nicaragua, Peru, Saint Vincent and the Grenadines, Samoa, Sao Tome and Principe, Thailand, Turkmenistan, Venezuela and Viet Nam.

Twenty countries received diplomas for meeting the MDG 1 target alone.

They are: Algeria, Angola, Bangladesh, Benin, Brazil, Cambodia, Cameroon, Chile, Dominican Republic, Fiji, Honduras, Indonesia, Jordan, Malawi, Maldives, Niger, Nigeria, Panama, Togo and Uruguay.

Recognition in both cases was based on hunger reductions achieved between 1990-92 and 2010-2012...

http://www.fao.org/news/story/en/item/178065/icode/

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