Manágua (Prensa
Latina) Nicarágua pode ser convertida em torno de poucos anos em um novo centro
de transporte e logística internacional, se der frutos o megaprojeto de canal
interoceânico através deste país com posição geográfica privilegiada.
A América Central
está no meio dos fluxos do comércio norte-sul e leste-oeste; então,
"achamos que é o lugar ideal" para outro enlace entre os oceanos
Atlântico e Pacífico, assegurou aqui o empresário chinês Wang Jing, à frente da
companhia concessionária.
Segundo cálculos
internacionais, no período 2011-2025 o comércio marítimo global crescerá no
meio de 40 por cento e um passo por este território, para grandes navios de
ônus, contribuiria substanciais poupanças em dias de navegação e custos
financeiros.
Hong Kong Nicaragua Canal Development Investment Co. (HKND Group) -com sede
naquela cidade da República Popular Chinesa e escritórios em Manágua-, observa
de maneira otimista sua participação no negócio, referiu o presidente e diretor
executivo da assinatura, Wang Jing.
"As tendências no comércio mundial e do transporte marítimo indicam que há
demanda por um novo canal. Nossa intenção é construir um projeto de estatura
mundial, desenvolvido de acordo com as melhores práticas internacionais",
declarou a empresa.
O acordo marco sobre a concessão foi subscrito nesta capital a 14 de junho pelo
presidente da República, Daniel Ortega, e o diretor à frente do consórcio.
Duas legislações aprovadas pelo Parlamento nicaraguense amparam o pacto, uma
primeira de caráter geral em julho de 2012 e a segunda, de 13 junho de 2013,
com o título de Lei Especial para a Infraestrutura e Transporte Nicaraguense
concernente ao Canal, Zona de Livre Comércio e Infraestrutura Associada.
HKND Group recebeu os direitos exclusivos sobre planejamento, desenho,
construção, funcionamento e gerenciamento do canal e outros investimentos
potenciais, entre elas portos, ferrovia, zonas francas em ambos litorais,
aeroportos e oleoduto com trajeto Caribe-Pacífico.
A julgamento de Wang Jing, é o início de um longo caminho para conseguir uma
infraestrutura "de alcance mundial que gere oportunidades econômicas,
sirva à comunidade do comércio mundial e também proteja o meio ambiente, o
patrimônio e a cultura de Nicarágua".
Especialistas e companhias de primeiro nível foram contratados para apoiar os
estudos sobre factibilidade meio ambiental, social, financeira e econômica e
tecnológica, confirmaram durante a rubrica do acordo.
Uma consultora global, especializada em análise sobre sustentabilidade -a
britânica Environmental Resources Management- valorizará de maneira
independente o impacto meio ambiental e social a fim de determinar a melhor
rota para o canal, cuja execução demoraria de cinco a 10 anos, assinalou Ronald
MacLean-Abaroa, porta-voz do HKND Group.
China Railway Construction Corp. levará a cabo a avaliação de viabilidade
inicial de acordo com regulares internacionais, técnicos, enquanto a firma
estadunidense McKinsey & Company proporcionará investigação e análise do
projeto, ilustraram no diálogo com Ortega, na Casa dos Povos.
Construir pela América Central um segundo canal, substancialmente maior que o
de Panamá ampliado, possui para HKND vantajosos fundamentos.
À altura de 2030, exemplificou, o volume das transações comerciais acessíveis
através do canal por este país terá aumentado 240 por cento em relação às
cifras atuais.
O valor total dos bens transportados pelos passos interoceânicos da Nicarágua e
Panamá poderia superar os 1,4 trilhão de dólares, estimou a entidade.
De acordo com a análise, o constante crescimento do comércio indica uma
possível saturação no Canal de Panamá dentro de 10 ou 15 anos, o que sugere
também a necessidade de uma rota complementar.
A respeito das prováveis poupanças, HKND adverte que para ir da cidade chinesa
de Shanghai a Baltimore, nos Estados Unidos, a futura rota encurtaria quatro
mil quilômetros de distância se se compara com a existente pelo Canal de Suez,
e 7.500 quilômetros no caso do Cabo de Boa Esperança, na África do Sul.
Tomando em conta os preços atuais do combustível, para um navio
porta-contêineres de tamanho médio, isto representaria uma poupança em viagem
-ida e volta- de um milhão de dólares, agregou a fonte.
Estimativas preliminares assinalam que o passo interoceânico terá capacidade
para captar o tráfico de 450 a 500 milhões de toneladas métricas anuais e
receber embarcações de até 250 mil toneladas, com mais de 400 metros de
longitude, 59 de largura e 22 de calado.
O secretário para Políticas Públicas da administração de Ortega, o doutor Paul
Oquist, indicou que o canal permitiria a Nicarágua praticamente dobrar seu
Produto Interno Bruto (PIB) de agora a 2018 e triplicar o emprego formal.
Em diálogo com deputados, confirmou que ainda está por se definir a rota
definitiva do canal, cujos estudos de factibilidade durarão mais de um ano.
Sem o canal, a curva de crescimento do PIB nacional estará no meio dos quatro
pontos percentuais durante os próximos anos, com 4,5 em 2014; 4,7 em 2015 e 4,9
em 2016, a partir de informações do Banco Central.
Com o início dos trabalhos investigativos e a execução de obras associadas à
via transoceânica, no próximo ano o PIB poderá registrar uma alta de 10,8 por
cento até localizar-se em 2016 em um aumento do 12,6 para depois estabilizar à
altura de 2018 em 9,5 a 10 por cento de crescimento, detalhou Oquist.
SOBERANIA DEFENDIDA
Nicarágua deu em concessão a construção e as futuras operações do canal; não
está privatizando seu território; ademais, o Estado participa como sócio e a
participação irá em ascensão conforme passe o tempo, aclarou o secretário para
Políticas Públicas.
Concluídos os estudos de factibilidad, nenhuma obra poderá ser executado até
receber a aprovação da comissão governamental estabelecida ao efeito pela lei
que promulgó o Parlamento o 13 de junho, comentou o servidor público.
Ademais, entregar a concessão por 100 anos à empresa chinesa HKND não apresenta
nenhuma dificuldade, pois quando se cumpram 50, o país será o proprietário do
51 por cento das ações, assinalou o vicecanciller Manuel Coronel Kautz, à
frente da Autoridade do Grande Canal.
Para o doutor Francisco Mayorga, representante de Nicarágua ante o Banco
Interamericano de Desenvolvimento, desde a assinatura da Independência em 1821,
esta nação jamais contou com outro documento de tanta transcendência como o
subscrito agora para a construção do canal.
O estudioso recordou que a conexão entre os oceanos Pacífico e Atlântico
constitui um sonho de velha data, que a inícios do século XX foi torpedeado por
interesses extraterritoriais.
O tratado Chamarro-Bryan, estabelecido em 1914, representou a assinatura de uma
hipoteca do território nacional a favor do governo dos Estados Unidos, para
impedir a execução aqui de um canal semelhante ao do Panamá, argumentou.
Mediante o poderio militar e econômico, obrigaram a Nicarágua a dizer: "eu
não vou fazer canal ao menos que o faça com Estados Unidos"; isto é, a
potência que acabava de fazer a infraestrutura pelo istmo panamenho, recordou.
Naqueles tempos, a obra tinha tanto valor comercial como militar, reforçou o
professor, mas com o atual aperfeiçoamento do armamento mundial, só possui
importância estritamente comercial e econômica, avaliou.
Dentro da história nacional, nunca houve outro episódio que, como resultado da
decisão de governo, marcasse um futuro diferente para a prosperidade e o
desenvolvimento, como sucedeu mediante a assinatura do acordo com HKND,
considerou.
A via interoceânico representará a transformação total do perfil da economia
nicaraguense, sustentada até o momento pelo setor agroindustrial, pois
dinamizará todos os ramos, entre elas construção, transporte, turismo, moradia
e comércio, apreciou.
A partir de 2007, sob a administração de Ortega, as exportações começaram a
crescer a razão de 20 por cento anual e passaram de menos de trilhão a quase
três trilhões de dólares em 2012, sem contar os rendimentos adicionais pela
atividade produtiva em zonas francas, expôs Mayorga.
No entanto, resulta imprescindível conferir maior celeridade ao crescimento do
PIB, a fim de contrarrestar a miséria, quando ainda hoje este território
classifica como o segundo mais empobrecido do hemisfério ocidental, depois do
Haiti, sustentou Ortega.
Ao dizer do mandatário, o povo nicaraguense conseguiu conquistar espaços
históricos para lutar pela soberania; mas para que se volte tangível e não seja
simplesmente um elemento de valor, resultam fundamentais promover também
fatores econômicos, sociais e produtivos.
Mais emprego, educação, saúde, bem-estar para as famílias, só assim se atingirá
a total e a definitiva independência, sublinhou o estadista.
Há vários conceitos claros aos olhos dos especialistas: a rota comercial
concebida aqui constitui uma necessidade para o mundo, é bom negócio e sua
execução resulta viável econômica e financeiramente, opinou Mayorga.
*Chefa da corresponsabilidade da Prensa Latina na Nicarágua.
arb/mjm/cc
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