Mussá Baldé, da agência Lusa
Bissau, 04 jun
(Lusa) - A comunidade islâmica da Guiné-Bissau manifestou-se preocupada com a
presença cada vez maior de muçulmanos xiitas e chama a atenção das autoridades
"para os riscos de conflitos" que estes poderão trazer ao país.
Recentemente uma
ONG islâmica, a Ajures, Associação Juvenil para a Reinserção Social, juntou, em
Bissau, num seminário, mais de 200 imãs e apeladores (sensibilizadores)
islâmicos para falar sobre a "crescente presença de xiitas na
Guiné-Bissau".
A Lusa falou com
alguns dos intervenientes, tendo o xeque Malam Djassi, da Ajures, dito que a
presença dos xiitas "pode trazer um conflito interno entre os
muçulmanos", pelo que apelou para uma intervenção das autoridades, ao
mesmo tempo que exortou para o reforço da sensibilização junto dos fiéis.
"Não temos
força para tirar esses elementos xiitas do nosso país, mas podemos chamar a
atenção do Estado, porque se um dia houver aqui uma carnificina entre os
muçulmanos seria mau para o nosso país", defendeu Malam Djassi, para quem
os seguidores do islamismo na Guiné-Bissau têm pouca informação sobre os
diferentes grupos islâmicas.
O imã Aliu Bodjan,
líder da principal mesquita de Bissau, enfatizou que a presença dos xiitas em
grande número em certos países traz sempre a instabilidade.
"Pedimos a Alá
para que isso não venha a acontecer no nosso país. Vejam o caso da Nigéria,
onde a seita Boko Haram faz aquelas atrocidades em nome do islão", disse
hoje o imã Bodjan, também em declarações à Lusa.
Para o imã Mamadu
Iaia Djaló, também da mesquita central de Bissau, o problema reside no facto de
os xiitas andarem a dar dinheiro às pessoas para que aestas diram "à sua
propaganda".
"Chegam a
pagar até 50 mil francos para atrair os fiéis, com alegação de que somos todos
muçulmanos, mas se for este o caso porque dão dinheiro aos fiéis?",
questionou o imã Iaia Djaló.
Este responsável
disse que o "perigo" da invasão dos xiitas se nota sobretudo em
países africanos ao sul do Saara aproveitando-se da pobreza da população. Iaia
Djaló enfatizou que os angariadores de fiéis "estão trabalhar a cabeça das
pessoas" para "coisas que ninguém sabe".
De acordo com os
líderes islâmicos guineenses, o terrorismo e o radicalismo islâmico são as
principais caraterísticas personificadas pelos xiitas, sublinhando que esses problemas
poderão chegar ao país.
Na Guiné-Bissau,
como em quase todos os países africanos, a maioria da comunidade islâmica
pratica a corrente sunita do islão.
O xeque Malam
Djassi explicou que a presença dos elementos xiitas na Guiné-Bissau já está a
trazer conflitos em certas zonas do país.
"Existem em
toda parte da Guiné-Bissau. Na região de Gabu (leste) construíram lá uma grande
mesquita. Há zonas em que já tiveram conflitos com a nossa gente e até foram
parar na polícia", disse Malam Djassi.
"Se entrares
no caminho deles e se um dia quiseres sair podes até ser morto por eles",
afirmou.
Os sunitas e os
xiitas são as duas principais correntes da religião islâmica, mas que se
diferenciam em relação ao profeta Maomé e sua descendência. Enquanto os sunitas
se consideram os sucessores diretos do profeta Maomé, os xiitas não concordam e
defendem que o profeta deveria ser Ali, genro do próprio Maomé.
Os sunitas
correspondem a 85% de fiéis da religião islâmica no mundo, com uma grande
maioria em países como Arábia Saudita, Egito e Indonésia. No entanto, os xiitas
predominam em países como Irão e Iraque.
MB // VM
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