Nuno Ribeiro – Público
– foto Miguel Manso
Em público, não
houve referências à privatização da TAP ou dos CTT
Em duas
intervenções de escassos minutos, foram definidos estilos e propósitos. Ao fim
desta tarde, em Belém, a Presidente Dilma Rousseff não se esqueceu onde estava
e desejou o fim da crise da Europa. O anfitrião Cavaco Silva prometeu os bons
ofícios de Portugal no relacionamento do Brasil e do Mercosul [Argentina,
Brasil, Paraguai, Uruguai e Venezuela] com a União Europeia, e alertou para as
potencialidades do nosso país ainda desconhecidas dos empresários brasileiros.
“O Brasil tem
sempre um olhar de preocupação na crise da Europa, a crise social e o
desemprego, desejamos que esteja mais próxima a retoma para os povos europeus”,
disse a Presidente brasileira. “Esta visita contribui para alertar os
empresários brasileiros para as potencialidades de Portugal”, admitiu o
Presidente da República.
Se Dilma mostrou
compreensão solidária para com as crises que afectam os países da Europa, a sua
intervenção sobre as relações entre Portugal e Brasil mostrou idêntica
acuidade. Não ficou pela “parceria estratégica” enunciada por Cavaco Silva e
ousou uma nova formulação: “Mudar de patamar no relacionamento.” Ou seja, ir
para além das trocas comerciais dos tradicionais produtos manufacturados, e
preferir novos produtos e de maior valor acrescentado.
Os exemplos a que a
Presidente brasileira recorreu são de negócios já em curso: a Embraer em Évora,
a Galp Energia nos campos petrolíferos brasileiros. E comentou, em tom muito
favorável, os acordos celebrados entre o Ministério de Ciência e Tecnologia
brasileiro e as autoridades de Portugal e Espanha responsáveis pelo Instituto
de Nanotecnologia de Braga. “São símbolos de um novo patamar”, insistiu. Neste
âmbito, concretizou, ainda, outras áreas de cooperação, as das indústrias
criativas de produção cultural.
Em público, não
houve pela Presidente nem nenhum dos seis ministros que a acompanharam durante
a visita de 48 horas a Lisboa qualquer referência à privatização da TAP ou dos
CTT. No entanto, os jornalistas brasileiros não escondiam o interesse sobre o
tema.
Na comitiva
presidencial brasileira, para além do chefe da diplomacia, António Patriota, da
ministra para a área da Comunicação Social, e dos titulares da Educação,
Cultura e Saúde, estava o responsável do Desenvolvimento e do Comércio Externo.
A agenda deste membro do Governo de Brasília não foi conhecida e os passos
divulgados de Dilma em Lisboa nada revelaram sobre o interesse de participar na
corrida à privatização da companhia aérea portuguesa. Ao fim da tarde, decorria
em São Bento o encontro com o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho. Por
motivos protocolares e de agenda – a seguir seguia-se a cerimónia da entrega do
Prémio Camões 2013 no Palácio de Queluz –, Dilma falou após o encontro com
Cavaco. Daí, a importância da definição do “novo patamar”, que defendeu com
exemplos para o relacionamento entre os dois países.
Entre as novas
oportunidades, o ministro da Educação brasileiro, Eloizio Marcadante, destacou
o aprofundamento da parceria no domínio aeroespacial. Foi esta tarde no
Ministério dos Negócios Estrangeiros, após a assinatura do reconhecimento dos
cursos de engenharia e arquitectura portugueses, que Marcadante apontou novos
caminhos, como a parceria também subscrita neste domingo para o centro Biocante
de Cantanhede. Aliás, foram estes os dois únicos documentos assinados no Âmbito
da visita da Presidente Dilma Rousseff. Os efeitos visíveis de dois dias de
jornada em Lisboa.
O ministro
brasileiro explicou que o desbloqueamento dos “engenheiros portugueses” no
Brasil tem uma lógica de mercado: por ano há a necessidade de 70 mil
engenheiros, enquanto o país forma 44 mil. “O acordo celebrado relativamente
aos títulos académicos significa o triunfo da persistência”, disse o ministro
de Estado e dos Negócios Estrangeiros. Paulo Portas não deixou de dar um recado
às ordens profissionais, apelando a que tenham um espírito idêntico aos dos
Governos português e brasileiros que levaram a uma solução.
Apesar da aridez
técnica dos discursos, uma característica aliás definidora da personalidade de
Dilma Rousseff, a Presidente brasileira surpreendeu: “Aqui, em Portugal, em
cada esquina a gente vê um parente”.
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