André Catueira, da
agência Lusa
Chimoio,
Moçambique, 01 jun (Lusa) - A maioria da população de Bassane, em Manica,
centro de Moçambique, passou a vida inteira sem conhecer água potável, mas
agora, graças a um furo, evita pedalar 30 quilómetros para chegar às lagoas e
riachos.
Segundo a líder
local, o único poço aberto nos anos 1990 em Bassane, embora com água salgada,
desabou em 2006 aquando da ocorrência de um sismo, fazendo com que os quase 14
mil habitantes da zona tivessem que voltar a percorrer grandes distâncias para
a busca de água.
"O problema de
água foi sempre um assunto sério. Depois de desabar o único furo em 2006, um
trator com tanque abastecia, mas também com água salubre, duas vezes por semana
a população", disse à Lusa Magret Chissano, a chefe da localidade de Bassane.
O assoreamento do
distrito de Machaze impediu que duas empresas chinesas conseguissem abrir furos
para abastecer com água potável a população de Bassane, matando o sonho de
muitos de poderem beber água incolor e sem sal.
Das 98 fontes
existentes em Machaze, apenas 57 funcionam para abastecer 105 mil habitantes, e
as longas filas, que, às vezes, obrigam a oito horas de espera para abastecer a
casa com água são motivo até para divórcios na localidade.
Um furo foi aberto
com sucesso em maio, com uma profundidade de 120 metros, que está a fazer
diferença a mil consumidores de povoados de Bassane, mas há população a
percorrer até 10 quilómetros para provar a "água verdadeiramente
potável".
"Duas empresas
chinesas com tecnologia de ponta não conseguiram abrir furos aqui. Eu abri três
furos, mas dois desabaram aos 80 e 90 metros de profundidade, porque o solo não
tem rocha. No terceiro furo, tivemos sucesso e há água limpa e não
salubre", disse Mário Pangaia, um empreiteiro nacional.
Dados do Governo
indicam que a taxa de uso de água potável no meio rural (onde vive 70% da
população) era de 30 por cento em 2008. O executivo estima que agora a água
potável chega a 54 por cento da população, mas as organizações da sociedade
civil colocam o número muito abaixo - menos de 40 por cento.
"Foi uma
sensação diferente beber essa água. Dá-me um paladar diferente, pois é limpa e
não é salgada, pode ser o fim de beber de lagoas, onde também cabritos,
galinhas e bois bebiam", disse à Lusa Salomão Muchanga, 63 anos, na
inauguração do sistema de abastecimento de água em Bassane.
O Inquérito
Demográfico e de Saúde (IDS) de 2011 a 1.195 agregados familiares em Manica
(13.964 no país), conduzido no meio urbano e rural, indica que o número de
agregados familiares que consome água potável em Moçambique duplicou nos
últimos nove anos, ao passar de 42,2 por cento em 2003 para 84,2 em 2011.
Os números sugerem
que Moçambique dificilmente atingirá o Objetivo de Desenvolvimento do Milénio
até 2015 no domínio de saneamento e água.
"Na componente
água, o distrito está a trabalhar, apesar das condições da região que são muito
difíceis, devido ao assoreamento. Continua um desafio levar água para zonas
mais complicadas", precisou Gabriel Machate, administrador de Machaze.
Por seu lado, a
governadora de Manica, Ana Comoane, disse à Lusa que "para colmatar o
défice de água potável, o governo está a alocar 25 bombas manuais, anualmente,
para cada distrito, para responder à procura de água potável pela
população".
AYAC – VM
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